segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Crônica: No ônibus


Renato Queiroz Alves
O poético silêncio da espera cansada do fim do labor reina no ponto de ônibus, em que operários impacientes querem voltar para casa.
Sobe no ônibus vazio, é o ponto de partida, há pouca gente. Traz consigo, carregando nos ombros sua cesta básica, comprada todos os dias durante as duas primeiras horas de trabalho. Sendo que a primeira corresponde ao seu salário, a segunda corresponde aos seus direitos, entre eles a cesta básica, e o resto, isto é, sete horas, representam o sobre-trabalho, a mais valia, o lucro do patrão, horas roubadas do trabalho social, exploração.
Não há como mudar nada sozinho e nem tão cansado, por isso sobe no ônibus, põe sua cesta básica no chão, os braços cansados dos trabalhos, tanto concreto quanto abstrato, descansam um pouco agora.


Senta-se, a viagem começa. Há poucos ônibus nessa linha, que liga um bairro fabril a um bairro operário, por isso, aos poucos começa a chegar mais gente, cada vez mais, tanto que obriga o homem que entrou primeiro a travar sua cesta básica na parte de baixo do banco em que sentara.
Mais rostos, mais operários, sobem, chegam, alguns sentados, muitos em pé. Há homens, mulheres, velhos e jovens, todos com características comuns.
Em determinado momento a situação fica caótica, pessoas amontoam-se. Por alguns minutos, pressionado pela multidão contra a porta do ônibus,  que não pôde fechar completamente, um operário viaja em plena rodovia — das mais movimentadas— dependurado.


Aos poucos, a medida que o ônibus se aproxima do ponto final, começa a esvaziar, o amontoado começa a diminuir, rostos cansados começam a surgir.
E ali, escondida e calada, como deve ser a pequena parcela de trabalho que é, estava a cesta básica do trabalhador.

Crônica: No ônibus

Renato Queiroz Alves



O poético silêncio da espera cansada do fim do labor reina no ponto de ônibus, em que operários impacientes querem voltar para casa.
Sobe no ônibus vazio, é o ponto de partida, há pouca gente. Traz consigo, carregando nos ombros sua cesta básica, comprada todos os dias durante as duas primeiras horas de trabalho. Sendo que a primeira corresponde ao seu salário, a segunda corresponde aos seus direitos, entre eles a cesta básica, e o resto, isto é, sete horas, representam o sobre-trabalho, a mais valia, o lucro do patrão, horas roubadas do trabalho social, exploração.
Não há como mudar nada sozinho e nem tão cansado, por isso sobe no ônibus, põe sua cesta básica no chão, os braços cansados dos trabalhos, tanto concreto quanto abstrato, descansam um pouco agora.
Senta-se, a viagem começa. Há poucos ônibus nessa linha, que liga um bairro fabril a um bairro operário, por isso, aos poucos começa a chegar mais gente, cada vez mais, tanto que obriga o homem que entrou primeiro a travar sua cesta básica na parte de baixo do banco em que sentara.

Mais rostos, mais operários, sobem, chegam, alguns sentados, muitos em pé. Há homens, mulheres, velhos e jovens, todos com características comuns.
Em determinado momento a situação fica caótica, pessoas amontoam-se. Por alguns minutos, pressionado pela multidão contra a porta do ônibus,  que não pôde fechar completamente, um operário viaja em plena rodovia — das mais movimentadas— dependurado.
 Aos poucos, a medida que o ônibus se aproxima do ponto final, começa a esvaziar, o amontoado começa a diminuir, rostos cansados começam a surgir.
E ali, escondida e calada, como deve ser a pequena parcela de trabalho que é, estava a cesta básica do trabalhador.

Orçamento participativo: demagogia da prefeitura


A cada dois anos a prefeitura realiza o orçamento participativo, suposta instância democrática de participação popular, capaz de deliberar as demandas imediatas de cada bairro, enviando essa “carta de reivindicações” ao prefeito Almeida, além de eleger delegados que acompanharão o atendimento dessa demanda pela prefeitura.


É evidente que não se trata de outra coisa além de uma ferramenta de cooptação, para que a burguesia possa acalmar os trabalhadores e impedir sua luta e organização.

Não podemos nos deixar enganar por falsas assembléias, que emitem carteirinhas para dar um tom de cidadania ao espetáculo e distribuem panfletinhos bolados por marqueteiros exibindo fotos de atores pagos para posar felizes ao lado de alguma obra irrelevante paga pelo próprio trabalhador através de impostos.
Em 2009, o orçamento paticipativo — assim como cada um desde 2001 — deliberou a construção de uma creche ou UBS no terreno inutilizado do CDHU no padre bento, em frente ao estádio do Flamengo. Essa deliberação é ignorada pela prefeitura ano após ano, e isso é apenas um dos inúmeros exemplos.
Está cada vez mais claro que a prefeitura age do acordo com o interesse da especulação imobiliária e da elite da cidade. só conquistaremos nossas demandas através de luta, mobilização e organização.
A participação no orçamento participativo deve denunciar e desmascarar o caráter demagógico dessa ferramenta burguesa.


Sete pontos acerca da Líbia



imagemCrédito: PCB
Domenico Losurdo
Doravante mesmo os cegos podem ver e compreender o que está a acontecer na Líbia:
1. O que se passa é uma guerra promovida e desencadeada pela OTAN. Esta verdade acaba por se revelar até mesmo nos órgãos de "informação" burgueses. No La Stampa de 25 de Agosto, Lucia Annunziata escreve: é uma guerra "inteiramente externa,ou seja, feita pelas forças da OTAN"; foi "o sistema ocidental que promoveu a guerra contra Kadafi". Uma peça do International Herald Tribune de 24 de Agosto mostra-nos "rebeldes" que se regozijam, mas eles estão comodamente instalados num avião que traz o emblema da OTAN.
2. Trata-se de uma guerra preparada desde há muito tempo. O Sunday Mirror de 20 de Março revelou que "três semanas" antes da resolução da ONU já estavam em ação na Líbia "centenas" de soldados britânicos, enquadrados num dos corpos militares mais refinados e mais temidos do mundo (SAS). Revelações ou admissões análogas podem ser lidas no International Herald Tribune de 31 de Março, a propósito da presença de "pequenos grupos da CIA" e de uma "ampla força ocidental a actuar na sombra", sempre "antes do desencadeamento das hostilidades a 19 de Março".
3. Esta guerra nada tem a ver com a protecção dos direitos humanos. No artigo já citado, Lucia Annunziata observa com angústia: "A OTAN que alcançou a vitória não é a mesma entidade que lançou a guerra". Nesse intervalo de tempo, o Ocidente enfraqueceu-se gravemente com a crise económica; conseguirá ele manter o controle de um continente que, cada vez mais frequentemente, percebe o apelo das "nações não ocidentais" e em particular da China? Igualmente, este mesmo diário que apresenta o artigo de Annunziata, La Stampa,em 26 de Agosto publica uma manchete a toda a largura da página: "Nova Líbia, desafio Itália-França". Para aqueles que ainda não tivessem compreendido de que tipo de desafio se trata, o editorial de Paolo Paroni (Duelo finalmente de negócios) esclarece: depois do início da operação bélica, caracterizada pelo frenético ativismo de Sarkozy, "compreendeu-se subitamente que a guerra contra o coronel ia transformar-se num conflito de outro tipo:   guerra económica, com um novo adversário:   a Itália obviamente".
4. Desejada por motivos abjectos, a guerra é conduzida de modo criminoso. Limito-me apenas a alguns pormenores tomados de um diário acima de qualquer suspeita. O International Herald Tribune de 26 de Agosto, num artigo de K. Fahim e R. Gladstone, relata: "Num acampamento no centro de Tripoli foram encontrados os corpos crivados de balas de mais de 30 combatente pró Kadafi. Pelo menos dois deles estavam atados com algemas de plástico e isto permite pensar que sofreram uma execução. Dentre estes mortos, cinco foram encontrados num hospital de campo; um estava numa ambulância, estendido numa maca e amarrado por um cinturão e tendo ainda uma transfusão intravenosa no braço".
5. Bárbara como todas as guerras coloniais, a guerra actual contra a Líbia demonstra como o imperialismo se torna cada vez mais bárbaro. No passado, foram inumeráveis as tentativas da CIA de assassinar Fidel Castro, mas estas tentativas eram efectuadas em segredo, com um sentimento de que se não é por vergonha é pelo menos de temer possíveis reacções da opinião pública internacional. Hoje, em contrapartida, assassinar Kadafi ou outros chefes de Estado não apreciados no Ocidente é um direito abertamente proclamado. O Corriere della Sera de 26 de Agosto de 2011 titula triunfalmente: "Caça a Kadafi e seus filhos, casa por casa". Enquanto escrevo, os Tornado britânicos, aproveitando também a colaboração e informações fornecidas pela França, são utilizados para bombardear Syrte e exterminar toda a família de Kadafi.
6. Não menos bárbara que a guerra foi a campanha de desinformação. Sem o menor sentimento de pudor, a OTAN martelou sistematicamente a mentira segundo a qual suas operações guerreiras não visavam senão a protecção dos civis! E a imprensa, a "livre" imprensa ocidental? Ela, em certo momento, publicou com ostentação a "notícia" segundo a qual Kadafi enchia seus soldados de viagra de modo a que eles pudessem mais facilmente cometer violações em massa. Como esta "notícia" caiu rapidamente no ridículo, surge então uma outra "nova" segundo a qual os soldados líbios atiram sobre as crianças. Nenhuma prova é fornecida, não se encontra nenhuma referência a datas e lugares determinados, nenhuma remessa a tal ou tal fonte: o importante é criminalizar o inimigo a liquidar.
7. Mussolini no seu tempo apresentava a agressão fascista contra a Etiópia como uma campanha para libertar este país da chaga da escravidão; hoje a OTAN apresenta a sua agressão contra a Líbia como uma campanha para a difusão da democracia. No seu tempo Mussolini não cessava de trovejar contra o imperador etíope Hailé Sélassié chamando-o "Negus dos negreiros"; hoje a OTAN exprime seu desprezo por Kadafi chamando-o "ditador". Assim como a natureza belicista do imperialismo não muda, também as suas técnicas de manipulação revelam elementos significativos de continuidade. Para clarificar quem hoje realmente exerce a ditadura a nível planetário, ao invés de citar Marx ou Lénine quero citar Emmanuel Kant. Num texto de 1798 (O conflito das faculdades), ele escreve: "O que é um monarca absoluto? Aquele que, quando comanda: 'a guerra deve fazer-se', a guerra seguia-se efectivamente". Argumentando deste modo, Kant tomava como alvo em particular a Inglaterra do seu tempo, sem se deixar enganar pela forma "liberal" daquele país. É uma lição de que devemos tirar proveito: os "monarcas absolutos" da nossa época, os tiranos e ditadores planetários da nossa época têm assento em Washington, em Bruxelas e nas mais importantes capitais ocidentais.

Matando a verdade: Mahdi Nazemroaya ameaçado pelos rebeldes ao serviço da OTAN, aliança militar imperialista



imagem
Jornalista Mahdi comprometido com a verdade
Crédito: Resistir.info
Michel Chossudovsky
Mahdi Darius Nazemroaya, juntamente com Thierry Meyssan estão agora isolados no centro de media do hotel Rixos, em Tripoli, em meio do combate do combate pesado que se verifica em torno.
Pedimos aos nossos leitores para reflectir sobre o que Mahdi estava a tentar conseguir no centro de media do Rixos: reportagem factual honesta, com preocupação pela vida humana, em solidariedade com os homens, mulheres e crianças líbios que perderam suas vidas em raids de bombardeamento sobre áreas residenciais, escolas e hospitais.
A vida de Mahdi está ameaçada por nos contar a verdade, por revelar crimes de guerra da OTAN.
A "construção da democracia" na Líbia, dizem-nos, exige o bombardeamento extensivo de todo o país, sob o "Responsability to Protect" (R2P) da OTAN.
Mas Mahdi questiona tal conceito. Ele desafia os próprios fundamentos da guerra de propaganda, a qual apoia um acto de guerra como esforço de pacificação.
Durante os últimos dias, todo o nosso tempo e energia tem sido dedicado a garantir a segurança de Mahdi, Thierry e vários outros jornalistas independentes aprisionados no Rixos Hotel.
A atmosfera dentro do centro de media do Rixos Hotel, em Tripoli, deve ser entendida.
Os media de referência (mainstream), incluindo a CNN e a BBC, têm ligações directas à OTAN, ao Conselho de Transição e às forças rebeldes. Eles estão a servir os interesses da OTAN de um modo directo através da maciça distorção dos media.
Ao mesmo tempo, aqueles no Centro de Media do Rixos que estão comprometidos com a verdade são o objecto de ameaças veladas. No caso de Mahdi, as ameaças foram muito explícitas.
Aqueles que dizem a verdade são ameaçados.
Aqueles que mentem e aceitam o consenso da OTAN terão as suas vidas protegidas. As forças especiais da OTAN a operarem dentro das fileiras rebeldes garantirão a sua segurança.
Neste ambiente repulsivo, romperam-se ligações pessoais. Os jornalistas dos media independentes, bem como aqueles de países não-OTAN incluindo China, Irão, América Latina, são considerados "persona non grata" pelos grupos dos media de referência dentro do hotel.
Mahdi diz a verdade. Ele desafia directamente as mentiras dos media de referência.
As reportagens de Mahdi ameaçam o consenso dos media da OTAN.
O que ele está a descrever é a destruição de todo um país, das suas instituições, da sua infraestrutura.
Esta matança e destruição, dizem-nos, é necessária para instaurar "democracia" sob a bandeira colonial do rei Idris.
Mentem-nos do modo mais desprezível. As vítimas da agressão da OTAN são designadas como "criminosos de guerra", ao passo que os perpetradores da guerra são saudados como Libertadores.
A mentira tornou-se a verdade e é por isso que a vida de Mahdi está ameaçada.
A guerra torna-se paz, de acordo com o consenso da OTAN.
A "comunidade internacional" carimbou a campanha de bombardeamento da OTAN dizendo que Kadafi é um ditador.
Repetido ad nauseam, as pessoas finalmente aceitam o consenso. A matança é um esforço de pacificação.
Como poderia ser de outra forma: Todos os media, todos os noticiários, por toda a terra, gente no governo, intelectuais, todos aceitaram este consenso.
Realidades são voltadas de pernas para o ar. Pessoas já não são mais capazes de pensar.
Elas aceitam o consenso porque ele emana de uma autoridade superior a qual não ousam questionar.
Isto é de facto a própria base de uma doutrina inquisitorial.
Os suportes "humanitários" da "Responsability do Protect", contudo, superam em muito a Inquisição Espanhola.
O que estamos a tratar é de um dogma que ninguém pode questionar.
Mahdi Nazemroaya desafiou este consenso ao revelar as mentiras dos media de referência.
Uma vez rompido o consenso da OTAN, a legitimidade instigadores da guerra entra em colapso como um castelo de cartas.
E é por isso que a vida de Mahdi Nazemroaya está ameaçada.
Isto é uma guerra do século XXI. É uma guerra que afirma não ser guerra.
Todos os protocolos e convenções referentes à guerra deixam de ser aplicados.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha não se encontra no terreno. Eles não têm mandato porque oficialmente isto não é uma guerra.
Esta é a mais desprezível e imoral guerra da história, na medida em que mesmo activistas anti-guerra, políticos de esquerda e os chamados progressistas aplaudem-na. "Kadafi é o ditador, ele deve ir".
É uma blitzkrieg com os mais avançados sistemas de armas. Vinte mil raids desde 31 de Março, segundo estatísticas da OTAN, cerca de 8000 raids de ataques.
Cada raid de ataque inclui vários alvos, a maior parte dos quais são civis.
Comparar isto com os bombardeamentos da II Guerra Mundial ou do Vietname...
Nossa determinação é trazer Mahdi de volta ao Canadá, garantir o seu retorno seguro.
Divulguem por toda a parte.
24/Agosto/2011/12.22am EDT

Sócrates responde à Folha (burguesa) de S. Paulo acerca da democracia cubana



imagemCrédito:Blogdopaulinho.net
Folha: Por falar nisso, em toda essa impressionante onda de carinho que cercou você nesses dias, há também quem diga que de democrata você não tem nada porque deu o nome de Fidel a seu caçula. É mais uma de suas contradições?
Sócrates: De fato, estou tirando muita coisa de positivo neste meu quase nascer de novo. Quanto ao Fidel Castro, símbolo da Revolução Cubana, como Che Guevara, as pessoas estão mal informadas. No nosso país se conhece muito pouco o que acontece fora daqui e mesmo aqui dentro. A estrutura política cubana é extremamente democrática. Eu queria que meu filho nascesse lá, eu queria ser um cubano. Nós estivemos lá agora, nós fomos passear! Peguei minha mulher e fui lá, passear, curtir lampejos de humanidade. Um povo como aquele, numa ilhota, que há mais de 60 anos briga contra um império, só pode ser muito forte, e ditadura alguma faz um povo tão forte. Ditadura não é tempo de serviço, necessariamente é qualidade de serviço. Em Cuba, o povo participa de tudo, em cada quarteirão. E aqui? Pra quem você reclama? Você vota e não tem pra quem reclamar.

LÍBIA: Contra a guerra imperialista!



imagemCrédito: PCB
(Nota Política do PCB)
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) manifesta sua indignação militante e condena com veemência a ocupação da Líbia pelas tropas da OTAN, travestida de proteção à população do País e apoio humanitário. Trata-se de uma das mais vergonhosas intervenções do imperialismo numa nação soberana, o que demonstra que, diante da crise sistêmica global, a bestialidade e a ganância imperiais não têm mais limites. O PCB também manifesta a sua solidariedade aos combatentes e milicianos líbios que estão enfrentando heroicamente a maior máquina militar do planeta.
Para o PCB, não se trata de defender o governo de Kadafi, mas de combater o imperialismo. O regime inspirado no “Livro Verde” não é socialista nem democrático. A Líbia foi escolhida como o atual alvo da cobiça imperial, em razão de suas imensas riquezas naturais, de seu histórico de luta pela soberania, de sua localização estratégica e de uma relativa independência em relação ao imperialismo, que não mais se contenta em ser apenas sócio dessas riquezas.
A ocupação militar da Líbia é uma grave advertência não só para os povos árabes, especialmente a Síria e o Irã, mas para todos os povos do mundo. O imperialismo, ferido nas suas entranhas, está cada vez mais agressivo e não hesita em promover uma escalada de guerras em todas as regiões do globo, para ativar seu complexo industrial militar e se safar de sua crise global.
A invasão da Líbia foi uma decisão dos países imperialistas, especialmente Estados Unidos, França e Inglaterra, visando a controlar o petróleo e o gás líbio, além dos recursos do tesouro nacional, que Kadafi ingenuamente depositou nos bancos ocidentais, imaginando que isso lhe pouparia da fúria imperialista. Nesta guerra, esses países se comportaram como verdadeiros piratas modernos, congelando os recursos financeiros líbios investidos no exterior e saqueando as reservas em ouro depositadas no Banco Central líbio.
A brutal intervenção pode ser considerada uma das mais bárbaras da história moderna, pois nestes meses de guerra a OTAN realizou mais de 20 mil bombardeios aéreos, dos quais 8 mil com bombas inteligentes guiadas a laser e outras de efeito moral, para criar um clima de pânico junto à população. Além disso, centenas de helicópteros Apache varrem diariamente os céus da Líbia atirando contra tudo que se move. A parafernália da guerra se completa com os ataques maciços dos drones, aviões de guerra não tripulados, que despejam também toneladas de bombas no País.
Esses ataques destruíram completamente a infraestrutra líbia e não pouparam residências, universidades, hospitais, estradas, quartéis, estações retransmissoras de rádio e TV, matando milhares de pessoas e criando assim um cenário de terra arrasada, a partir do qual a OTAN enviou as tropas especiais do Comando Alfa e dezenas de comandos especiais da Arábia Saudita e Qatar para tomar os pontos estratégicos do País. Depois do serviço realizado, então chamam “os rebeldes” para fazer figuração para a TV, como se tivessem sido eles os que tomaram cidades e objetivos estratégicos.
Na verdade, esses “rebeldes” não teriam a menor condição de circular em território líbio se não estivessem na retaguarda das tropas da OTAN. Trata-se de um bando de lumpens, aos quais se aliaram monarquistas, antigos exilados, mercenários estrangeiros e alguns dissidentes do regime. Não têm a mínima unidade. O que move esses bandoleiros é a repartição do butim de guerra. Foram treinados improvisadamente pela CIA e serviços secretos da França e Inglaterra mas não possuem habilidades militares, tanto que entram em pânico a qualquer disparo da resistência no interior do País.
Não é a primeira vez que o imperialismo procura vencer guerras com pretextos hipócritas, criando ficticiamente “exércitos rebeldes”, para atingir seus objetivos políticos e econômicos. Foi assim na Iugoslávia, que resultou em seu desmembramento em várias repúblicas; depois foi no Kosovo, onde chegaram a criar uma “guerrilha” cuja cúpula era constituída de chefões traficantes de drogas, como ficou demonstrado mais tarde. O imperialismo perdeu completamente os escrúpulos nessa fase de decadência.
Diante de todas estas evidências, causa repugnância e vergonha que certas forças políticas no Brasil, fantasiadas de esquerda, estejam apoiando esta guerra imperialista, apresentando os mesmos argumentos que o aparato manipulatório da mídia internacional tenta vender diariamente ao mundo. Chegam ao ponto de caracterizar os acontecimentos na Líbia como a “vitória de uma revolução popular”.
Isso significa que esses setores não apenas se comportam historicamente como a mão esquerda da direita e do imperialismo, como também cometem uma infâmia contra todo o povo líbio e as forças que no mundo inteiro dão combate ao imperialismo. Objetivamente, fazem o jogo do imperialismo, do qual são agentes de fato.
A invasão da Líbia pela OTAN deve servir de lição para todos os governantes e povos do mundo: neste momento de crise imperial, não adianta querer conciliar com o imperialismo. Ele aproveita a conciliação e exige mais concessões. A hora é de arregaçar as mangas e construir um amplo movimento mundial antiimperialista e anticapitalista, com capacidade de colocar as massas em movimento para derrotar os inimigos da humanidade.
Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
26 de agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Líbia: Agressão imperialista e neocolonialista falseada pela mídia burguesa internacional


A entrada em Tripoli dos bandos do auto denominado Conselho Nacional de Transição e a ocupação da residência e quartel general de Muamar Kadhafi foram aclamados pelo presidente Obama, os governos da União Europeia e as media ocidentais como desfecho da cruzada libertadora da Líbia e vitória da democracia e da liberdade sobre a tirania e a barbárie.
Poucas vezes na Historia a desinformação cientificamente montada ao serviço de ambições inconfessáveis terá tido tanto êxito em transformar a mentira em verdade, ocultando o significado da agressão a um povo.
Desde o inicio em Março dos bombardeamentos selvagens a Tripoli, a oratória farisaica de Obama, Sarkozy e Cameron funcionou como cobertura de um projecto imperial que, sob o manto de pretensa «intervenção humanitária destinada a proteger as populações», tinha como predestinado objectivo tomar posse do petróleo e do gás, bem como dos importantes activos financeiros do estado Líbio.
Planearam o crime com muita antecedência. A «insurreição» de Benghazi foi preparada por agentes da CIA; comandos britânicos treinaram uma escória de mercenários armada pelos EUA e pela Grã-bretanha; a chamada Zona de Exclusão Aérea não passou de um slogan para facilitar a passagem pelo Conselho de Segurança e iludir o propósito da subsequente intervenção militar; a anunciada não participação da Força Aérea Americana, nos primeiros dias dos bombardeamentos, foi só uma farsa porque a OTAN, que assumiu a direcção da guerra, é um instrumento dos EUA por estes controlada, e porque as próprias forças aeronavais estado-unidenses interviriam activamente nos bombardeamentos e na guerra cibernética.
Mas as coisas não correram como eles desejavam. Os «rebeldes» somente entraram em Tripoli transcorridos seis meses. As suas vitórias foram forjadas pela comunicação social. A OTAN acreditava poder repetir o que aconteceu na Jugoslávia, onde os bombardeamentos aéreos forçaram Mihailovich a capitular. Kadhafi resistiu, apoiado por grande parte do povo líbio. Independentemente do balanço que se faça da sua intervenção na Historia em quatro décadas de poder absoluto,  Muamar Kadhafi resistiu com bravura à agressão desencadeada pelas maiores potencia militares Ocidentais. A tropa fandanga do CNT foi um exército ficcional que somente avançava à medida que as bombas da OTAN reduziam a ruínas as infra-estruturas líbias. Milhares de civis líbios foram massacrados nesta guerra repugnante.
Nos últimos dias, uma orgia de violência irracional atingiu Tripoli. O bombardeamento sónico, para aterrorizar a população, coincidiu com as bombas que caíam do céu. Os invasores submeteram a cidade a um saque medieval, matando, saqueando, violando, num cenário de horror. Os media europeus e norte americanos difundiam noticias falsas. A bandeira da corrupta monarquia senussita foi hasteada em Terraços donde «rebeldes» disparavam sobre o povo.
Os muitos milhares de milhões de dólares do povo líbio depositados na banca internacional foram confiscados pelos governos ocidentais.
Mas, para frustração de Washington e seus aliados, a resistência prossegue enquanto que o paradeiro de Kadhafi e outros responsáveis líbios, que não se submeteram, é desconhecido.
Sobre o CNT, um saco de gatos mascarado de governo provisório, chovem agora felicitações.
Cavaco Silva e Passos Coelho, obviamente, associaram-se a esse coro da desvergonha, cumprindo o seu papel de pequenos sátrapas coloniais.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Discurso do secretario geral do PCV no congresso partidário



Caracas, Tribuna Popular TP – Em um emocionado e combativo ambiente unitário, se desenvolveu a instalação do XIV Congresso do Partido Comunista da Venezuela (PCV), o secretário geral do Partido colocou no centro de sua intervenção o controle operário das empresas de produção e o papel político que deve jogar a classe operária venezuelana para avançar na direção da revolução bolivariana e do socialismo.
O XIV Congresso do PCV, foi instalado ontem na Sala Plenária do Parque Central, com a assistência de una ampla delegação internacional dos partidos comunistas, operários e movimentos de Libertação Nacional de todo o planeta.
Ademais, contou com a presença dos principais dirigentes do movimento operário classista venezuelano, encabeçado pela União Nacional de Trabalhadores (UNETE) e membros da direção máxima do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) com sua primeira vice-presidente, Cilia Flores, e o camarada Aristobulo Izturiz.
Pelo Governo Bolivariano, através de uma chamada telefônica do Vice-Presidente-Executivo, Elias Jaua, representando o Presidente [Hugo] Chávez, e do Chanceler Nicolás Maduro.
A Assembleia Nacional se fez representar pela sua máxima autoridade, o camarada presidente Fernando Soto Rojas, que enviou saudações fervorosas aos comunistas venezuelanos.
Veja o discurso principal do Secretário Geral do (PCV), camarada Oscar Figuera:
VIDEO:
A UNIDADE POPULAR REVOLUCIONÁRIA, HISTÓRICA E POLÍTICA DOS COMUNISTAS:

Mais de 300.000 Israelenses vão às ruas contra o governo



imagemCrédito: PCI
DOMINGO, 07 de AGOSTO de 2011 13:41
Mais de 300.000 Israelenses, motivados pela raiva por causa dos altos índices, sem precedentes, do custo de vida e contra o governo neoliberal, vão às ruas da nação em um dos maiores protestos da história do Estado de Israel.
Ao menos 250.000 pessoas se reuniram no centro de Tel Aviv para uma enorme manifestação contra o governo, paralisando o tráfego nas maiores partes da cidade.
Milhares de pessoas com esperança de chegar de trem em Tel Aviv não chegaram depois que a Companhia de Trem de Israel interrompeu um trem e paralisou os serviços, como resultado das condições da superlotação.
Entretanto, ao menos 30.000 pessoas se reuniram em Jerusalém para uma manifestação na Praça Paris, na capital.
Protestos também ocorreram ao norte, em Kiryat Shomna, onde milhares bloquearam uma junção da cidade e em Eliat, uma cidade Israelense meridional, onde ao menos 2.000 manifestantes estavam organizados. Milhares de outros protestantes participaram de protestos espalhados por Tzemach, Tamra, Petach Tikva, Raanana, Ashkelon, HaOgen Junction, Dimona, Hadera e Rosh Pina.
O protesto de sábado a noite teve início na Junção HaShomrim, ao norte de Israel, onde mais de 1.000 pessoas se juntaram para mostrar solidariedade à luta nacional e bloqueando a estrada.
Grande manifestação de Tel-Aviv, ontem: "Vai" (em Árabe), "Egito é aqui" (em Hebraico).
Os protestos em Tel Aviv, Jerusalém e outras comunidades da região contaram com Israelenses de todas as esferas sociais, Judeus e Árabes, incluindo famílias de trabalhadores, estudantes, trabalhadores do setor público e ativistas sociais.
Alguns dos principais artistas, incluindo Shlomo Artzi, Yehudit Ravitz e Rita, participaram do ato em Tel Aviv como forma de apoio aos manifestantes.
Militantes do Hadash e do Partido Comunista de Israel carregaram mais de 900 bandeiras vermelhas e milhares de cartazes: “Pessoas antes do lucro” e “O governo contra o povo – O povo contra o governo”.
Muitos manifestantes direcionaram suas falas para o Primeiro Ministro, Binyamin Netanyahu, e muitos ergueram sinais pedindo sua renúncia.
Dentre os oradores, em Tel Aviv, estavam o ex-ativista dos Panteras Negras e um membro do Hadash, que atua há mais de 14 anos, que falaram com os manifestantes: “Com vocês nós ganharemos deste governo patético”.
Como ocorreu em manifestações anteriores, a fala mais repetida foi: “o povo exige justiça social”, acompanhada por “Aí vem o estado de bem estar social”.
Inclusive o famoso autor Odeh Bisharat, um dos membros-líder do Hadash e jornalista do Al Ittihad (jornal comunista diário em Árabe), incentivou os manifestantes em Tel Aviv dizendo: “Em tempo, esse protesto se tornará o protesto daqueles que são explorados, Judeus e Árabes”.
Bisharat adicionou: “Os jovens de Rothschild plantaram sementes de esperança de mudanças nos corações da população Árabe. É hora de dizer que este protesto vai de encontro contra o estranhamento entre ambos os povos, quando Árabes e Judeus se recusam ser inimigos”; outra oradora foi Shira Ohayon, uma ativista sindical de Ashdod: “é tempo de lutar contra o capitalismo”, disse.
Os organizadores declararam suas intenções de terem mais eventos nos próximos dias.
Pela Terceira semana seguida, manifestantes bloquearam a intersecção de Rehov Kaplan e Ibn Gvirol depois que a maioria dos manifestantes dispersou. Alguns milhares de manifestantes permaneceram na intersecção, cantando as músicas do movimento: “As pessoas exigem justiça social”, “A resposta para a privatização é a revolução” e “Bibi, vá para casa”.
Quarenta minutos depois, a maioria dos manifestantes que permaneciam no local deixou a intersecção.
A polícia declarou o protesto “ilegal” e anunciou, em alto-falantes, que os manifestantes tinham dez minutos para limpar as ruas.
A ordem policial se deparou com a recusa de dispersar.
De forma brusca, dez minutos depois, forças policiais chegaram ao local e começaram a formar linhas. Com o uso da força, empurraram os manifestantes e espectadores, que ainda estavam no local, para fora da intersecção, dentro de uma área demarcada usando o que viam pela frente como uma “arma” de manobra.
Muitos manifestantes foram presos.
Bandeiras e cartazes do Hadash na manifestação de Tel-Aviv

Saudação das FARC - E P ao congresso do Partido comunista da Venezuela


Camaradas do PCV, Companheiros Delegados;
Desde as montanhas da Colômbia, com muito afeto, recebam a saudação comunista dos Guerrilheiros das FARC-EP ao XIV Congresso do PCV, e o abraço fraterno às delegações dos Partidos Comunistas e organizações revolucionárias de todo o mundo.
Permitam que expressemos neste magno evento nossa eterna gratidão ao Partido Comunista da Venezuela pela sua solidariedade na dura luta das FARC-EP pela Nova Colômbia, pela Pátria Grande e o Socialismo. A solidariedade do PCV é luminosa e exemplar. Sempre está presente, oferecendo seu apoio moral, todo o tempo, nas tormentas ou nas calmarias. Isso expressa que o internacionalismo solidário, como qualidade e princípio, jamais deve desaparecer da militância revolucionária.
Camaradas: a atual crise estrutural do capitalismo reclama com urgência a unidade dos povos para a luta que já se configura no horizonte. A batalha é tanto inadiável quanto decisiva, e está chamada a derrotar séculos de injustiça dos excludentes modos de produção. O capitalismo tem envelhecido e se debilitado. A conjuntura é propícia para hastear a bandeira do comunismo: A nova era da humanidade, a do fim da exploração do homem pelo homem, das classes e do Estado, a era da justiça e da democracia plena. Que esse encontro de revolucionários em Caracas, berço do Libertador Simón Bolívar, sirva para dar os primeiros passos concretos rumo à construção da alternativa anticapitalista, humanitária, reclamada pelos rebeldes do mundo.
Desde o baluarte de sua soberania política, o PCV tem sido e continua sendo força fundamental na defesa do processo bolivariano. Esse processo enfrenta forças reacionárias muito poderosas encabeçadas pelo governo dos Estados Unidos. Compartilhamos a percepção do PCV de que é um dever de todo revolucionário lutar para que a revolução bolivariana se consolide como esperança dos povos de Nossa América. Qualquer revés dos revolucionários na Venezuela deve ser assumido como um revés estratégico para a revolução continental. O pensamento bolivariano constitui hoje um poderoso arsenal político na luta, que se pressagia dura, em defesa da Pátria e da revolução.
Viva o Partido Comunista da Venezuela!
“Unidade, unidade, unidade, deve ser nossa divisa.”
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC-EP
Comissão Internacional
Montanhas da Colômbia, 4 de agosto de 2011

O golpismo monarquista submisso ao imperialismo se desagrega


Thierry Meyssan
Neste princípio do Ramadão, a operação militar da OTAN na Líbia afunda-se na mais total confusão, observa Alexis Crow. A analista da Chatham House especializada no estudo da Aliança Atlântica foi um dos primeiros peritos de think tanks ocidentais a tratar publicamente do papel da Al Qaida no seio das "forças rebeldes". Hoje ela é a primeira a dizer com uma franqueza brutal: os dirigentes políticos da Aliança abandonaram seus objectivos de guerra, os oficiais e os oficiosos. Eles não têm uma estratégia alternativa propriamente dita, além da procura de uma saída da crise que lhes permita manter a cabeça alta. Como é evidente, já não é simplesmente o estado-maior francês, mas também Londres, que se inquieta por ver as suas forças atoladas na Líbia sem solução à vista.
A "protecção das populações civis" nunca passou de um slogan desligado da realidade. Mas para a OTAN não se trata mais de "mudar o regime em Tripoli", nem mesmo de dividir o país em dois Estados distintos tendo como capitais Tripoli e Bengazi. No máximo, Bruxelas espera obter um estatuto de autonomia para alguns enclaves.
Consciente do desastre político-militar, Washington procura uma saída negociada, fazendo saber que não é porque a OTAN perdeu a guerra que ela deve cessar seus bombardeamentos. O tempo joga em nosso favor, afirmam os emissários estado-unidenses, enquanto o Conselho Nacional de Transição esvazia as contas bancárias da Jamahiriya congeladas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Seja como for, se Washington enganou-se e não conseguir restabelecer a situação é porque não compreende nada do comportamento dos líbios. Intoxicados pela sua própria propaganda, os Estados Unidos acreditavam enfrentar uma ditadura centralizada e vertical e descobrem um sistema horizontal e opaco no qual o poder está pulverizado, inclusive o da autoridade militar. Eles encontram-se em diversas capitais com numerosos emissários cuja representatividade não chegam a medir. E na base de tudo, nada compreendem das reacções de Muamar Kadafi, desconcertante, que está – ele também – persuadido que o tempo joga a seu favor.
A estratégia ocidental era simples: aproveitar da normalização da Líbia e da sua abertura económica para constituir uma classe de golden boys e tecnocratas líbios que acabariam por preferir o American Way of Life ao invés do Livre Verde. Uma vez alcançada a maturidade deste processo, a CIA organizou os acontecimentos de Bengazi e a sua deformação mediática. Os franceses e os britânicos foram postos à frente, com o seu discurso humanitário, tendo em vista uma possível acção no terreno que tivesse necessidade de carne de canhão. O Conselho Nacional de Transição foi criado recuperando membros americanizados da classe dirigente, acrescentando velhos exilados organizados pela CIA desde a queda da monarquia mais combatente da Al Qaida enquadrados por uma facção saudita.
Se bem que de aparência heteróclita, esta coligação repousa sobre a história comum dos indivíduos que a compõem. A maior parte tem trabalhado para os Estados desde há muito e mudou várias vezes de pertença política ao sabor das mudanças tácticas que Washington lhes ordenava. Muitos são secretamente membros da confraria dos Irmãos Muçulmanos.
Fiel ao Livre Verde, Muamar Kadafi acentuou conscientemente esta fractura de classe anunciando a 22 de Fevereiro a dissolução de vários ministérios e a distribuição do seu orçamento em partes iguais entre todos os cidadãos (ou seja, 21 mil dólares por pessoa). Vendo o "Irmão Guia" retomar seu projecto anarquizante, os privilegiados que se enriqueceram durante a abertura económica tiveram medo. Alguns optaram por fugir para o Ocidente com a sua família e o seu pecúlio, outros acreditaram numa vitória rápida da Aliança Atlântica e alinharam-se com o CNT, esperando governar a Líbia de amanhã.
Para realizar esta insurreição colorida, Washington dispunha de uma única carta: a defecção de um dos companheiros de Muamar Kadafi, o general Abdel Fatah Yunes, ministro do Interior. Foi a sua viragem que tornou possível a transformação desta operação de desestabilização política em aventura militar. Ora, o assassinato do general Yunes pelos seus rivais, em 28 de Julho de 2011, provoca o colapso do "exército rebelde" e revela o carácter artificial do Conselho Nacional de Transição.
Existem hoje mais de 70 grupos armados ditos "rebeldes". Quase todos reconheciam a autoridade de Abdel Fatah Yunes, o qual tentava coordená-los. Desde o anúncio da sua morte, cada um destes grupos retomou a sua autonomia. Alguns, que criaram o seu próprio governo, tentam fazer-se reconhecer por Estados membros da coligação – nomeadamente o Qatar – ao mesmo nível que o CNT. Cada localidade tem o seu senhor da guerra que quer proclamá-la independente. Em poucos dias, a Cirenaica "iraquizou-se". O caos é tamanho que o próprio filho do general Yunes, quando das suas exéquias, apelou ao retorno de Kadafi e da bandeira verde, único meio segundo ele de restabelecer a segurança das populações.
De imediato, basta escutar as intervenções de Muamar Kadafi para compreender a sua estratégia. Enquanto as ruas de Begazi se esvaziaram, gigantescas manifestações populares são organizadas nos quatro cantos da Tripolitania e do Fezzam para apupar a OTAN. O "Grande Irmão" nelas intervém por alto-falantes e diálogo com a multidão. Ele explica que uma trégua rápida seria feita em detrimento da unidade nacional, ao passo que o prosseguimento da guerra dá o tempo para deitar abaixo o poder ilegítimo do CNT e portanto para preservar a integridade territorial da Líbia. O coronel Kadafi, que já alinhou consigo as tribos, entende agora alinhar consigo os indivíduos que ainda apoiam o CNT. Nas suas intervenções radiofônicas apela aos seus concidadãos a que se preparem para libertar as cidades ocupadas. Deverão deslocar-se em multidão, sem armas, para retomar o controle dos bolsões "rebeldes" de maneira não violenta.
Muamar Kadafi, que já venceu politicamente o poder aéreo da NATO, pensa poder vencer também politicamente no terreno os "rebeldes".
Nesta situação inextricável, em que a maior parte dos protagonistas não sabem o que fazer, os reflexos substituem o pensamento. Os partidários do Livro Verde entendem aproveitar a fuga dos tecnocratas para retornar aos fundamentos da Revolução; aqueles que, em torno de Saif el-Islam, acreditavam poder casar o kadafismo e a globalização negociam com seus amigos ocidentais; e a OTAN bombardeia mais uma vez os sítios que já havia bombardeado ontem e anteontem.

A DESTRUIÇÃO DÁ UM BEIJO NA BOCA DA SUCURSAL DO IMPÉRIO



Londres chama para as cidades distantes.
Agora aquela guerra está declarada e a batalha começa.
Londres chama para o submundo.
Saiam do armário todos os garotos e garotas.
Londres chama, agora não olhem pra nós.
The Clash
Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento.
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.
Brecht
Os grandes meios de comunicação mundial tem repercutido desde o último sábado a forte onda de violência que se espalha feito rastilho de pólvora na Inglaterra. Originadas no bairro popular de Tottenham, no norte da capital, os confrontos se espalharam para as demais regiões, e para o centro da cidade, já tomando as ruas de cidades como Liverpool, Leeds, Manchester e Birmingham.
A imprensa burguesa tem atribuído os conflitos como um ataque de hordas de criminosos e delinqüentes, procurando vincular as causas da violência e do caos a diversidade étnica presente na periferia de Londres, criminalizando africanos, caribenhos e latinos como os grandes responsáveis pelas manifestações que vem se intensificando no país. Nada mais “natural” por parte da grande mídia em tempos de xenofobismo e racismo crescentes no velho continente.
A ferida que a imprensa burguesa e o governo britânico não querem tocar é no fato de que o estopim dessa revolta, não se deve ao assassinato de um trabalhador pelas mãos da polícia. É na verdade um reflexo dos efeitos da crise e das medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo conservador de James Cameron, que simplesmente produziu a maior contenção de gastos públicos pós-Segunda Guerra Mundial. Essa política fez aumentar o desemprego, que tem afetado sobremaneira os jovens e os imigrantes. A combinação de altas taxas de desemprego somadas aos cortes nas áreas sociais é uma receita explosiva que fez ferver um caldo de revolta adormecido na periferia da cidade. Somem-se a isso os elevados gastos em obras para as Olimpíadas de 2012 que já chegam à quantia de R$ 23,5 bilhões, e a bomba está pronta
Muito se tem noticiado sobre as revoltas, ocorridas na década de 1980, em bairros populares de Londres. Há certamente uma linha que unifica estas manifestações com as ocorridas atualmente. As políticas governamentais da Dama de Ferro e as de Cameron têm mais semelhanças que diferenças. Os jovens trabalhadores de hoje se deparam com um cenário de poucas perspectivas de trabalho, educação e lazer no curto e no médio prazo. A válvula de escape é a violência.
Como uma onda estas manifestações tendem a se intensificar, colocando em xeque o aparato policial inglês e o próprio sistema. Mas sem uma direção política revolucionária do movimento, ele tende a ser rapidamente contido e reprimido. Não se pode super-estimar essa revolta como um principio de revolução social ou algo do gênero. Ao contrário das manifestações juvenis presenciadas na Primavera Árabe, na Grécia, na Espanha ou no Chile, que apresentam um programa mínimo de reivindicações, as manifestações inglesas primam por um caráter espontaneista, que dificilmente refletirá em um acúmulo na organização dos jovens trabalhadores da Inglaterra.
Porém, por outro lado, estas mobilizações mostram o poder que os jovens têm em suas mãos. Que quando se voltam contra o sistema podem colocá-lo em crise, revelando suas mais profundas contradições, que muitas vezes permanecem adormecidas e ofuscadas pela ideologia dominante. Quem sabe estes dias de caos e desordem na terra da Rainha não plante algumas sementes nas possibilidades de organização da juventude contra um rio chamado capitalismo, que em épocas de crise faz suas margens reprimir e sufocar ainda mais as possibilidades de emancipação da juventude e da classe trabalhadora.
Cabe aos jovens ingleses fazerem este rio transbordar de revolta organizada, que possa, quem sabe não só sacudir as bases do sistema, como fazê-lo cair de seu pedestal, em uma perspectiva de um novo modelo de sociedade, o Socialismo.
Mas para isso não bastam palavras, é preciso organização, é preciso teoria, e é preciso prática. Com certeza nesse último quesito, as batalhas que se travam nas periferias da Inglaterra e do Mundo servem como uma grande escola para as mudanças que a juventude e os trabalhadores tanto precisam construir.

Os indignados de Israel e o Estado Palestino



imagemCrédito: PCI
Baby Siqueira Abrão - babyabrao@gmail.com
de Bil’in, Palestina
publicado: Jornal Brasil de Fato - edição 440, 4 a 10 de agosto de 2011 - www.brasildefato.com.br
As peças do tabuleiro político da Ásia ocidental estão mudando rapidamente de lugar. A menos de dois meses da 66ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que terá pela frente a tarefa de votar o reconhecimento do Estado palestino, há um enorme abalo nesta parte do mundo. A mobilização da sociedade civil palestina e israelense, os esforços diplomáticos da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e do governo sionista nos países cujos votos darão a decisão final na ONU, as manifestações de descontentamento que levaram milhares de israelenses a montar acampamentos no espaço público, à moda dos indignados das praças Tahir (Egito) e do Sol (Madri), são apenas os sintomas visíveis de um profundo descontentamento que, desenvolvido ao longo do tempo, agora atinge seu limite. Em outras palavras, ninguém aguenta mais a situação criada pelos governos sionistas em Israel e nos territórios palestinos.
É disso que se trata quando parte da sociedade israelense, e judeus do mundo inteiro, desautorizam o governo do primeiro ministro Biniamin Netanyhau a falar e a agir em seu nome. Também é disso que se trata quando 57% dos judeus dos Estados Unidos declaram-se favoráveis à criação do Estado palestino nas fronteiras pré-1967, mas com permuta de terras, de acordo com uma pesquisa divulgada em 21 de julho pela organização judaica J Street, sediada nos EUA e defensora da solução de dois Estados, um para os palestinos, outro para os israelenses. As pessoas comuns – e isso o governo de Israel não percebeu, por ter se distanciado delas – querem justiça social. É essa a exigência que elas fazem nos protestos que varrem Israel de norte a sul há cerca de um mês e que levaram mais de 150 mil cidadãos às ruas, em marchas pacíficas, em 11 cidades do Estado israelense no sábado, 30 de julho.
O movimento, que começou com o protesto de jovens de Tel Aviv e Jerusalém contra o preço extorsivo dos aluguéis e do inalcançável financiamento para a compra da casa própria, logo se espalhou pelo país. O alvo das queixas também se alargou. Ao problema da moradia juntaram-se a alta do custo de vida, a dificuldade em criar filhos, as péssimas condições da saúde pública e, por fim, a questão que está na base de todas essas reclamações: justiça social.
A verdade é que os governos israelenses, com sua ideologia voltada para a “segurança” e o estado permanente de guerra contra um inimigo imaginário, investem muito em tecnologia bélica e muito pouco no social. Essa preferência, porém, até agora só havia molestado os palestinos, que pouco a pouco foram privados de seus direitos mais básicos, como o acesso à terra, à água, à livre movimentação. Cobaias involuntárias de novas armas e de novos métodos de repressão criados pelos sionistas, transformados em vitrine para a exposição dos “sistemas de segurança” que Israel hoje vende mundo afora – e que países como o Brasil compram –, os palestinos não tiveram opção senão a resistência, da qual as marchas pacíficas das sextas-feiras são a prova de vida.
Expulsos violentamente de seu próprio território desde fins do século XIX, para que o projeto sionista tivesse início, eles há muito se acostumaram a um estilo de vida quase franciscano. Moram, trabalham, comem, criam seus filhos e vivem de maneira simples, sem a sofisticação exigida pela classe média de Tel Aviv ou de Jerusalém. A justiça social que buscam é de outro tipo, baseada em cidadania plena, igualdade de direitos, liberdade para decidir o próprio destino. E isso implica, obviamente, o fim da ocupação sionista.
As classes média e popular de Israel, em processo de pauperização, ainda não têm ideia de até que ponto a construção ilegal do muro e das colônias judaicas em terras palestinas são responsáveis por sua condição atual. Quanto dinheiro Israel gastou e gasta nessas construções? Na constituição do aparato militar – pessoal, equipamentos e projeteis – que supostamente proporciona “segurança” aos colonos? Quanto custa, em perda de poder de compra, o expansionismo sionista na Ásia ocidental? E em perda de direitos? De vidas?
Ao que tudo indica, os indignados de Israel ainda não chegaram a esse nível de reflexão. E talvez não cheguem, mesmo tendo a seu lado as tendas de um grande número de palestinos que moram em Israel, e que certamente têm lhes contado as próprias agruras. Mas quem sabe a situação lhes abra a sensibilidade, e a possibilidade, de enxergar além da cortina de fumaça da hásbara, a propaganda sionista, e de conhecer o outro lado da história...
Netanyhau perde fôlego
Depois de ver recusada a primeira proposta feita aos indignados israelenses, Netanyhau decidiu montar uma força-tarefa para tentar resolver a situação. Parece pouco provável que o grupo obtenha algum sucesso. Para que isso fosse possível, o governo teria de abrir mão de suas políticas neoliberais, que beneficiam apenas a camada já enriquecida da sociedade. Uma das bases do projeto sionista, a economia de livre mercado, dificilmente cederá lugar a qualquer outra capaz de promover a “justiça social” exigida pelos manifestantes.
Mesmo que a proposta da força-tarefa fosse aceita, o jogo parece perdido para Netanyhau. Sua imagem já foi bastante arranhada, o que se reflete em queda de popularidade. Pesquisa publicada pelo jornal liberal israelense Haaretz mostrou que a aprovação ao primeiro ministro, de 53% em maio, caiu para 32% no final de julho, quando os protestos se arrastavam havia duas semanas e tinham um nível alto de adesão. A pesquisa também indicou que 87% dos israelenses apoiam a mobilização popular. No domingo, 23 de julho, os indignados, em passeata ao parlamento, exigiram a renúncia do primeiro ministro.
Mesmo às voltas com esses graves problemas internos, Netanyhau ainda abriu espaço em sua agenda para criticar a “intransigência” palestina, que é como a direita israelense chama a decisão da ANP de ir à Assembleia Geral da ONU solicitar o reconhecimento do Estado palestino (seu ingresso como membro pleno na organização é assunto do Conselho de Segurança; os Estados Unidos já anunciaram que vetarão a proposta). Em discurso para o comitê de assuntos internacionais e segurança do Parlamento, ele revelou que o governo trabalha num projeto de paz “baseado em alguns dos pontos” citados pelo presidente Barack Obama, mas com fronteiras “diferentes daquelas de antes de 1967”. E decretou: “Não aceitaremos os termos dos palestinos para negociação”.
Até aí, nenhuma novidade. É exatamente isso que os sucessivos governos sionistas vêm fazendo ao longo de todos esses anos. As “negociações de paz” são simples estratégias para estender a ocupação, algo que os palestinos denunciam faz tempo. Agora, porém, o plano não funciona mais. Na tentativa de fazer a ANP desistir da ONU, Israel ofereceu novas conversações aos palestinos, que as recusaram. O boato de que Saeb Erekat, membro do comitê executivo da OLP, fora a Washington retomar as negociações de paz, foram negados por ele. E esta semana a Coordenaria dos Comitês Populares de Luta contra a ocupação deixou claro que a população não aceita nenhum tipo de acordo com Israel. “É direito do povo palestino ter seu Estado plenamente reconhecido pela ONU, com Jerusalém como sua capital”, afirma o documento preparado pelos líderes populares da Palestina.
A Coordenadoria também anunciou o início de uma ação intensiva visando a “um programa de luta popular” em setembro, tanto nos territórios palestinos como nas nações em que a sociedade civil apoia a Palestina, para que ela se torne o 194º. Estado-membro da ONU. Estão previstas, por enquanto, concentrações no Egito, na Tunísia, em Nova York, em Washington e nos campos de refugiados do Líbano, Síria e Jordânia. No Brasil, o Comitê pelo Estado da Palestina Já também promete mobilização popular. Reuniões diárias têm sido realizadas pela Coordenadoria e por representantes dos 13 partidos palestinos, para organizar a “Primavera Árabe-Palestina”.
A reação sionista não demorou. Cada vez mais violentos, os colonos judeus, usando máscaras para não ser reconhecidos, atacam os moradores das vilas palestinas, queimam ou destroem suas plantações, perseguem pastores e rebanhos quase diariamente. “Eles andam pelas terras palestinas como se fossem donos delas”, testemunha um voluntário brasileiro em Hebron. Em relação ao governo israelense, milhões de dólares já foram investidos na compra de armas e equipamentos para reprimir as manifestações pacíficas dos palestinos em setembro. Em resumo, com Estado reconhecido ou não, os palestinos não terão sossego tão cedo.