segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Libertação dos heróis cubanos, uma vitória de todos os revolucionários


(Nota Política do PCB)
A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) se associa a todos os revolucionários do mundo em sua alegria e felicidade pela libertação dos três heróis cubanos encarcerados há 16 anos nas masmorras do império norte-americano, em condições desumanas (outros dois já tinham sido libertados anteriormente). A libertação de Gerardo Hernández, Antonio Guerrero y Ramón Labaniño representa uma vitória do povo cubano contra o imperialismo norte-americano, além de uma vitória dos movimentos de solidariedade em todo o mundo, que cumpriram um papel fundamental para a libertação.
A prisão desses heróis cubanos há mais de uma década e meia representa também a dupla moral do imperialismo. Esses camaradas estavam nos Estados Unidos cumprindo uma tarefa humanitária de evitar com que os terroristas gusanos, sediados em Miami, realizassem atentados contra alvos civis em Cuba, como aconteceu em diversas oportunidades, inclusive com a morte de um cidadão italiano. Enquanto prendiam os nossos heróis, deixavam livres Luis Posadas Carrilles, um terrorista profissional que colocou uma bomba em um avião civil cubano matando 73 pessoas em pleno vôo.
A luta pela libertação dos cinco camaradas representou um marco histórico e ficará na memória de todos os revolucionários como um exemplo de firmeza de um povo que, apesar das difíceis condições econômicas, fruto de um bloqueio criminoso que já dura mais de 50 anos, manteve alta sua moral revolucionária e foi capaz de despertar um movimento de solidariedade em todo o mundo, cujo resultado é a libertação dos três últimos heróis encarcerados nas masmorras do império.
Comemoremos essa vitória, mas sem esquecermos um só minuto de que nossa tarefa é dar continuidade à campanha pelo encerramento de vez desse bloqueio criminoso, que o próprio presidente dos Estados Unidos foi obrigado a reconhecer que não foi capaz de dobrar a moral revolucionária do povo cubano. Além do fim do bloqueio, os imperialistas devem devolver a Cuba seu território de Guantanamo, até hoje ocupado pelos Estados Unidos, e que tem servido de base para uma das mais abjetas prisões e práticas de tortura do mundo.
Viva o internacionalismo proletário!
Viva a liberdade dos heróis cubanos!
Comissão Política Nacional do PCB

FARC-EP declaram cessar unilateral ao fogo e às hostilidades por tempo indefinido


Quarta-feira, 17 de dezembro de 2014 Escrito por FARC-EP
Havana, sede dos diálogos de paz, 17 de dezembro de 2014
Cessar-fogo
«Ódio eterno aos que desejam sangue e o derramem injustamente»
Simón Bolívar, 1820, na assintaura do armistício com o espanhol Pablo Morillo
O ano de 2014 aproxima-se do final, após dois anos e alguns dias de diálogos de paz ocorridos em Havana, Cuba, entre plenipotenciários do governo colombiano e da Delegação de Paz das FARC-EP. Durante o tempo assinalado, trocamos teses, propostas e conquistamos alguns acordos parciais, mantendo-nos, a todo o momento, em pé de igualdade e com os mesmos direitos e deveres emitidos para ambas as partes do Acordo Geral de agosto de 2012. Atualmente, encontramo-nos estudando e buscando saídas para questões e problemas difíceis, por razão da natureza complexa destes últimos, ou porque em mais de cinquenta anos de conflito interno as soluções que deveriam ter sido aplicadas para benefício coletivo foram adiadas.
Os diálogos colocaram em manifesto que a pátria colombiana requer uma honesta e profunda revisão. A desigualdade e a pobreza generalizada, a incompetência estatal em fazer prevalecer o bom governo, a justiça e a paz não permitiram semear concórdia nem construir as bases de uma reconciliação perdurável. O conflito social e armado continua vigentes; originado na chamada “violência partidária”, na injusta visão histórica sobre assuntos vitais relativos à terra, na conduta indigna com o dinheiro público, na concentração sem limite da riqueza nacional em mãos contadas, cada vez mais esfomeadas, e em uma institucionalidade pública inútil por ter sido desprezada por inescrupulosos detentores do poder, confirma que na Mesa de Conversações, o caminho que os plenipotenciários possuem adiante é de uma imensidade sem precedentes.
Para nós que temos o compromisso de montar o cenário a partir do qual se construirá uma nova República com a ajuda de todos e cada um dos homens e mulheres que formam o componente humano de uma mesma pátria, os meses por vir são fundamentais. Dito cenário é único; não é qualquer. Trata-se, nada mais, nada menos, do cenário do agora ou nunca. É o cenário imaginado por todos, pelo qual lutamos e padecemos tanto: é o cenário da paz, da reconciliação, da irmandade com justiça social.
Apelando ao sagrado e irrevogável direito à rebelião, que por razões que sempre emanaram da desumana existência daqueles que tudo necessitam por ter-se negado o mínimo vital em todos os terrenos, buscamos com as armas, como último recurso de expressão política, pelo menos nos colocamos em pé de igualdade com o implacável adversário de todos os tempos, para que nossa voz, que é a do povo excluído não continuasse sendo ignorada. Por isso, não desperdicemos a atual conjuntura que serve para expor com justos títulos uma enorme quantidade de reclamações acompanhadas de dezenas de soluções. Encontramo-nos em Cuba para continuar forjando a Pátria Construamos entre tudo o porvir. É nosso chamado.
Ontem, durante a última audiência de vítimas do conflito para escutar seus relatos, evocamos, com inevitáveis sentimentos, as outras vítimas que ninguém recorda, porém que as FARC-EP sempre honram levando-as em sua memória individual e coletiva e pelas quais continua buscando a reconciliação nacional, porém revestida de tudo que possa significar a palavra “justiça”. As vítimas da inescrupulosa violência partidária, as vítimas dos “cortes de flanela”, as vítimas da primeira geração de paramilitares da década de cinquenta e sessenta do século passado, as vítimas da ditadura militar de ingrata recordação, as vítimas da ingerência estrangeira tolerada por governos bipartidaristas, as vítimas dos desaparecimentos forçados, das remoções e das execuções extrajudiciais.
As vítimas de Marquetalia, Ríochiquito, El Pato e Guayabero; as mesmas vítimas que nós, em defesa das altas localidades, possivelmente provocamos por erro; as vítimas dos homens do Estado e da força pública as vítimas militantes da União Patriótica as produzidas pela nova geração de paramilitares em conivência com agentes das diversas armas oficiais. As dos fornos, dos massacres, das motosserras e as que repousam nas tumbas de indigentes; ou as que cujos corpos flutuaram rio abaixo até desaparecer; e as que nunca foram registradas; e as vítimas da miséria e da forme, da desigualdade e, em geral, aquelas vítimas, que somos todos os colombianos, nas mãos desse, o maior e mais funesto de todos os algozes: o Estado.
Conforme o anterior, inspirados no direito dos povos, tradição constitucional colombiana e homenagem a todas as vítimas ocasionadas em razão do conflito buscamos superar, em consideração ao trabalho que nos compromete cada dia mais com o espírito traçado na parte relevante da agenda de Havana, e em atenção ao fato de acreditarmos ter iniciado um caminho definitivo para a paz, acompanhado de um processo constituinte, declaramos um CESSAR UNILATERAL AO FOGO E ÀS HOSTILIDADES POR TEMPO INDEFINIDO, que deve transformar-se em armistício. Para a conquista de seu pleno êxito, aspiramos contar com a supervisão da UNASUL, CELAC, do CICV e da Frente Ampla pela Paz. Este cessar-fogo unilateral, que desejamos que se prolongue no tempo, se daria por terminado somente caso seja constatado que nossas estruturas guerrilheiras são objeto de ataques por parte da força pública. É nosso anseio que o povo soberano assuma também e de maneira protagonista esta supervisão, dado que com ela se busque o benefício da pátria lacerada e uma homenagem às vítimas de ontem e de hoje.
Seja a oportunidade para chamar a atenção de forma clara e direta do Presidente Santos por ter mostrado, mais uma vez, sua alegria no twitter, pela morte de alguns de nossos companheiros de armas e de ideais, no domingo anterior. A guerra não pode ser motivo de felicidade, mas de pena. Assim, apresentam resultados que podem beneficiar episódica e transitoriamente a alguma das partes. Precisamente, o respeito aos caídos é um principio universal da humanidade, independente do grupo representado. Não mais circo, não mais exibicionismo de força incontrolada, não mais cobrança de faturas com o sacrifício de vidas alheias.
Queremos contrastar. Queremos superar os episódios inúteis de sangue. Já manifestamos esta nossa vontade várias vezes sem sermos ouvidos. Dessa maneira, manifestamos que o mencionado cessar-fogo e de hostilidades entrará em vigor às 00:01 horas de 20 de dezembro de 2014, data que conta com a disposição de verificação de, ao menos, uma das organizações mencionadas.
A presente decisão está sendo comunicada formalmente pelo governo da Colômbia: às Embaixadas e sedes diplomáticas a nosso alcance; ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU); à União Europeia; ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV); à União das Nações Sul-americanas (UNASUL); à CELAC; ao Papa Francisco; às outras lideranças religiosas reconhecidas universalmente; ao Centro Carter e às ONG’s de reconhecimento mundial.
Estamos dispostos a convocar em Havana todas as organizações colombianas sem fins lucrativos, amigas do processo de paz, para apresentar um informe sobre a iniciativa aqui exposta e com o propósito de convidá-las a apoiarem esta iniciativa pela paz da Colômbia.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Fonte: https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/14a59f325ba7bbe1
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Cuba e a jogada de Obama


Os Editores de odiario.info
O que leva um desacreditado presidente dos EUA a negociar com Cuba, na fase final do seu segundo mandato, a troca dos últimos 3 heróis ainda presos nos EUA por alguns espiões norte-americanos, a acordar uma futura troca de embaixadores em substituição dos actuais escritórios de interesses e a comprometer-se a dar passos para o levantamento do criminoso bloqueio que há mais de 52 anos os EUA impõem ilegitimamente a Cuba?
Não se pode esquecer que, apesar de ter uma maior capacidade intelectual que a generalidade dos presidentes norte-americanos do último século, e de apresentar um discurso fluente, bem elaborado e ritmado, Barack Obama apresenta a mesma mentalidade imperial, e a crença fundada na fé que os EUA são o Estado eleito, pelo que podem intervir sempre que «os [nossos] interesses básicos o exigirem, quando o [nosso] povo for ameaçado, quando os [nossos] modos de vida estiverem em jogo, quando a segurança dos [nossos] aliados estiver em perigo», como ele próprio afirmou aos jovens oficiais saídos da Academia de West Point em 28 de Maio último.
É cedo para tirar conclusões.
Quem poderá hoje avaliar o efeito da multiplicação explosiva de turistas americanos em Cuba, por exemplo?
E como afirmou Raúl Castro fica por resolver o principal obstáculo à normalização das relações entre os dois países: o levantamento do bloqueio comercial, económico e financeiro a Cuba, que os EUA mantêm ilegal e ilegitimamente há mais de 52 anos, mas também a revogação da Lei de Ajuste Cubano, da Lei Torricelli e da Lei Helmes Burton, sem o que o bloqueio não é verdadeiramente levantado.
Estes factos e a nova realidade, no entanto, não podem apagar a importância do que já foi acordado nem, principalmente, o grande mérito de Fidel Castro que, perante a incredulidade e a descrença de quase todos, em Setembro de 1998, profetizou em jeito de promessa: «Voltarão»!
http://www.odiario.info/?p=3497

Greve geral na Itália: o governo do PD contra os trabalhadores


BDF-616 – Edição de 18 a 24 de dezembro de 2014 – Itália Pág 16 - Internacional
LUTA SINDICAL - No dia 12 de dezembro, 60% dos trabalhadores italianos cruzaram os braços. Mais de 1,5 milhão de pessoas participaram das 54 manifestações da greve geral promovida pela CGIL, UIL e FIOM.
Achille Lollo de Roma (Itália) — Na Itália, o dia 12 de dezembro tem um significado particular, porque foi nesse dia que, em 1969, os serviços secre­tos e a direita maçônica monitoraram os grupos neofascistas para fazer explodir a “Estratégia da Tensão”, primeiro degrau para provocar a intervenção golpista das Forças Armadas e enclausurar a esquer­da e, sobretudo, o movimento sindical na ordem direitista da Otan.
Por isso, os secretários confederais Su­sanna Camusso, da CGIL, e Carmelo Bar­bagallo, da UIL, juntamente a Maurizio Landini, secretário geral da Federação dos Metalúrgicos (FIOM/CGIL), decidi­ram que a greve geral de 24 horas deve­ria ser realizada no dia 12, para juntar o simbolismo político da luta contra o gol­pismo e o neofascismo, com a posição fir­me dos trabalhadores contra a nova Lei do Trabalho (Jobs Act), que ataca fron­talmente o artigo primeiro da Constitui­ção, segundo o qual “a Itália é uma repú­blica fundada no trabalho”.
1,5 milhão nas ruas
Esta greve geral – a primeira a ser re­alizada desde 2006 contra um governo que diz ser de centro-esquerda – reali­zou 54 manifestações nas principais ci­dades italianas, juntando trabalhadores, estudantes, aposentados, desemprega­dos, imigrantes e os movimentos sociais. Uma realidade política evidente que de­monstra a ruptura de Matteo Renzi com as bases do PD, que, dessa forma, não controla mais a principal confederação sindical, a CGIL, e a combativa federa­ção dos metalúrgicos, a FIOM. Isso sig­nifica que daqui por diante o PD de Ren­zi não poderá mais garantir ao mercado a necessária “paz social”.
Após esta greve, que foi caracterizada por enfrentamentos entre os batalhões de choque da polícia e os movimentos sociais em Roma, Bolonha, Torino e Mi­lão tornou-se evidente as rupturas entre o governo e os sindicatos e também en­tre o PD e os trabalhadores em geral. Isto porque os deputados e senadores da cha­mada “Esquerda do PD” e da “Tendên­cia Minoritária” mudaram seu posicio­namento político ao votarem a nova Lei do Trabalho como Matteo Renzi exigiu.
Infelizmente, os parlamentares dissi­dentes do PD se esqueceram do blá blá blá dos opositores e votaram o Jobs Act, para respaldar o novo grupo dirigente do PD. Porém, é preciso lembrar que antes dessa votação, Renzi foi muito claro ao di­zer aos deputados e senadores “dissiden­tes” que nas próximas eleições deveriam procurar outro partido – uma chantagem política e emocional que pesou bastante na consciência e, sobretudo, no bolso da maioria dos parlamentares do PD.
Dilema
Para muitos deles se apresentou o dile­ma: o que vou fazer sem o rico salário de parlamentar? Posso renunciar a podero­sa estrutura eleitoral do aparelho parti­dário do PD e renunciar a possibilidade de ser reeleito? Posso desistir dos benefí­cios materiais que o Parlamento propor­ciona, sobretudo agora que o PD está no governo, além de dirigir as principais re­giões e prefeituras?
É claro que a maior parte dos parla­mentares do PD, para segurar sua cadei­ra no Parlamento, preferiu baixar a cabe­ça ao “diktat” de Renzi.
Na realidade, somente o pequeno gru­po de senadores “dissidentes” do PD, li­gados ao ex- diretor do noticiário de TV RAINEWS, Corradino Minneo, votou contra e mais três deputados dissiden­tes que optaram não comparecer no dia da votação. Um comportamento que deu um basta às polêmicas sobre a expulsão dos dissidentes e a consequente forma­ção de um novo partido sob a direção de Massimo D’Alema. Aliás, o mesmo, no dia da greve geral, em Bari, foi vaiado e chamado de “vendido”.
Um contexto que a grande mídia, e em particular o jornal La Repubblica, acom­panhou com manchetes cubitais, dando sempre respalda a Renzi, que se apro­veitou disso para desafiar com muita ar­rogância as lideranças sindicais, apesar dessas terem pedido um encontro com o governo para tentar rever a nova Lei do Trabalho.
A resposta do governo veio logo para demonstrar aos sindicatos que não temia a greve geral. Por isso, o ministro do In­terior, Angelino Alfano, ordenou aos di­retores da polícia de choque reprimirem “qualquer manifestação não autorizada”. Assim, na semana que antecedeu a greve geral houve uma desagradável encena­ção do “poder policial” contra os piquetes de operários que, em Roma, Terni, Bolo­nha, Nápoles e Turim protestavam pelo fechamento de suas fábricas.
Nesse contexto, Alfano ordenou a re­tirada dos batalhões de choque das ru­as somente quando o secretário-geral da FIOM-CGIL, Maurizio Landini, amea­çou ocupar a capital com os metalúrgicos para interrogar e chamar a responsabili­dade do governo – ao participar em um desses piquetes e, portanto, ter presen­ciado os violentos espancamentos com cassetetes e os ataques com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo.
De novo os metalúrgicos?
A greve geral foi saudada por três li­deranças sindicais: Susanna Camusso, da CGIL; Carmelo Barbagallo, da UIL; e Maurizio Landini, da FIOM/CGIL. Po­rém, foi Landini quem mais se destacou na semana que antecedeu a greve geral e depois na grande manifestação de Roma. Uma ousadia e uma determinação políti­ca que tem tudo a ver com a história da federação dos metalúrgicos e a forma­ção política de Landini, que aos 15 anos, começou a trabalhar como soldador em uma “cooperativa vermelha”, sendo já militante da juventude do PCI e filiado à FIOM/CGIL.
De fato, as temáticas de Camusso e de Barbagallo foram muito “light”, não ar­riscando o enfrentamento político com o governo, para deixar aberta uma por­ta a eventuais negociações. Praticamen­te, debaixo dos tons e de certas frases proferidas com alterações verbais pa­ra acalmar a massa de operários, estu­dantes, aposentados, desempregados e, sobretudo, mulheres não havia uma es­pecífica vontade política de brigar com o governo, tal como aconteceu em 2002 contra Berlusconi.
O problema é que Camusso e Barba­gallo fizeram lindas intervenções, cheias de corados adjetivos e de críticas ao go­verno só porque, naquele momento, sen­tiram-se obrigados a fazê-las, pois, ca­so contrário, todo o comando político da greve geral passaria às mãos dos meta­lúrgicos da FIOM/CGIL, liderados por Landini, que, por sua vez, sempre mani­festou posições de esquerda.
Não podemos esquecer que esta gre­ve geral vem depois de anos e anos de conciliadora “concertación” por parte das direções da CGIL e da UIL que, pa­ra tentar salvar a histórica aliança com a CISL e, portanto, manter a chamada “unidade nas lutas”, na realidade, limi­taram a defesa dos trabalhadores aos mínimos termos. Tanto é que hoje, na Itália, o nível do desemprego atingiu 13%, também em função do “espírito conciliador com os empresários” dessas três confederações.
Por isso tudo, os metalúrgicos – que foram os mais atacados com o “contra­to FIAT” e com a desmobilização das fá­bricas para o exterior – voltaram a assu­mir no movimento sindical um papel di­rigente preponderante. De fato, não po­demos esquecer que o Estatuto dos Tra­balhadores – que agora o PD de Mat­teo Renzi acabou de desmontar – foi uma das grandes conquistas que os me­talúrgicos e a FIOM/CGIL lograram em 1970, após dois anos de duríssimas lutas e enfrentamentos contra os governos da Democracia Cristã.
“Essa luta ainda não acabou”, diz Maurizio Landini
Brasil de Fato — Como você avalia essa greve geral que mobilizou nas ruas mais de 1,5 milhão de pessoas?
Maurizio Landini: “...Essa é uma res­posta, sobretudo, para aqueles que não acreditavam no sucesso da greve e pa­ra aqueles que não queriam um enfren­tamento com o governo por ser um go­verno do Partido Democrático. Na rea­lidade, o sucesso da greve geral foi mui­to importante porque demonstra que somente com a luta é possível repre­sentar os interesses dos trabalhadores e melhorar as condições de trabalho, reivindicando um sistema de aposen­tadoria mais justo e com a redução da idade para se aposentar, reivindicando, também, o emprego para quem não o tem e, consequentemente, combater o trabalho precário e todas as formas ne­fastas de flexibilização. Essa greve ge­ral serviu, portanto, para recolocar es­sas questões na ordem do dia. É uma batalha que começamos e que continu­aremos a fazer juntos...”.
Brasil de Fato — Quando Matteo Renzi, estimulado pelo Banco Central Europeu e pela FIAT, de Marchionne, antecipou o projeto da nova Lei do Trabalho (Jobs Act) você logo assumiu uma posição crítica. Pode explicar os motivos?
Maurizio Landini: “...As normas que o governo colocou no Jobs Act são erradas e injustas. São nor­mas que não servem para criar novos empregos, não enfrentam o problema dos trabalhadores precários, não resol­vem outro grande problema que ó o de­semprego juvenil. Tampouco ajudarão a Itália a sair da crise econômica que, na prática, enterrou o crescimento do país, por conta de gastos inúteis, da corrupção e das múltiplas ilegalidades no mundo do trabalho e no social.
Brasil de Fato — Por qual motivo a “grande mídia” limita a greve geral a um protesto contra a cassação do Art. 18?
Maurizio Landini: “...Na realidade, existe uma clara posi­ção política de fechamento para dividir os trabalhadores e podê-los submeter a tudo. Com essa nova Lei do Trabalho, o governo optou pela redução dos direi­tos, após ter assumido as fórmulas de quem acha que os novos empregos se criam somente desempregando. Pois, essa gente esqueceu que o trabalho é a condição fundamental para os homens e as mulheres viverem e viverem com dignidade.
Brasil de Fato — A greve geral conclui um ciclo de mobilizações?
Maurizio Landini: “...Nada disso! Essa luta ainda não aca­bou. Com a votação no Parlamento do Jobs Act, nós continuaremos a lutar porque o governo deverá ainda imple­mentar essa nova lei e em algum mo­mento o governo deverá também deci­dir o rumo das opções da sua política econômica...”.
Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.