quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A POLÍCIA APRESENTA SUAS ARMAS




imagemCrédito: Jornal Tribuna de Navegantes
Comitê Regional do PCB de Santa Catarina
A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cassetetes,
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar
Paralamas do Sucesso
Barricadas trancando as ruas de acesso ao bairro; fogo em pneus e colchões no centro da cidade, próximo ao Batalhão da Polícia Militar; toque de recolher; PM recebida a tiros; policiais atingidos na perna e na cabeça, este sendo salvo pelo capacete; ocupação militar de um bairro popular; clima de guerra. Não estamos falando do Bairro Pinheirinho em São José dos Campos, ocupado violentamente pela PM de São Paulo no mês passado.
O relato acima é mais um capítulo da truculência policial que se revela no dia-a-dia das comunidades pobres do Brasil. Criminalizadas e cerceadas em seus direitos humanos mais básicos.
O fato ocorreu no Bairro São Paulo, na cidade de Navegantes (SC), localizada 90 km ao norte da capital Florianópolis. O bairro originou-se de uma ocupação popular na década de 1980. Possui uma comunidade com acesso precário a condições dignas de educação, saúde, habitação e lazer. Apenas no ano passado foi inaugurada uma quadra de esportes no bairro, que até então contava apenas com um campo de futebol em condições precárias de uso. Nada incomum em uma cidade onde 38,20% da sua população sobrevivem em condições de pobreza (IBGE/2003).
A comunidade convive com investidas e ocupações constantes da polícia. Em uma dessas incursões policiais, no último dia 16 de fevereiro, um rapaz de 19 anos foi morto covardemente com três tiros pelas costas. Na versão da PM, ele era traficante e teria reagido a abordagem dos policiais, puxando uma arma calibre 22. Porém, segundo os moradores ele era um trabalhador e foi chamado a viatura, em uma espécie de emboscada. Há alguns meses atrás ele já havia procurado a imprensa e o comando da PM de Navegantes para comunicar que vinha recebendo ameaças e sendo perseguido por ter sido confundido com outro rapaz que assassinou um agente prisional.
No dia 17 de fevereiro os familiares e amigos realizaram uma manifestação pacífica pela tarde. Mas o clima de hostilidade promovido pela PM resultou em um conflito armado ao cair da noite. Cerca de 100 policiais cercaram o bairro, com reforço vindo de algumas cidades da região e com a presença da tropa de choque de Florianópolis.
Na bela Santa Catarina, considerada por alguns como a “Europa brasileira” os conflitos sociais e a pobreza tem sido resolvidos pela burguesia catarinense através da mesma receita há décadas: repressão e criminalização dos pobres e dos trabalhadores. Ao contrário do que a polícia e a grande mídia procuram informar, a manifestação não foi uma ação de traficantes, mas sim uma revolta popular em reação a violência policial.
Repudiamos veementemente a ação da PM de Santa Catarina, no Bairro São Paulo em Navegantes. Solidarizamos-nos com os trabalhadores e trabalhadoras que residem no bairro e que são vitimas constantes da repressão policial, o que segundo o comando da PM deve se intensificar, com a ocupação permanente da região.
Contra a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais!
Abaixo a repressão policial aos trabalhadores!
Comitê Regional de Santa Catarina
Partido Comunista Brasileiro
20 de fevereiro de 2012

Cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado



imagemCrédito: Kaosenlared
Pela Coordenadoria "QUE NO CALLE EL CANTOR" / FUNDALATIN
Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012 19:31
«Parte dessa herança é Julián Conrado», nos disse Sol Musset. Lilia Vera: «...Acreditamos no asilo, sobretudo porque o que ocorreu com Juliám Conrado é uma violação de seus direitos humanos. Nós cantores abraçamos a luta deste companheiro...»
Cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado
"... a vida é muito perigosa. Não pelas pessoas que fazem o mal, mas pelas que se sentam e assistem ao que acontece..."
Albert Einstein
“Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”
Dos Indignados em Barcelona.
Recopilado por Eduardo Galeano
Pela Coordenadoria “QUE NO CALLE EL CANTOR” / FUNDALATIN
De maneira decidida, cantores venezuelanos se pronunciam pela liberdade de Julián Conrado, como digno representante do canto comprometido e continuador da obra de Alí Primera. «Parte dessa herança é Julián Conrado», nos disse Sol Musset. Lilia Vera: «...Acreditamos no asilo, sobretudo porque o que ocorreu com Julián Conrado é uma violação de seus direitos humanos. Nós cantores abraçamos a luta deste companheiro...» O aragüeño Agua Salá expressa sem nenhuma dúvida: «Como cantor peço... que se dê a liberdade a esse companheiro que pe a voz de muitos seres humanos». Alí Manaure:«Nós amamos a paz, porém, como defende o próprio Julián, não existirá paz se não houver justiça e nem amor...» Sandino Primera: «Julián representa a esperança...» Estas foram parte das declarações ditas por algumas das figuras do canto comprometido que se solidarizaram publicamente com a liberdade do cantor e compositor preso e em perigo de ser extraditado à Colômbia, somando suas vozes aos clamores do mundo todo que pedem a liberdade do artista e impedem o desenvolver das funestas intenções que justificam a entrega por «conveniência política»
As opiniões emitidas neste vídeo refletem claramente o grande significado político e ético embutido no caso para os setores revolucionários que apoiam a revolução bolivariana e o Presidente Chávez, na Venezuela e no mundo. Tal como propõe uma voz solidária anônima num e-mail, os que sustentam a tese da entrega, «estariam condenados a mais arrasadora condenação histórica» Ainda a respeito do assunto, uma frase d’O Libertador, recopilada pelo cantor Alí Manaure, que nos ajuda a refletir sobre a solidariedade com o companheiro preso: “Feliz é aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta e se apresenta inocente ao exigir de seus próprios companheiros de infortúnio uma reta decisão sobre sua inculpabilidade".
Vídeos:
Outros materiais para o “combate” e a reflexão:
Pela derrota do Plano Colômbia nas terras de Bolívar!
Pelo fechamento da porta ao Plano Colômbia nas pátrias libertárias!
Liberdade e Asilo JÁ para Julián Conrado, o Alí Primera colombiano!
Amando, venceremos!
"Alí Costas Manaure"  alicostas.manaure@gmail.com
"Tamanaco De la Torre"  tdelatorre2021@gmail.com
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DESPERTA, DOR.


Pirenco
Acordei com o barulho do relógio, abri os olhos e a primeira pancada... 4:55 da madrugada. Fui ao banheiro; tomei um banho pelada, muito rápido; água e luz tá o olho da cara. No café... não vai leite, não tem em casa. Só tem café preto e forte pra me manter acordada e sair por aí apresentando a minha carta de entrada, currículo. Tenho poucas copias, tivesse muita, teria de ir a pé. O dinheiro tá contado, recontado, contadinho, pro ônibus e prum salgado de 50 centavos. Sai de casa, dia 13 de fevereiro de 2012, pisei na calçada esburacada, e como guerreira zumbi, subi até o ponto, ''esperar o ônibus não é tarefa fácil'', pensei. Ponto lotado, empurra-empurra, sobe, não sobe; dentro mais lotado do que lá fora; “bom dia, motorista.” Ele não responde. Na catraca, a segunda pancada... ARMÊNIA 4,80. aumentaram a passagem. PORRA, ASSIM NÃO DÁ. Cobrador me diz uma coisa... POR QUE TUDO AUMENTA SEM NOS PERGUNTAREM SE AO MENOS QUEREMOS ? Eu não quero esse aumento. Se aceito, fico sem alimento. Essa condução tá mais cara do que o feijão. Cobrador... VAMOS DESPERTAR A NOSSA DOR !!! Preste atenção na jogada... o que você dá de lucro ao patrão, NUM SÓ DIA, paga o teu pão de todo o mês. E além do mais, o patrão não pega ônibus caro e lotado, ele anda de carro blindado com ar condicionado. Assim não dá, vamos despertar, dizer não ao aumento, não ao patrão. Vamos juntos... carona, companheiro?!!!      

Fora Rodas Fascista!


Nota de repúdio à nova invasão da USP
Pela Polícia Militar de São Paulo



A Comissão Política Regional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) de São Paulo manifesta seu repúdio e indignação por mais uma invasão da Universidade de São Paulo por tropas da Polícia Militar, desta vez para desalojar estudantes de uma moradia estudantil ocupada no interior da Universidade. Trata-se da segundainvasão da USP pela PM, fato que já está se tornando rotina, desde que o reitor fascista, João Grandino Rodas, autorizou a invasão da universidade para desocupar uma unidade da USP ocupada pelos estudantes.
Numa ação covarde, a Polícia Militar invadiu o campus às cinco horas da manhã deste domingo de carnaval, justamente num período em que as pessoas estavam dispersas, brincando carnaval, desalojou os estudantes e prendeu 12 deles, os levando para uma delegacia de polícia do bairro de Pinheiros.
Esse novo episódio de truculência demonstra mais uma vez a incapacidade deste reitor de comandar a Universidade de São Paulo. Trata-se de um personagem autoritário, com serviços prestados à repressão, nomeado pelo governo do PSDB exatamente para implementar o projeto de privatização da Universidade e implantar a lei e a ordem autoritária no campus universitário, como nos tempos da ditadura.
A Comissão Política Regional do PCB de São vem mais uma vez exigir a destituição deste reitor fascista, pois o maior problema da USP não são os estudantes, professores ou funcionários, mas um reitor que se comporta muito mais como chefe de polícia do que como professor universitário.

Liberdade para os estudantes presos!
Fora Rodas da USP!
Abaixo a repressão do governo do PSDB!

A greve do carnaval



imagemCrédito: 1.bp.blogspot
Por Heitor Cesar Oliveira
Imagine um dia, talvez um sábado, ou mesmo uma segunda feira de carnaval. As ruas do Rio vazias. Nenhum bloco; nenhum cordão; nenhum baile; nenhum bêbado cantarolando alguma marchinha; nenhum casal brigando por ciúme; nenhum beijo despretensioso. Imaginem um carnaval que os foliões fizessem greve. Não fossem às ruas. Uma greve de carnaval.
As ruas ficariam desertas. Mais desertas que um início de madrugada de segunda feira. Os comerciantes, estes ficariam em pânicos: os donos dos bares ficariam loucos pensando na “fortuna” por eles gasta para encher seus estoques à espera de foliões e bêbados que não mais apareceriam. A polícia - essa coitada! – perderia grande parte de sua renda extra de extorsão dos foliões exagerados – presas fáceis desse tipo de investimento. Mas o que causaria isso? O que causaria uma greve de carnaval, unindo o folião, o bêbado, os comerciantes ambulantes, os diretores de blocos, os compositores de marchinhas, os sambistas com seus violões e pandeiros?
Esse quadro me foi desenhado por um sujeito que se dizia viajante do tempo, vindo de 2014, ano em que tal fato ocorrera. Eu o encontrara numa rua próxima à Praça XV andando perdido em meio aos blocos com suas camisas cheias de patrocínio e com suas letras que não diziam muito mais do que um montante de vogais.
Ao ser perguntado sobre tal fato, ele responderia direto, com uma certeza nítida: — A velha e conhecida de todos nós, a ganância, a ânsia enlouquecida por lucro, a mercantilização das relações humanas e seus derivados.
O carnaval havia se voltado para o turismo, para os de fora. Tudo invertido na cidade, preparada para servir de vitrine para os gringos.
Nada contra. Mas se eles são turistas, que aprendam a conviver com as coisas como estão, e não as modifiquem para melhor atender seus desejos de “caricatura de povo”, de "carnaval", de "mulatas", de "malandro sambista". E a Ordem, essa velha inimiga do povo – essa amante de mentes pequenas e positivistas, que tem medo do povo – impediu a brincadeira de ocorrer fora de seus padrões de “choques", intimidando o povo, acabando com os coretos e com a espontaneidade da brincadeira. Favorece – isso sim! – os donos de comércio e bares, que se fecharam nos seus salões com ar condicionado e com suas músicas ao vivo, com seus preços exagerados que afastam o folião autêntico, o brincalhão, o fanfarrão, o bêbado. Tudo fica perfeito para a “playboyzada” curtir com os cartões de créditos patrocinados pelos pais, os mesmos pais que assumiram a organização da festa, a nossa burra elite.
Foi assim, diante desse quadro que se organizou – ou melhor, que se desorganizou - a greve de sábado foi passando pelo domingo (recorde de presença das missas), pela segunda e, quase terminando na terça feira, foi entrando pela quarta. Logo quando todos achavam que a festa tinha ido para o buraco, quando todos consideravam o fim do carnaval carioca; a morte, tão decretada, do samba... Estourou a festa do povo!
Num passe de mágica, as ruas foram tomadas não para buscar os bares com seus donos falidos, mas para fazer a brincadeira de rua. Desfilar pela Avenida Rio Branco, pela Presidente Vargas, correndo, brincando, com bate-bola, mascarados, foliões, sambistas, diretores de blocos e claro, nosso amigo de sempre, o bêbado, com seu vasto repertório de sátiras, de marchinhas antigas e filosofias de botequim.
Foi o ano em que nenhum dinheiro caiu nos cofres da elite. Foi o ano do choque da desordem urbana, pois afinal quem quer manter essa ordem aí? Eu não...
Assim, meu amigo viajante do tempo entrou numa viela, dessas que tem um monte na cidade, e sumiu gritando: — Viva o povo trabalhador, brincalhão, alegre, folião e claro, combatente, valente e brigão, como deve mesmo ser.
Heitor Cesar Oliveira é historiador, membro do PCB e um dos fundadores do bloco de carnaval "Comuna que Pariu!"

Eleições, armadilha para os tolos



imagemCrédito: ODiario.info
Jean Salem
O filósofo marxista Jean Salem publicou recentemente um novo livro: “Eléctions, piége à cons”. Publicamos a Introdução desse importante texto, que coloca uma questão central: nos dias de hoje, em tantos lugares da Europa, é através dos mecanismos eleitorais das democracias burguesas que forças fascistas e de extrema-direita vêm assumindo uma importante parcela do poder político.
Em criança, depois em adolescente, e talvez mesmo até ao início dos anos 1980, interrogávamo-nos como fora possível que povos amassados em cultura, como os alemães em especial, tenham sido incapazes de prever aquilo que veio a ser feito, aquilo que foi cometido em seu nome antes e durante o período da Segunda Guerra Mundial. De forma acessória, essa interrogação servia para moderar os ardores daqueles que estavam sempre disponíveis para se inclinar perante a mais insignificante emoção popular e, em particular, perante aquelas que pareciam indicar a insatisfação de tal ou tal fracção da população nos países do “socialismo real”. E, sobretudo, ela proporcionava aos mais argutos a oportunidade para relembrar em cada dia uma evidência que fere, ao que parece, o preconceito democrático: a de que os povos podem equivocar-se. E podem, consequentemente, votar mal… Hitler (podemos, naturalmente, lamentá-lo) não se apossou do poder por meio de um golpe de Estado! Na eleição presidencial de Março-Abril de 1932 tinha obtido 2,75 milhões de votos, o que representava 37,3% do eleitorado, mas tinha sido ultrapassado, em qualquer caso, pelo marechal Hindenburg. Num contexto marcado, entretanto, pelas terríveis acções violentas dos bandos nacional-socialistas (contavam-se às centenas os mortos que estes tinham provocado apenas no decurso do mês de Julho, em confrontos de rua desde a Prússia até Altona, a norte de Hamburgo), o NSDAP obteve igualmente 37,3% dos votos nas eleições de 31 de Julho de 1932.
De forma ainda mais genérica, o tão prosaico percurso dos regimes ditos “representativos” só pode levar as pessoas de bom-senso a pensar, com Alexis de Tocqueville, que “aqueles que encaram o sufrágio universal como uma garantia da qualidade das escolhas iludem-se completamente”. O “voto universal”, acrescentava Tocqueville, “possui outras vantagens, mas não essa” (De la démocratie en Amérique, II parte, cap. 5, Vrin, t. I, p 153). Porque ninguém pode afirmar que a maioria tem sempre razão. Sobretudo quando essa maioria é tão evidentemente fabricada como o é nos dias de hoje. Sem falar da imensa massa daqueles que deixaram de participar no jogo eleitoral, tão frequentemente enganador, frustrante, entorpecedor mesmo. A tradição filosófica em que me integro aliou constantemente, pelo menos até ao século XVIII, um muito grande optimismo naturalista a um carregado pessimismo em matéria de antropologia. Para o materialismo do Ancien Régime, para o epicurismo antigo como para os grandes senhores do libertinismo, não se trata em nenhuma circunstância de imaginar que, de progresso em progresso, todo o indivíduo acederá às luzes da razão, à sabedoria e à felicidade. Os “déniaisés” (“desparvecidos”), como se designavam a si próprios, sabem bem que a religião é um instrumento do poder de Estado; mas que o povo, têm eles o cuidado de acrescentar de imediato, não deixa de crer nela e de continuar a ignorar os seus truques. Em resumo, será apenas com as Luzes, e a fortiori com o comtismo, o marxismo e outras doutrinas racionalistas datando do séc. XIX que se formou, entre os adeptos do materialismo filosófico, a ideia de uma possível conversão dos humanos a opções políticas justas, morais, e susceptíveis de trazer a felicidade a todos.
E eis entretanto o estado em que estamos: os herdeiros do fascismo e do nacional-socialismo voltam a levantar a cabeça na Europa… Aqui, é um movimento fundado por um antigo torcionário que obtém, desde há mais de vinte anos, entre 10% e 18% dos votos expressos. Acolá, o NPD, o Partido nacional democrático alemão, obtém 9,2% dos votos nas eleições de 2004, no Saxe. Desde 1986 que os resultados obtidos pelo muito mal designado Partido austríaco da liberdade (FPO) não cessam de aumentar em eleições legislativas, chegando a atingir 27% dos votos expressos em 1999. Nessa altura o FPO era a segunda força política na Áustria. Depois de uma descida transitória ressurgiu em força nas legislativas de 2008 com um resultado de 18%, ao qual devem ser acrescentados os 11% recolhidos pela Aliança para o Futuro da Áustria (BZO) – ela própria resultante de uma cisão do FPO – o que dá um total acumulado de 29% dos votos expressos a favor da extrema-direita! Na Noruega também, o FrP, o Partido do progresso, impôs-se como a segunda força política do país ao alcançar 23% dos votos expressos quando das eleições legislativas de 2009. Nos Países-Baixos, finalmente, 17% dos votos foram para a extrema-direita nas eleições europeias de Junho de 2009. Por todo o lado, ou quase, há governos aos quais não só não repugna formar alianças com a extrema-direita ou mesmo a pedinchar o seu apoio (Dinamarca, Hungria); há governos – em geral eleitos, é certo, ou pelo menos que alcançaram o poder por meio de eleições – que entregam pastas de ministérios a racistas certificados ou a autênticos fascistas reconvertidos de fresca data em muito sinceros democratas (Itália). Por toda a parte, o perigo ainda-rastejante-mas-já-muito-pouco do regresso da peste negra ou da chegada das suas reencarnações pós-modernas (Bélgica, Suíça).
Para sintetizar, existe já um problema que pode legitimamente agitar os nossos neurónios: as campanhas eleitorais, as boas intenções e os escrutínios que aí vêm serão suficientes para evitar que aqueles que militam à esquerda, neste XXIº século que começa, não venham a acabar em campos (estilo antigo) ou em estádios (estilo chileno)? Tanto mais que, como me dizia um estudante no decurso de uma prova oral bastante frustrante, “o capitalismo tem um grande problema: foi demasiado longe”. Ou, dito por outras palavras, poderia culminar em apocalipse…E nem os votos “úteis” nem os pânicos sem grande futuro dos pequenos burgueses poderão constituir uma barreira eficaz contra o que aí vem! É pensando nisso sobretudo, ou seja, no estado vacilante da nossa civilização que eu gostaria aqui de falar:
1- Daquilo que eu chamarei de boa vontade o actual circo eleitoral;
2- Da confiscação do poder que este circo autoriza e realiza perante nós;
3- Do regime de eleição ininterrupta no qual se faz viver nos dias de hoje o cidadão das nossas esgotadas democracias, regime que é parte integrante de um período de crise sobreaguda do capitalismo, de um período de perturbações e de ansiedade, de um período em que se sente o odor que antecede a guerra.

O homem bom e justo morreu antes de saber que havia sido anistiado



imagemCrédito: CFI

Por Aluizio Palma
Ele morava no bairro operário Cidade Nova, periferia de  Foz do Iguaçu.
Eu conheci Estanislau Kokojiski em agosto de 2006, quando ele me procurou para ajudá-lo em seu pedido de reparação na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Seu requerimento havia sido indeferido dois meses antes.
Quando Estanislau foi falar comigo ele estava mal, muito mal. As palavras lhe saíam com muita dificuldade Não conseguia falar, tinha um tremor contínuo nas mãos, andava encurvado e com as pernas bambas. Nem parecia aquele homem de mãos firmes no volante conduzindo os ônibus da Viação Transbalam. Estanislau dependia de uma mísera aposentadoria e  morava no Bairro Boa Vista, região da Cidade Nova, periferia de Foz do Iguaçu.
Ouvindo com paciência e após três entrevistas, eu consegui entender o caso.
Quando irrompeu o golpe civil-militar de 1964, Estanislau Kokojiski morava em Cascavel,  Paraná, e era presidente do Sindicato dos Produtores Autônomos da Lavoura.
Ao me contar o que havia acontecido 42 anos atrás a tremedeira aumentava e seus olhos celestes perdiam o  brilho. Lacrimejavam com a lembrança daqueles anos de sofrimento.
Num daqueles primeiros dias de abril de1964, a polícia invadiu sua casa, revirou tudo que havia dentro, alegando procurar propaganda comunista e ameaçando ele e seus familiares de morte.
Estanislau foi levado para a delegacia enquanto os policiais encostaram um revolver na cabeça de sua esposa, exigindo que ela mostrasse onde estavam as propagandas comunistas. Dona Rosalina desmaiou na presença de suas três filhas menores. Uma delas correu para a casa de um vizinho, acometida de grave crise nervosa, vindo mais tarde a perder a memória por completo.
Enquanto isso na Delegacia de Polícia de Cascavel, Estanislau era torturado no pau-de-arara, levando golpes de telefone (tapas nos ouvidos) e afogamento em um tanque d’água. Ficou um ano e trinta dias preso em Cascavel e mais um ano e três meses preso em Curitiba, nos presídios do Ahú e Curitiba. Preso, sem processo, sem advogado e sem contato com a família.
No presídio do Ahú foi obrigado a trabalhar numa construção. Chegou a resistir, mas depois de levar socos e pontapés, subiu num andaime mal feito que não resistiu o seu peso e desmontou. Estanislau caiu, quebrando o pé direito. Durante três meses andou de muletas.
Em julho de 1966, ao voltar para casa, encontrou sua esposa de cama. Devido aos sofrimentos ela sofreu um derrame. Vendeu o sítio para pagar as despesas médicas, mas não adiantou. Dona Rosalina morreu naquele mesmo mês de julho.
Essa história eu fui montando na medida que conversava com Estanislau Kokojiski. Sabia que alguma coisa havia passado com ele quando os militares derrubaram o governo do presidente João Goulart e impuseram a ditadura ao povo brasileiro. Sabia. Apenas sabia, sem detalhes. Foram muitas as prisões naquele abril de 1964. Aqui no Paraná, prenderam trabalhistas, comunistas, sindicalistas e todos que eram denunciados como membros do “grupos dos onze”.
Estanislau foi uma das vítimas das muitas razzias ocorridas naquela ocasião. O drama do motorista de ônibus aposentado me comoveu e atiçou minha curiosidade e ânsia de brigar por justiça.
O requerimento de Estanislau Kokojiski havia sido indeferido na Comissão de Anistia por ele não ter provado motivação política para sua prisão.
Fui então atrás das benditas provas e no início de 2007 eu tinha em mãos os documentos da Delegacia de Ordem Política e Social – DOPS, do Paraná, onde constava o nome de Estanislau num listão de presos sob acusação de serem comunistas. E mais, um outro documento mencionando que Estanislau Kokojiski “foi preso em cumprimento de mandado judicial por atividades subversivas”.
Fiz cópia dos documentos e fui até o bairro Cidade Nova levar a boa nova para o meu amigo. Mostrei os papéis, ele olhou pra mim sem demonstrar emoção e sem pronunciar nenhuma palavra. Estanislau estava muito mal, sua vida andava por um fio.
Preparei o requerimento e enviei para Brasília em agosto de 2007 e para acelerar a tramitação juntei um atestado médico.
No dia 10 de abril de 2008, recebi a notícia de que o requerimento foi deferido. Estanislau Kokojiski havia sido anistiado e o Estado Brasileiro pedido desculpas a ele e sua família pelas perseguições e sofrimento ocorridas durante a ditadura civil-militar.
Corri para levar a boa notícia, para dizer ao bom amigo que sua luta não foi em vão. Que ele estava certo quando assumiu a presidência do Sindicato dos Produtores Autônomos de Cascavel, que valeu a pena ter lutado por justiça, que o Estado Brasileiro havia reconhecido que ele é um homem bom e justo.
Não deu. Quando cheguei na casa humilde do bairro operário, o homem bom e justo estava sendo velado.

Liberdade para a poetisa Angye Gaona


Em janeiro de 2011, a poeta colombiana Angye Gaona voltava de uma viagem para a Venezuela quando foi presa pela polícia da Colômbia acusada absurdamente de “narcotráfico” e “rebelião”. Durante longos 4 meses, mesmo sem provas, permaneceu encarcerada. Vencido o prazo máximo para seu julgamento, Angye teve que ser posta em liberdade. Mas agora, no dia 23 de janeiro de 2012, ela e mais 3 pessoas serão injustamente julgadas e correm o risco de pegar até 20 anos de prisão. 
Para entender o processo kafkiano por qual passa Angye (e milhares de outros colombianos) é preciso entender os reais motivos de sua prisão e, para isso, é preciso compreender a Colômbia, verdadeiro ponto-cego da América, apagada pela mídia e pouco discutida até mesmo pelas organizações de esquerda


Perau adentro
(Angye Gaona
tradução: Renato de Mattos Motta)

De Nascimento volátil

Sigo o caminho do osso do peito,
busco a origem da sede,
vou ao fundo de um perau de paredes prateadas,
sólidas mercê ao tempo.
movediças quando aluvião, 
quando a infância era glacial.

Coleto as radículas do pensamento.
As carrego na espalda erodida
junto ao agreste olvido que cai de mim.

Se assomam, 
desde pequenas covas, 
os indícios da dor
velozes burlam as visões
e voltam a ocultar-se na pele do perau.

Inscritas nas paredes, 
as coordenadas indecifráveis 
do raio pré-histórico 
que formou minha face.
Tempo da fundura, 
tempo sem sílaba, 
quando sou só um som
em trânsito à fadiga

Busco um manancial
que banhe a pergunta aderida à minha história.
busco a vida recém nascida
e acho a sede.

Sigo a senda do osso do peito.

“À memória dos assassinados sem devido processo”

profunda estrela,
alta
ruge na ampla dor
finita
da noite universal humanidade.
estrela em sangue negro flutuando no ardor.
oh esperança.
Como raízes no sudário,
estrela irmã
jorrando
beijando paciente
os cumes e as covas.
Alude a deslizamentos avalanches em todo o país;
enquantos as jóias sobrevivem incansáveis,
inalcançáveis.
estrela esta
conhecendo o alto:
coros transparentes debaixo das almofadas de musgo para sua acolhida.
água de estrela nas copas anfitriã
da fértil morte.
estrela de choque e geléia,
de pólen qualitativo abundante derramado na ampla dor
e a esperança peneirada sobre o manto.
estrela de guia passo invocação
de vitória contida;
no dorso do nada fulgurando
encandescendo encharcada.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Poesias dos artistas revolucionários do Coletivo rosa do povo


LUTO

Os trabalhadores em educação de MG estão em luto pela tragédia acontecida domingo, um trágico acidente ocorrido no município de Luz, Minas Gerais, envolvendo um ônibus que transportava participantes do 9º Congresso do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG).
A colisão provocou a morte de três pessoas que estavam no ônibus (um adulto e duas crianças) e de outras duas que estavam em um dos veículos envolvidos. Além disso, o acidente provocou também ferimentos em cerca de 45 pessoas, que foram atendidas nos hospitais de Betim, Divinópolis e Belo Horizonte. Aqui, deixo registrada a minha dor, minha indignação e minha esperança:

LUTO

A Edilene Maris, Gustavo e Luis Augusto 
...

Luto pela dor da tragédia,
sempre anunciada,
na rodovia da morte,
pelo descaso das autoridades


Luto pela humana irracionalidade
da louca corrida, da alta velocidade


Luto pela fatalidade
do irmão ferido,
do filho morto,
do companheiro vencido

Luto pela vida das crianças,
dos nossos filhos da classe trabalhadora
pela sua docilidade

Luto pela vida dos que não conheci,
arrancada com brutalidade,
na qual me reconheci

Luto pela esperança,
para vê-la renascer no sofrimento
da luta por uma justa sociedade

Luto, e continuarei lutando
Com força e serenidade.
De luto. 
Daniela Versieux


Texto e contexto

Testa e contesta
sem desarmonia ou pressa
ou a vida o arrasta
na areia o arremessa.

Testa e protesta
pra que se conformar
se sobra-nos a aresta
a transpor e tolerar?

Testa e atesta
nas ondas que lhe embalam
em agitada festa
que os sinos badalam.

Sonhar? Nada! Devaneia!
Quem sonha, dorme. Na lida
O bom é manter-se desperto.
Acorda! A ti e aos teus.
Férias da vida, anseia!
Um novo assalto aos céus!





Fábio Henrique de Carvalho

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Manifestação em São José dos Campos contra a desocupação do Pinheirinho

A prefeitura de Guarulhos exclui os artistas guarulhenses do Carnaval da cidade


Carnaval Guarulhos 2012

É muito bom ver acontecer o Desfile de Escolas de Samba em Guarulhos. Assistir a reconstrução das Agremiações após um abandono de muitos anos. Esperamos que ano após ano, as Escolas de Samba de Guarulhos se fortaleçam cada vez mais, e proporcionem grandes carnavais de rua para a alegria dos foliões.

No entanto, quero chamar atenção para os Fóruns de Cultura que estão acontecendo na Cidade de Guarulhos. Na realidade um termômetro, uma preliminar da III Conferência de Cultura da Cidade, obedecendo-se as proporções.

No último dia 09/02/2012 vários músicos locais estiveram no Fórum sobre Música realizado no Conservatório Municipal. O que chama atenção é o fato da maioria estar descontente com a política atual de nossa Secretaria de Cultura. São vários os motivos, como o baixo orçamento destinado a pasta, os valores de cachê pagos aos artistas locais, a demora no pagamento destes cachês após as respectivas apresentações, a preferência por artistas não locais, mesmo em face dos equipamentos hoje existentes na cidade, a insistência da administração pública preferir artistas ramificados em outras regiões em detrimento do artista municipal, a falta de uma política de inclusão, etc..

Bom, neste dia 09/02/2012 circulou anuncio da PMG em jornal local sobre o Carnaval Guarulhos 2012. Na programação consta a abertura do Carnaval no dia 11/02, os Desfiles de Carnaval de Rua nos dia 19,20 e 21/02/2012. Consta também da programação 07 Shows durante o Carnaval, cada Show contará com 03 (três) Grupos de Samba/Pagode, totalizando 21 grupos. Destes somente um grupo apresenta relação com Guarulhos.

Pelo visto a política atual não tem interesse em estar mudando seu roteiro, e mais uma vez não está prestigiando os artistas da cidade. Também me pergunto sobre a relação do evento com a Cultura Popular, uma vez que o Samba é o seu maior representante, um patrimônio cultural da humanidade. Em São Paulo contamos com aproximadamente 80 Comunidades de Samba Raiz, em Guarulhos contamos com pelo menos 05 Comunidades atuantes e que também realizam algum tipo de trabalho social em suas respectivas regiões. Essas Comunidades apresentam a história do Samba, interpretando compositores consagrados que desenvolveram o gênero em nosso país e também o surgimento e crescimento das Escolas de Samba. Fica difícil entender como não temos representação no Carnaval de nossa cidade.

Do jeito que a coisa anda, imagino no futuro realizarmos um Carnaval de Rua e para tanto contratarmos Escolas de Sambas de outros municípios, e somente uma agremiação da cidade para o evento.

Carlos J F Neto
Samba do Sino