sábado, 23 de janeiro de 2010

Outros outubros virão !

Nascemos em 1922 e trazemos marcadas as cicatrizes da experiência histórica de nossa classe, com seus erros e acertos, vitórias e derrotas, tragédias e alegrias. É com esta legitimidade e com a responsabilidade daqueles que lutam pelo futuro que apresentamos nossas opiniões e propostas aos trabalhadores brasileiros.

Os comunistas brasileiros, reunidos no Rio de Janeiro, nos dias 9 a 12 de outubro, no XIV Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB), avaliamos que o sistema capitalista é o principal inimigo da humanidade e que sua continuidade representa uma ameaça para a espécie humana. Por isso, resta-nos apenas uma saída: superar revolucionariamente o capitalismo e construir a sociedade socialista, como processo transitório para emancipação dos trabalhadores, na sociedade comunista.

Uma das principais manifestações dos limites históricos do capitalismo é a atual crise econômica mundial, que revelou de maneira profunda e didática todos os problemas estruturais desse sistema de exploração de um ser humano por outro: suas contradições, debilidades, capacidade destruidora de riqueza material e social e seu caráter de classe. Enquanto os governos capitalistas injetam trilhões de dólares para salvar os banqueiros e especuladores, os trabalhadores pagam a conta da crise com desemprego, retirada de direitos conquistados e aprofundamento da pobreza.

Mesmo feridos pela crise, os países imperialistas realizam uma grande ofensiva para tentar recuperar as taxas de lucro e conter o avanço dos processos de luta popular que vêm se realizando em várias partes do mundo. Promovem guerras contra os povos, como no Iraque e no Afeganistão, armam Israel para ameaçar a população da região e expulsar os palestinos de suas terras. Na América Latina, desenvolvem uma política de isolamento e sabotagem dos governos progressistas da região, com a reativação da IV Frota e a transformação da Colômbia numa grande base militar dos Estados Unidos. Toda essa estratégia visa a ameaçar Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e até mesmo países cujos governos não se dispõem a promover profundas mudanças sociais, como é o caso do Brasil, tudo para garantir o controle das extraordinárias riquezas do continente, entre elas o Pré-Sal, a Amazônia, a imensa biodiversidade e o Aquífero Guarani.

A escalada de violência do imperialismo contra os povos, agravada pela crise do capitalismo e por sua necessidade de saquear as riquezas naturais dos países periféricos e emergentes acentua a necessidade de os comunistas colocarmos na ordem do dia o exercício do internacionalismo proletário. Episódios recentes, como a tentativa de separatismo na Bolívia, os covardes crimes contra a humanidade na Faixa de Gaza, o golpe em Honduras, as ameaças ao Irã e à Coreia do Norte somam-se ao permanente bloqueio desumano a Cuba Socialista, a uma década de manobras com vistas à derrubada do governo antiimperialista na Venezuela e à ocupação do Iraque e do Afeganistão.

O PCB continuará no Brasil com sua consequente solidariedade aos povos em suas lutas contra o capital e o imperialismo, independentemente das formas que as circunstâncias determinem. O papel ímpar do PCB na solidariedade aos povos em luta se radica na sua independência política com relação ao governo brasileiro e na sua visão de mundo internacionalista proletária.

A crise demonstra de maneira cristalina a necessidade de os povos se contraporem à barbárie capitalista e buscarem alternativas para a construção de uma nova sociabilidade humana. Em todo o mundo, com destaque para a América Latina, os povos vêm resistindo e buscando construir projetos alternativos baseados na mobilização popular, procurando seguir o exemplo de luta da heróica Cuba, que ficará na história como um marco da resistência de um povo contra o imperialismo.

Nós, comunistas brasileiros, temos plena consciência das nossas imensas responsabilidades no processo de transformação que está se desenvolvendo na América Latina, não só pelo peso econômico que o Brasil representa para a região, mas também levando em conta que vivemos num país de dimensões continentais, onde reside o maior contingente da classe trabalhadora latino-americana. Consideramo-nos parte ativa desse processo de transformação e integrantes destemidos da luta pelo socialismo na América Latina e em todo o mundo.

Nesse cenário, o Estado brasileiro tem jogado papel decisivo no equilíbrio de forças continentais, mas na perspectiva da manutenção da ordem capitalista e não das mudanças no caminho do socialismo. Tendo como objetivo central a inserção do Brasil entre as potências capitalistas mundiais, o atual governo, em alguns episódios, contraria certos interesses do imperialismo estadunidense. No entanto, estas posturas pontualmente progressistas buscam criar um terceiro pólo de integração latino-americana, de natureza capitalista. Ou seja, nem ALCA, nem ALBA, mas sim a liderança de um bloco social-liberal, em aliança com países do Cone Sul, dirigidos por forças que se comportam também como uma "esquerda responsável", confiável aos olhos do imperialismo e das classes dominantes locais, contribuindo, na prática, para aprofundar o isolamento daqueles países que escolheram o caminho da mobilização popular e do enfrentamento.

O respaldo institucional a alguns governos mais à esquerda na América Latina tem sido funcional à expansão do capitalismo brasileiro, que se espalha por todo o continente, onde empresas com origem brasileira se comportam como qualquer multinacional. Como o objetivo central é a inserção do Brasil como potência capitalista, o governo Lula não hesita em adotar atitudes imperialistas, como comandar a ocupação do Haiti para garantir um golpe de direita, retaliar diplomaticamente o Equador para defender uma empreiteira brasileira ou promover exercícios militares com tiro real na fronteira com o Paraguai, para defender os latifundiários brasileiros da soja diante do movimento camponês do país vizinho e manter condições leoninas no Tratado de Itaipu.

O capitalismo brasileiro é parte do processo de acumulação mundial e integrante do sistema de poder imperialista no mundo, ressaltando-se que as classes dominantes brasileiras estão umbilicalmente ligadas ao capital internacional. A burguesia brasileira não disputa sua hegemonia com nenhum setor pré-capitalista. Pelo contrário: sua luta se volta fundamentalmente na disputa de espaços dentro da ordem do capital imperialista, ainda que se mantenha subordinada a esta, inclusive no sentido de evitar a possibilidade de um processo revolucionário, no qual o proletariado desponte como protagonista.

Apesar de ainda faltarem condições subjetivas - sobretudo no que se refere à organização popular e à contra-hegemonia ao capitalismo - entendemos que a sociedade brasileira está objetivamente madura para a construção de um projeto socialista: trata-se de um país em que o capitalismo se tornou um sistema completo, monopolista, capaz de produzir todos os bens e serviços para a população. Uma sociedade em que a estrutura de classes está bem definida: a burguesia detém a hegemonia econômica e política, o controle dos meios de comunicação e o aparato estatal, enquanto as relações assalariadas já são majoritárias e determinantes no sistema econômico. Formou-se, assim, um proletariado que se constitui na principal força para as transformações sociais no País.

Do ponto de vista político e institucional, o Brasil possui superestruturas tipicamente burguesas, em pleno funcionamento: existe um ordenamento jurídico estabelecido, reconhecido e legitimado, com instituições igualmente consolidadas nos diferentes campos do Estado, ou seja, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Formou-se também uma sociedade civil burguesa, enraizada e legitimada, que consolidou a hegemonia liberal burguesa, mediante um processo que se completa com poderosa hegemonia na informação, na organização do ensino, da cultura, elementos que aprimoram e fortalecem a dominação ideológica do capital no país.

Portanto, sob todos os aspectos, o ciclo burguês já está consolidado no Brasil. Estamos diante de uma formação social capitalista desenvolvida, terreno propício para a luta de classes aberta entre a burguesia e o proletariado. De um lado, está o bloco conservador burguês, formado pela aliança entre a burguesia monopolista associada ao capital estrangeiro e aliada ao imperialismo, a burguesia agrária com o monopólio da terra, a oligarquia financeira, com o monopólio das finanças, além de outras frações burguesas que permeiam o universo da dominação do capital.

Esta hegemonia do bloco conservador adquiriu maior legitimidade para implantar as políticas de governabilidade e governança necessárias à consolidação dos interesses do grande capital monopolista, com a captura de um setor político, representante da pequena burguesia e com ascendência sobre importante parte dos trabalhadores, uma vez que se tornava essencial neutralizar a resistência destes e das camadas populares, através da cooptação de parte de suas instituições e organizações.

Do outro lado, está o bloco proletário, hoje submetido à hegemonia passiva conservadora. Ainda que resistindo, encontra-se roubado de sua autonomia e independência política, acabando por servir de base de massa que sustenta e legitima uma política que não corresponde a seus reais interesses históricos. Constituído especialmente pela classe operária, principal instrumento da luta pelas transformações no país, pelo conjunto do proletariado da cidade e do campo, pelos movimentos populares e culturais anticapitalistas e antiimperialistas, por setores da pequena burguesia, da juventude, da intelectualidade e todos que queiram formar nas fileiras do bloco revolucionário do proletariado, em busca da construção de um processo para derrotar a burguesia e seus aliados e construir a sociedade socialista.

O cenário da luta de classes no âmbito mundial e suas manifestações em nosso continente latino-americano, o caráter do capitalismo monopolista brasileiro e sua profunda articulação com o sistema imperialista mundial, as características de nossa formação social como capitalista e monopolista, a hegemonia conservadora e sua legitimação pela aliança de classes de centro-direita, os resultados deste domínio sobre os trabalhadores e as massas populares no sentido da precarização da qualidade de vida, desemprego, crescente concentração da riqueza e flexibilização de direitos nos levam a afirmar que o caráter da luta de classes no Brasil inscreve a necessidade de uma ESTRATÉGIA SOCIALISTA.

São essas condições objetivas que nos permitem definir o caráter da revolução brasileira como socialista. Afirmar o caráter socialista da revolução significa dizer que as tarefas colocadas para o conjunto dos trabalhadores não podem ser realizadas pela burguesia brasileira, nem em aliança com ela. Estas tarefas só poderão ser cumpridas por um governo do Poder Popular, na direção do socialismo. O desenvolvimento das forças materiais do capitalismo no Brasil e no mundo permite já a satisfação das necessidades da população mundial, mas está em plena contradição com a forma das relações sociais burguesas que acumulam privadamente a riqueza socialmente produzida, cujo prosseguimento ameaça a produção social da vida, a natureza e a própria espécie humana.

A forma capitalista se tornou antagônica à vida humana. Para sobreviver, o capital ameaça a vida; portanto, para manter a humanidade devemos superar o capital. É chegada a hora, portanto, de criar as condições para a revolução socialista.

Nas condições de acirramento da luta de classes em nosso país, as lutas específicas se chocam com a lógica do capital. A luta pela terra não encontra mais como adversário o latifúndio tradicional, mas o monopólio capitalista da terra, expresso no agronegócio. A luta dos trabalhadores assalariados se choca com os interesses da burguesia, acostumada às taxas de lucros exorbitantes e à ditadura no interior das fábricas. A luta ecológica se choca com a depredação do meio ambiente, promovida pelo capital. As lutas dos jovens, das mulheres, dos negros, das comunidades quilombolas, índios, imigrantes e migrantes se chocam com a violência do mercado, seja na desigualdade de rendimentos, no acesso a serviços elementares, à cultura e ao ensino, porque o capital precisa transformar todas as necessidades materiais e simbólicas em mercadoria para manter a acumulação, ameaçando a vida e destruindo o meio ambiente.

A definição da estratégia da revolução como socialista não significa ausência de mediações políticas na luta concreta, nem é incompatível com as demandas imediatas dos trabalhadores. No entanto, a estratégia socialista determina o caráter da luta imediata e subordina a tática à estratégia e não o inverso, como formulam equivocadamente algumas organizações políticas e sociais. Pelo contrário, os problemas que afligem a população, como baixos salários, moradia precária, pobreza, miséria e fome, mercantilização do ensino e do atendimento à saúde, a violência urbana, a discriminação de gênero e etnia, são manifestações funcionais à ordem capitalista e à sociedade baseada na exploração. A lógica da inclusão subalterna e da cidadania rebaixada acaba por contribuir para a sobrevida do capital e a continuidade da opressão.

O que hoje impede a satisfação das necessidades mais elementares da vida em nosso país não é a falta de desenvolvimento do capitalismo. Pelo contrário, nossas carências são produto direto da lógica de desenvolvimento capitalista adotado há décadas sob o mesmo pretexto, de que nossos problemas seriam resolvidos pelo desenvolvimento da economia capitalista. Hoje, a perpetuação e o agravamento dos problemas que nos afligem, depois de gerações de desenvolvimento capitalista, são a prova de que este argumento é falso.

Portanto, nossa estratégia socialista ilumina a nossa tática, torna mais claro quem são nossos inimigos e os nossos aliados, permite identificar a cada momento os interesses dos trabalhadores e os da burguesia e entender como as diferentes forças políticas concretas agem no cenário imediato das lutas políticas e sociais. Esse posicionamento também busca sepultar as ilusões reformistas, que normalmente levam desorientação ao proletariado, e educá-lo no sentido de que só as transformações socialistas serão capazes de resolver os seus problemas.

No Brasil, nosso partido trabalha na perspectiva de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariado, como instrumento de aglutinação de forças políticas e sociais antiimperialistas e anticapitalistas para realizar as transformações necessárias à emancipação dos trabalhadores. Nosso objetivo é derrotar o bloco de classe burguês e seus aliados que, mesmo com disputas e diferenciações internas, impõem a hegemonia conservadora e buscam a todo custo desenvolver a economia de mercado, mantida a subordinação ao capital internacional, ao mesmo tempo em que afastam os trabalhadores da disputa política, impondo um modelo econômico concentrador de renda e ampliador da miséria, procurando permanentemente criminalizar os movimentos populares, a pobreza e todos aqueles que ousam se levantar contra a hegemonia do capital. Para consolidar o poder burguês e legitimá-lo, colocam toda a máquina do Estado a serviço do capital.

Por isso mesmo, não há nenhuma possibilidade de a burguesia monopolista, em todos seus setores e frações, participar de uma aliança que vá além do horizonte burguês e capitalista. Isso significa que a nossa política de aliança deve se materializar no campo proletário e popular. A aliança de classes capaz de constituir o Bloco Revolucionário do Proletariado deve fundamentalmente estar estruturada entre os trabalhadores urbanos e rurais, os setores médios proletarizados, setores da pequena burguesia, as massas trabalhadoras precarizadas em suas condições de vida e trabalho que compõem a superpopulação relativa. Isso significa que a nossa tática deve ser firme e ampla. Ao mesmo tempo em que não há alianças estratégicas com a burguesia, todo aquele que se colocar na luta concreta contra a ordem do capital será um aliado em nossa luta, da mesma forma que aqueles setores que se prestarem ao papel de serviçais subalternos da ordem, se colocarão no campo adversário e serão tratados como tal.

A principal mediação tática de nossa estratégia socialista é, portanto, a criação das condições que coloquem os trabalhadores em luta, a partir de suas demandas imediatas, na direção do confronto com as raízes que determinam as diferentes manifestações da exploração, da opressão e da injustiça, ou seja, a ordem capitalista.

Assim, estamos propondo e militando no sentido da formação de uma frente de caráter antiimperialista e anticapitalista, que não se confunda com mera coligação eleitoral. Uma frente que tenha como perspectiva a constituição do Bloco Revolucionário do Proletariado como um movimento rumo ao socialismo.

A constituição do proletariado como classe que almeja o poder político e procura ser dirigente de toda a sociedade é um projeto em construção e não existem fórmulas prontas para torná-lo efetivo politicamente. Como tudo em processo de formação, a constituição desse bloco exige que o PCB e seus aliados realizem um intenso processo de unidade de ação na luta social e política, de forma que cada organização estabeleça laços de confiança no projeto político e entre as próprias organizações.

Reafirmamos a necessidade da conformação da classe trabalhadora como classe e, portanto, enquanto partido político, não pela afirmação dogmática, arrogante e pretensiosa de conformação de vanguardas autoproclamadas, mas pela inadiável necessidade de contrapor à ordem do capital - unitária e organizada por seu Estado e cimentada na sociedade por sua hegemonia - uma alternativa de poder que seja capaz de emancipar toda a sociedade sob a direção dos trabalhadores.

Sabemos que este é um momento marcado por enorme fragmentação e dispersão das forças revolucionárias, que corresponde objetivamente ao momento de defensiva que se abateu sobre os trabalhadores, mas também acreditamos que, tão logo o proletariado se coloque em movimento, rompa com a passividade própria dos tempos de refluxo e inicie uma ação independente enquanto classe portadora de um projeto histórico, que é o socialismo, as condições para a unidade dos revolucionários serão novamente possíveis.

Desde o XIII Congresso, o PCB vem se mantendo na oposição independente ao governo Lula, por entender que este governo trabalha essencialmente para manter e fortalecer o capital, restando à população apenas algumas migalhas como compensação social, por meio de programas que canalizam votos institucionalizando a pobreza e subordinando a satisfação das necessidades sociais ao crescimento da economia capitalista, verdadeira prioridade do governo.

O governo atual se tem pautado pela cooptação de partidos políticos e movimento sociais, buscando amortecer e institucionalizar a luta de classes, desmobilizando e enfraquecendo os trabalhadores em sua luta contra o capital. As antigas organizações políticas e sociais, que nasceram no bojo das lutas do final dos anos 70, se transformaram em partidos e organizações da ordem, ainda que guardem referência sobre a classe e abriguem militantes que equivocadamente, alguns de maneira sincera, ainda procuram manter ou resgatar o que resta de postura de esquerda. Desta forma, estas organizações acabaram por perder a possibilidade histórica de realizar o processo de mudanças sociais no país. Transformaram-se em organizações chapa-branca, base de sustentação de um governo que, vindo do campo de esquerda, disputou as eleições com uma proposta de centro esquerda, construiu uma governabilidade de centro direita e acabou por implementar um projeto que corresponde, na essência, aos interesses do grande capital monopolista, aproximando-se muito mais de um social liberalismo do que de uma social democracia.

É necessária, por isso, uma reorganização dos movimentos populares, especialmente do movimento sindical. O PCB trabalhará pela reorganização do sindicalismo classista e pela unidade dos trabalhadores, através do fortalecimento de sua corrente Unidade Classista e da Intersindical (Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora), atuando nesta para recompor o campo político que a originou e ampliá-lo com outras forças classistas. A função principal da Intersindical é a de ser, a partir da organização e das lutas nos locais de trabalho, um espaço de articulação e unidade de ação do sindicalismo que se contrapõe ao capital, visando à construção, sem açodamento nem acordos de cúpula, de uma ampla e poderosa organização intersindical unitária, que esteja à altura das necessidades da luta de classes. Nesse sentido, o PCB reitera a proposta de convocação, no momento oportuno, do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), como consolidação deste processo de reorganização do movimento sindical classista.

Também iremos trabalhar com afinco para a reorganização do movimento juvenil, especialmente pelo resgate da União Nacional dos Estudantes como instrumento de luta e de ação política da juventude, como foi ao longo de sua história. Mas a reconstrução do movimento estudantil brasileiro não se dará através da mera disputa pelos aparelhos e cargos nas organizações estudantis, tais como a UNE, a UBES e demais. Será necessária a incisiva atuação dos comunistas nas entidades de base, nas escolas e universidades, para que o movimento estudantil retome sua ação protagonista nas lutas pela educação pública emancipadora e pela formação de uma universidade popular, capaz de produzir conhecimento a serviço da classe trabalhadora e contribuir para a consolidação da contra-hegemonia proletária. Ou seja, o movimento estudantil brasileiro precisa ser resgatado da sua letargia para assumir o papel de organizador da juventude que quer lutar e construir o socialismo no Brasil.

Procuraremos desenvolver também laços com todos os movimentos populares, na resistência cotidiana dos trabalhadores em seus bairros e locais de trabalho, de forma a estabelecermos uma relação mais estreita com a população pobre e os trabalhadores em geral, ajudando-os a se organizarem para a luta.

A luta pela terra no Brasil se choca diretamente com a ordem capitalista que deve ser enfrentada, não apenas para se garantir o acesso à terra mas para a mudança profunda do modelo de desenvolvimento agrícola contra a lógica mercantil, monopolista e imperialista do agronegócio. A aliança de classes necessária à construção de uma estratégia socialista para o Brasil passa pela união entre os trabalhadores do campo e da cidade, dos pequenos agricultores e assentados na luta por um Poder Popular comprometido com a desmercantilização da vida e o fim da propriedade, empenhados na construção de uma sociedade socialista. O Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) conta com nossa irrestrita solidariedade e nossa parceria, em sua necessária articulação com o movimento sindical, juvenil e popular.

O PCB se empenhará também pela criação de um amplo e vigoroso movimento que venha às ruas exigir, através de um plebiscito e outras formas de luta, uma nova Lei do Petróleo, que contemple a extinção da ANP, o fim dos leilões das bacias petrolíferas, a retomada do monopólio estatal do petróleo e a REESTATIZAÇÃO DA PETROBRÁS (como empresa pública e sob controle dos trabalhadores), de forma a preservar a soberania nacional e assegurar que os extraordinários recursos financeiros gerados pelas nossas imensas reservas de recursos minerais sejam usados para a solução dos graves problemas sociais brasileiros e não para fortalecer o imperialismo e dar mais lucros ao grande capital.

Da mesma forma, daremos importância especial à frente cultural, estreitando os laços com artistas e intelectuais. Desde sempre a arte que se identifica com o ser humano é também a que denuncia a desumanidade do capital e da ordem burguesa. Desenvolvendo um trabalho contra a mercantilização da arte e do conhecimento, na resistência ao massacre imposto pela indústria cultural capitalista, o PCB apoiará a luta em defesa da plena liberdade de produção artística, intelectual e cultural e pela criação de amplos espaços para as manifestações artísticas e culturais populares, como parte inseparável de nossa luta pela emancipação humana.

Devido ao caráter fundamental da participação de intelectuais comprometidos com a luta pela emancipação do proletariado e pela hegemonia ideológica, política e cultural, o PCB jogará grande peso na tarefa permanente de formação, aperfeiçoamento e atualização teórica e política de seus militantes e na relação com intelectuais que detêm a mesma perspectiva revolucionária.

Nosso Partido vem realizando um intenso esforço no sentido de se transformar numa organização leninista, capaz de estar à altura das tarefas da Revolução Brasileira. Realizamos, no ano passado, a Conferência Nacional de Organização, na qual reformulamos o estatuto, trocamos o conceito de filiado pelo de militante, reforçamos a direção coletiva e o centralismo democrático. Estamos desenvolvendo um trabalho de construção partidária a partir das células, nos locais de trabalho, moradia, ensino, cultura e lazer, com o critério fundamental do espaço comum de atuação e luta, preferencialmente nos locais onde a população já desenvolve sua atuação cotidiana. O XIV Congresso Nacional coloca num patamar superior a reconstrução revolucionária do PCB.

O PCB, como um dos instrumentos revolucionários do proletariado, quer estar à altura dos desafios para participar da história de nossa classe na construção dos meios de sua emancipação revolucionária. Mais do que desejar ser uma alternativa de organização para os comunistas revolucionários, para os quais as portas do PCB estão abertas, queremos ser merecedores desta possibilidade, por buscarmos traçar estratégias e caminhos que tornem possível a revolução brasileira.

O PCB trabalhará de todas as formas e empregará todos os meios possíveis para contribuir com a derrota da hegemonia burguesa no Brasil, visando socializar os meios de produção capitalistas e transferi-los para o Poder Popular, assim como construir uma nova hegemonia política, social, econômica, cultural e moral da sociedade, de forma a que a população brasileira possa usufruir plenamente de uma nova sociabilidade, baseada na solidariedade, na cooperação entre os trabalhadores livres e emancipados do jugo do capital. Por criarem toda a riqueza os trabalhadores têm o direito de geri-la de acordo com suas necessidades, única forma de construir um novo ser humano e chegar a uma sociedade sem classes e sem Estado: uma sociedade comunista. Viva o Internacionalismo Proletário! Viva a Revolução Socialista! Viva o Partido Comunista Brasileiro!

XIV Congresso Nacional do PCB, Rio de Janeiro, outubro de 2009

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

18 anos de luta pela reconstrução revolucionária do partidão. Guarulhos está nessa luta

Comemoramos em 2010, os 18 anos do racha liquidacionista que tentou acabar com o partidão, sim, comemoramos, afinal, apesar de sofrer o mais duro golpe de seus, na época 70 anos, esse evento marca o início de sua reconstrução revolucionária, que atinge sua maturidade, não porque passaram18 anos desde o racha, mas pela coerência política que o partido apresenta hoje, às vésperas de seus 88 anos.
Em 1992, o etapismo, o peleguismo, o eurocomunismo, a socialdemocracia e mais sujo oportunismo político, que haviam infiltrado-se no partido desde a ditadura militar, tentaram dissolver o PCB convocando um falso X congresso que discutiria apenas um ponto, a saber, a liquidação do partido, os votos eram abertos a não-membros do partido e, inclusive, membros de outros partidos.
Os militantes comunistas revolucionários , organizados no movimento em defesa do PCB, retiraram-se do congresso e realizaram uma conferência extraordinária de organização, que lutou para a manutenção da existência do partido, em agosto de 1992 o direito foi concedido e Roberto Freire e companhia, organizados no PPS, não derrubaram o partidão, que realizou seu verdadeiro X congresso em 1993, nos dias 25 a 28 de março, data de fundação do partido em 1922 e do primeiro congresso de sua reconstrução revolucionária.
Nesse sentido, ao chegar em seu XIII congresso, em 2005, o PCB rompe com o etapismo, com o governo Lula, com a CUT, define a revolução brasileira como socialista e, assim, dissolve todas as suas ilusões estadolátricas, institucionalistas e etapistas.
Seu XIV congresso, em 2009, marca o limiar dessa reconstrução do Partidão no caminho efetivo da formação de um processo revolucionário proletário no Brasil, aprofundando a leitura do partido no mesmo sentido do congresso anterior.
Assim, reafirmamos o caráter socialista da revolução no Brasil, vemos o capitalismo brasileiro, isto é, as condições objetivas para um processo socialista como completo, o que não significa dizer que estão esgotadas as forças produtivas do capital, ou que o Brasil é um país imperialista, o Brasil mostra-se um sócio-menor do imperialismo.
Nesse sentido, as lutas específicas, inclusa a reforma agrária, estão em choque direto com o capital, não havendo mais reformas burguesas em atraso.
Por isso convocamos um Frente anticapitalista e antiimperialista, que secundarize, ou exclua, o campo eleitoral, aglutinando as lutas de classe e , de baixo pra cima, construa o Bloco revolucionário do proletariado, que será o aparelho capaz de influenciar com peso na hegemonia da sociedade, construindo novas instâncias populares de poder.
Estamos organizados na Unidade Classista, coletivo que atua no movimento sindical, na INTERSINDICAL, mais uma forma de coerência do partido, que abandona a institucionalidade expressa de forma pelega na CUT e também limita as ações de classe, que é o motivo para não dissolvermo-nos na conlutas. Embora não excluamos unidade de ação em certos momentos, acreditamos que o essencial é organizar a classe.
Assim o PCB firma de que lado está e sempre estará na luta de classes, o lado do proletariado.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PCB apoia o comitê de luta pelo transporte público 2.50 não dá !

Desde o inicio do ano, no município de Guarulhos, vem sendo travada uma luta de estudantes e trabalhadores contra o abuso das empresas de ônibus. Reivindicando a redução da tarifa, o passe livre para estudante e desempregado, o fim da dupla função e a municipalização do transporte; o comitê de luta pelo transporte público, 2,50 não dá, denuncia com suas armas a farra lucrativa do transporte na cidade.

No mês de março, foi feito um plebiscito popular no qual colhemos aproximadamente 4 mil votos, sendo que a maioria se posicionou favorável as pautas reivindicatórias que o comitê defende.

No dia da mentira, primeiro de abril, foi realizada uma manifestação na frente da câmara municipal na intenção, sobretudo, de denunciar a mentira do transporte público e apresentar aos politiqueiros o plebiscito popular que apontara a adesão da população para conosco. Conseguimos agendar uma data para uma audiência pública, assim penetramos no casulo burguês e expomos nossas reivindicações. Durante a audiência a guarupas, representada por uma figura irônica, demonstrou seu caráter neoliberal e fascista. O representante da empresa afirmou que ela não é uma entidade filantrópica e que visa somente o lucro, ou seja, as pessoas que utilizam o transporte em Guarulhos são secundarias diante o verdadeiro objetivo das empresas; as pessoas são mercadorias para os donos do transporte. A audiência pública foi uma arma utilizada pelo comitê para expressar nossa posição frente aos burgueses. Nunca tivemos a ilusão de que iríamos conquistar nossas reivindicações pela via institucional-burguesa; sabemos que a luta de todos os oprimidos é nas ruas. Temos a convicção de que a nossa luta é legitima, sendo assim realizamos atividades contra-culturais e constantes debates nas periferias.

São constantes as atividades políticas das lutadoras e dos lutadores do comitê 2,50 não dá que adentrando nas ruas e avenidas, caminhando ombro-a-ombro com a população, demonstram juntos o seu repudio e indignação perante a mercadorização do transporte. Numa das manifestações no bairro dos Pimentas, os manifestantes foram agredidos pela polícia que não poupou esforços para reprimir secundaristas, universitários, trabalhadores e desempregados; bombas de efeito moral foram atiradas na multidão, esta foi mais uma das muitas demonstrações repressivas da polícia orquestrada pelo estado burguês.

Defendemos a consciência crítica do jovem diante das contradições sociais, que ele construa uma postura firme frente às imposições da classe dominante e passe a lutar pelos seus direitos que com freqüência são violados; a manifestação é um direito universal e um fundamental instrumento de luta.

Teoria e prática estão juntas em todo o processo político do comitê; assistimos e debatemos numa perspectiva de luta o filme “Panteras negra” que relata a história da luta organizada dos negros dos E.U.A nos anos 60; houve um curso de formação que discutiu as perspectivas marxistas perante a sociedade capitalista; o evento “Geografia me Debate” que discutiu o tema da mobilidade urbana, a exclusão nas periferia duma população que tem acesso a um transporte de má qualidade; e também, foi realizada a festa pelo passe livre que também servil como palco para as discussões entorno do transporte.

No dia 16 de dezembro foi realizada – pelos donos do transporte – uma audiência “pública” com a finalidade de apresentar aos que lá estavam as farsas do bilhete único. Sabendo do jogo de cartas marcadas, fizemos uma interferência no local; gritos de indignação tomaram conta de nossas gargantas, e como era de se esperar, novamente, os agentes a burguesia agiram, os guardas nos impediram de falar saqueando um dos nossos aparelhos de comunicação. Depois de recuperado o aparelho e ter denunciado toda a farsa que rodeia o transporte de Guarulhos deixamos o local.

“Não é mole não. 2,50 é mais caro que o feijão” frases como essa marcaram o ano de 2009 em Guarulhos, ano de reivindicações perenes por um transporte de qualidade e verdadeiramente público. Os diversos atos não isentaram ninguém de saber da farsa do transporte “publico”. No ano que se iniciará, o movimento 2,50 não dá, continuará sua atuação política por um transporte verdadeiramente público. As ruas são e sempre serão, para o comitê, o palco perfeito para as atuações políticas. Na intenção de mobilizar a classe oprimida (a classe que não tem voz) vemos nas ruas as bases das transformações que hoje reivindicamos. O fim da dupla função; passe livre para estudante e desempregado; municipalização do transporte; redução da passagem até a tarifa zero. Estas são algumas das reivindicações que serão intensificadas no ano de 2010.

Os burgueses que se prendam em suas celas privadas com muros altos e cercas eletrificadas, pois nós estaremos à solta.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Viva os 51 anos da revolução cubana !

51 anos de Revolução Cubana: socialismo é
humanidade
*Base do PCB em Cuba
(estudantes brasileiros)
O primeiro dia de cada novo ano é muito mais que o reveillon para um rebelde povo. Foi
num dia como este, há 51 anos, que o heróico povo cubano livrou-se definitivamente das
garras da grande águia do norte e iniciou seu próprio caminho de soberania, liberdade e
justiça. O triunfo da revolução cubana é o culminar de quase 100 anos de incansáveis batalhas
e sacrifícios das massas e seus verdadeiros heróis.
A cada novo ano de resistência socialista, o processo cubano nos enche de esperança
revolucionária, com inquestionável exemplo de que os povos oprimidos do mundo podem
escolher um caminho alternativo ao domínio imperialista e à exploração do capitalismo. Essa
esperança torna-se ainda mais concreta se buscamos compreender a história deste processo,
real e presente, que se forjou em um movimento de gerações revolucionárias. Façamos assim,
um breve resgate histórico, que além de uma singela homenagem ao povo cubano é também
um legado para o nosso próprio caminho revolucionário.
Recordemos que Cuba constituiu-se como colônia espanhola no século XVI e, desde
então, sua economia foi baseada no trabalho do escravo negro e na produção açucareira. A
partir de meados do século XIX acentuaram-se as contradições entre a metrópole e as elites
crioulas locais, em virtude das crises econômicas mundiais de 1857 e 1866, da baixa nos
preços do açúcar e da decadência do império espanhol. Tais contradições culminaram nas
guerras de libertação nacional: a “Guerra dos 10 anos” (1868-1878), liderada por Carlos
Manuel de Céspedes, e a Guerra de Independência (1895-1898), na qual surge o líder José
Martí, um homem muito à frente de sua época, cujas idéias patriotas e humanistas, somadas a
sua exemplar prática como revolucionário, o consagraram herói nacional de Cuba. Desde a
guerra de independência Martí já alertava o perigo que vinha da América do Norte, em um
chamado ao povo cubano pela sua real libertação.
Durante esse processo, o incipiente movimento das massas de trabalhadores, ainda com
precárias formas de organização e politicamente pouco ativas, não pode fazer contraponto à
força das classes senhoriais. Os chamados criollos não conduziram as lutas de libertação do
domínio espanhol para uma revolução política contra ordem existente, temendo que o controle
político militar do movimento se deslocasse para os grupos sociais identificados com a pressão
popular por revolução democrática. Assim, as forças do movimento de libertação nacional
foram canalizadas para uma “revolução dentro da ordem” que, assegurando a permanência das
oligarquias, estabeleceu entre elas e os EUA um pacto que permitiu ir até o fundo a
“modernização da colonização indireta”, através da incorporação financeira e comercial de Cuba
aos EUA. Em 10 de dezembro de 1898, com a assinatura do Tratado de Paris entre EUA e
Espanha, Cuba deixou de ser colônia espanhola para estar subordinada ao imperialismo ianque.
Em 1º de janeiro de 1899 foi oficializada a ocupação militar estadunidense em Cuba. No ano de
1901, a Emenda Platt foi adicionada à Constituição cubana, permitindo a intervenção
estadunidense em caso de segurança nacional. Foi através de tal emenda, que os EUA criaram
a base militar de Guantanamo, existente até hoje, mesmo com a abolição da Emenda Platt em
1934. Dessa maneira a burguesia internacional fincou suas garras em Cuba, realizando em
1902 a expropriação de terras dos camponeses por empresas como American Tobacco
Company, Cuban American Sugar e a United Fruit Company.
O despertar cubano, ainda que sob a frustração do sonho patriótico, serviu como
experiência para as lutas que se travariam nas décadas seguintes, sendo agora o crescente
imperialismo dos EUA o principal inimigo, assim como já deixava claro José Martí.
No inicio do século XX se organiza o movimento operário em Cuba, bem como o
movimento estudantil, influenciados pelas conquistas da Revolução de Outubro, a Revolução
Mexicana, e as reformas universitárias ocorridas em diversos países da América (como
Argentina, Chile e Peru). São constantes greves obreiras e estudantis no país. Em 1904, Carlos
Baliño (que fundou junto com Marti o Partido Revolucionário Cubano), fundou o Partido
Socialista Obreiro, que se converteu em Partido Socialista de Cuba. Em 1923 foi fundada a
Federação Estudantil Universitária, por Julio Antonio Mella, que em 1925, junto a Baliño,
fundou o Partido Socialista Popular (equivalente ao primeiro Partido Comunista de Cuba). Em
1939 foi fundada a Confederação de Trabalhadores Cubanos.
A necessidade da luta antiimperialista volta com vigor no processo revolucionário iniciado
em 1933, desencadeado pelos efeitos da crise do capital de 1929. A organização dos
movimentos de massa, especialmente do movimento operário e estudantil, culminou com a
derrocada do ditador Geraldo Machado e a instituição do chamado “Governo dos 100 dias” que
foi duramente reprimido pelas forças Ianques. Tal movimento evidenciou o papel contra
revolucionário da burguesia nacional e dos latifundiários, dependentes e associados aos
interesses do Império.
No contexto pós II Guerra Mundial acirraram-se as contradições e a miséria no país,
configurando marcadamente fortes condições objetivas para a retomada do processo
revolucionário. Diante do crescimento do movimento de massas e da possibilidade de uma
vitória eleitoral do partido ortodoxo (com ideais patrióticos e democráticos), em 1952 Fulgencio
Batista aplicou um golpe de Estado, novamente com amplo apoio das forças militares do norte.
As massas populares se opuseram à ditadura e sua atividade cresceu na mesma
proporção ao agravamento da situação do país. O movimento operário foi ilegalizado, sendo a
luta contra a ditadura organizada dentro dos sindicatos clandestinos, com orientação do Partido
Socialista Popular.
Nesse processo desempenhou um papel determinante a vanguarda revolucionária que
dirigiria as atividades das massas no sentido de terminar as tarefas iniciadas nas lutas contra o
colonialismo espanhol e nos combates da geração de 1930. Fidel e Raúl Castro, Melba
Hernandez, Haydeé e Abel Santamaría, junto a outros 117 jovens mártires, organizaram os
corajosos ataques ao Quartel Moncada e ao Quartel Carlos Manuel de Céspedes, inaugurando
uma nova fase na luta revolucionária cubana, em que a guerra civil oculta passava a ser aberta
e a luta armada a forma fundamental de enfrentamento ao regime.
O ataque ao quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, teria como objetivo obter armas,
dar a conhecer o movimento revolucionário que surgia e incorporar as grandes massas
populares. O fracasso militar do assalto levou os revolucionários sobreviventes à prisão e à
organização do Movimento 26 de Julho (M-26-7). Na cadeia, os revolucionários trataram de
preparar-se teoricamente, ao mesmo tempo em que conduziam a organização e fortalecimento
do movimento através da campanha de anistia. É neste contexto que Fidel escreve sua
magistral defesa que anunciava os princípios norteadores da revolução cubana: “A historia me
absolverá”.
Após sua saída da prisão, em 1955 os revolucionários são perseguidos e ameaçados.
Fidel se exila no México e desde aí busca nos exilados cubanos o financiamento para o preparo
militar do M-26-7, que seguiu se articulando e crescendo na ilha, com grande inserção no meio
estudantil e operário. No México, Fidel conhece Ernesto Guevara, que passa a ser conhecido
como Che. Em 2 de dezembro de 1956, desembarcam 82 revolucionários em Cuba, depois de
uma longa viagem desde o México a bordo do Iate Granma, entre eles Fidel, Raúl y Che. Esses,
apoiados pelo forte movimento construído em solo cubano, iniciam o braço armado guerrilheiro
na Sierra Maestra.
O M-26-7 unificou os combatentes do Diretório Revolucionário 13 de março, de José
Antonio Echeverría, e o Partido Socialista Popular, de Blas Roca, em torno da estratégia
revolucionária de libertação nacional, cuja luta antiimperialista constituiu um elemento central.
O objetivo foi buscar, através da revolução nacional, a instauração da democracia, da
soberania popular e um desenvolvimento independente. Palavras de ordem que de início
serviam tanto ao proletariado como a setores da burguesia nacional, mas que forjaram as
bases para um direcionamento socialista da revolução à medida que a organização das classes
oprimidas ganhou espaço. Da unidade entre o M-26-7, o Diretório Revolucionário e o PSP
surgiu o equivalente social e político do partido revolucionário, que abriu o caminho para a
revolução das massas exploradas.
Com o triunfo da revolução em 1º de janeiro de 1959 os representantes das oligarquias
e o imperialismo foram varridos do governo revolucionário recém instaurado. A radicalização do
processo revolucionário cubano significou não apenas a criação do primeiro Estado socialista da
América Latina, mas também a esperança e o exemplo dos povos oprimidos deste continente.
O dia 1º de janeiro foi apenas o inicio das vitórias contra o imperialismo e exploração do
povo cubano. Neste mesmo ano, o governo revolucionário iniciou a nacionalização de empresas
pertencentes ao grande capital internacional, entre estas 36 indústrias açucareiras, que
dominavam 40% da produção de açúcar do país. Realizou-se também a primeira Reforma
Agrária, que distribuiu 50% das terras cubanas a cerca de 600 mil famílias. Nacionalizaram-se
a saúde e a educação. Em 22 de dezembro de 1961, graças ao trabalho de mais de 100 mil
jovens, professores e trabalhadores, Cuba se tornou o primeiro país da América livre de
analfabetismo. Nesse mesmo ano Fidel Castro profere seu inesquecível discurso declarando a
Revolução Cubana de caráter socialista.
Do triunfo revolucionário aos dias atuais
A medida que avançavam as conquistas do heróico povo cubano, crescia também a
contra-ofensiva do império. Ainda em 1961 a CIA financia e organiza o ataque de 1200
mercenários a Playa Girón, derrotados pelo povo combatente. Foi então que para organizar o
povo cubano e defender suas conquistas foram criados os Comitês de Defesa da Revolução –
CDR, possibilitando a construção do socialismo e da democracia popular em cada bairro. Depois
desse, vieram muitos outros ataques, como a explosão de uma avião em 1976 que matou 73
pessoas, cujo autor, Juan Posadas Carrilles, segue livre sob proteção ianque.
Além dos ataques terroristas, em 1962 EUA expulsam Cuba da Organização dos Estados
Americanos, OEA, e declara o bloqueio econômico à Ilha, buscando impedir que outros países
comercializem ou desenvolvam qualquer tipo de relação com este país. Com o bloqueio
genocida, Cuba estreita suas relações com a União Soviética, através de acordos comerciais,
militares e de solidariedade. Também nesse período, em 1965, concluiu-se o processo de
unificação dos grupos revolucionários em um único partido. Dessa forma se constituiu o Partido
Comunista de Cuba, de caráter marxista-leninista, com Fidel Castro como Secretário Geral.
Os feitos da revolução cubana seguiram impressionando nos anos seguintes. Em poucos
anos Cuba desenvolve-se como potência científica em diversas áreas, como a medicina e a
farmacologia. Torna-se o país com maior expectativa de vida e menor mortalidade infantil das
Américas, números comparáveis aos mais desenvolvidos países europeus. Desenvolve-se no
âmbito dos esportes e cultural, sendo, por exemplo, o país de todo mundo com o maior
percentual de escritores per capita, mostra do nível intelectual alcançado pelo povo durante o
socialismo. Nas artes plásticas, na dança, na música, no cinema e no teatro a revolução deixou
também sua marca: um povo culto é um povo livre, parafraseando José Martí.
O socialismo cubano também não acabou em si mesmo. Os cubanos deixaram marcas de
emancipação em diversos países. Na África, para exemplificar, contribuíram com os esforços
para a libertação nacional de várias nações, como Angola, Etiópia, Congo e Moçambique, sendo
sua participação fundamental para o fim do regime Apartheid na África do Sul.
Na década de 80, os acordos com o campo socialista passaram a responder por 85% do
intercâmbio de mercadorias realizado por Cuba. Na década de 90, com a desintegração da
URSS e do socialismo no leste europeu, teve inicio uma das épocas mais difíceis da história do
aguerrido povo cubano: o período especial.
No primeiro ano após a dissolução do campo socialista do leste europeu e da União
Soviética, o produto interno bruto decaiu 33%. A questão energética foi uma das mais
prejudicadas, colapsando o transporte. Um exemplo do caos gerado foram as muitas safras de
alimentos que apodreceram no campo, já que sem combustível para o transporte não podiam
ser deslocadas às cidades. Faltavam alimentos, remédios e outros produtos essenciais. Nesse
contexto, o cruel bloqueio imperialista tornou-se ainda mais perverso.
Mesmo com tamanhas dificuldades, em pleno período especial, o povo cubano ratifica
sua vontade de seguir construindo o socialismo em plebiscito nacional, com mais de 90% dos
votos e uma participação de quase 100% da população. Talvez, por tão heróica resistência e
convicção do rumo escolhido, que Fidel considera o Período Especial “o mais glorioso dos 50
anos da Revolução Cubana”. Nessa etapa as idéias criativas para superar as dificuldades foram
muitas, como o desenvolvimento de um efetivo programa de agricultura urbana, referência
mundial, que hoje emprega cerca de 400 mil cubanos e produz alimentos para milhões.
Em contraponto, o período especial gerou também uma série de novas contradições
cujas soluções tornaram-se, atualmente, os principais desafios para o avanço do socialismo em
Cuba. Para reverter o processo de carência e dependência econômica criaram-se diversas
empresas mistas (parcerias entre o Estado - sócio majoritário – e empresas capitalistas), com
a finalidade de aumentar e diversificar a produção agrícola e industrial. Para incrementar a
arrecadação do Estado, Cuba foi obrigada a abrir-se ao predatório turismo internacional.
Com tais medidas, Cuba pôde evitar a ofensiva da contra-revolução capitalista e manter
as mais importantes conquistas da revolução. No entanto, este longo período de dificuldades
materiais foi bastante marcante na determinação da consciência social. Um grande contingente
de cubanos deixou o país durante os anos do período especial, e problemas como a
prostituição, o mercado negro e a corrupção, tornaram-se presentes. As desigualdades internas
foram intensificadas, especialmente quanto à valoração do trabalho: um trabalhador do
turismo, um taxista particular, alguém que recebe dinheiro de um familiar no exterior ou que
aluga um quarto para estrangeiros têm maiores possibilidades de consumo que um exemplar
operário, um médico ou um reconhecido professor universitário.
Essas contradições têm sido os maiores desafios do Estado cubano, do Partido
Comunista e das organizações de massa do povo. A fim de avançar na superação delas, o
governo revolucionário tem proposto à população uma série de reformas - cabe ressaltar que
elas têm um caráter absolutamente distinto das contra-reformas que vem sendo aplicadas no
Brasil. Uma delas trata da legislação trabalhista e objetiva aumentar a produtividade industrial
e a agilidade dos serviços, por meio de incentivos materiais aos trabalhadores mais dedicados e
comprometidos com a revolução. Tal medida vem no sentido de reafirmar o principio socialista
de “receber de acordo com seu próprio trabalho e esforço”, rumando assim no sentido de
diminuir a burocratização dos serviços e a corrupção, que estagnam a produção. Outra
importante medida adotada recentemente é a distribuição das terras ociosas do Estado aos
pequenos agricultores e a garantia de condições para produzir, com o objetivo de aproximar
Cuba da soberania alimentar.
Mesmo com tantas dificuldades, Cuba segue sendo vanguarda no que se refere à
solidariedade internacional. Atualmente estudam em Cuba cerca de 50 mil estrangeiros, dos
mais diversos cursos universitárias, sendo a maioria medicina. Além disso, são bastante
conhecidas as missões cubanas de solidariedade na área de saúde e educação, hoje presentes
em mais de 70 países, em especial nos que estão em guerra ou que sofrem de catástrofes
naturais. Somente na Venezuela são mais de 35 mil cubanos, entre médicos, profissionais da
saúde e educadores. Outro relevante exemplo do internacionalismo do socialismo cubano é o
projeto Escola Latino Americana de Medicina - ELAM, idealizado pelo Comandante Fidel Castro
em um momento em que toda a América Central havia sido assolada por três furacões. Este
ano o projeto comemorou 10 anos de existência, com uma grande quantidade de médicos
atuando em toda a América Latina, incluindo, por exemplo, a fundação de hospitais populares.
Atualmente, cerca de mil brasileiros estudam em Cuba.
Ainda assim os ataques imperialistas não cessam. O assassino bloqueio segue vigente,
mesmo com as sucessivas votações contrárias nas assembléias da ONU, em que apenas 3
nações do mundo se mantêm favoráveis a sua continuidade. Os prejuízos para Cuba são
incalculáveis: em apenas 8 horas de bloqueio o governo cubano poderia reparar cerca de 40
creches ou em 1 dia comprar 139 ônibus de transporte urbano. O caso dos cinco heróis
cubanos é outro exemplo da desumanidade que impõe o monstro do norte - como definia
Simon Bolívar – presos por lutar contra o terrorismo dos EUA.
Muitos insistem em deturpar o caminho escolhido pelo povo cubano, mas os fatos não
escondem a verdade: em 51 anos o socialismo humanizou a sociedade cubana. Cuba é o único
país das Américas em que a violência, tão crescente no Brasil, é insignificante. Havana, uma
capital com quase 3 milhões de habitantes, é tão tranqüila quanto uma pacata cidade do
interior, em que assassinatos e seqüestros ficam restritos aos romances policiais. Cuba é um
país que trabalha cotidianamente para superar a desigualdade de direitos entre os gêneros,
para superar o racismo, a discriminação e tantas formas de opressão, tão enraizadas em
nossas sociedades. Outros não cansam de afirmar que a Revolução Cubana é coisa do passado
e que o socialismo morreu junto com a URSS. Para esses respondemos que não somente é
presente o socialismo em Cuba, mas que vem fortalecendo seus princípios e ideais à medida
que avançam os processos revolucionários na América Latina. Em contrapartida, processos
como o venezuelano e o boliviano, sem a Revolução Cubana provavelmente não existiriam e o
caminho da barbárie a que conduz o capitalismo aparentaria ser a única via para a
humanidade. Cuba e o socialismo nos permitem seguir sonhando com a utopia de um mundo
humano, no mesmo sentido em que dedicaram suas vidas tantos mártires nesses 51 anos de
revolução. Por eles e pelas gerações futuras o povo cubano jamais abandonará as trincheiras
conquistadas.
*Base do PCB em Cuba.
La Habana, 31 de dezembro de 2009