domingo, 28 de novembro de 2010

A Guerra do Rio - farsa ideológica e disputa geopolítica

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma gu

erra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.


De um lado, milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral, a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pa

cificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela milícia. Hoje, a milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparato que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadam Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo? Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro, que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e áreas pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem. Quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Pontos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

Revolucionários árabes levantam a cabeça





Uma iniciativa que passou despercebida aos meios de comunicação ocidentais, mas que pretende ter um importante caráter político: pela primeira vez em décadas, a esquerda do Magrebe e do Macherk tenta levantar a cabeça, abrir uma nova perspectiva em uma região dividida entre o islã político e governos partícipes da estratégia norte-americana e europeia, frequentemente corruptos, e habitualmente que praticam o nepotismo.

Como coloca Khaled Haddadeh, secretário-geral do PCL: “dois projetos se enfrentam, um pró-americano que é o programa árabe chamado de Charm o Cheikh, apoiado pela Arábia Saudita, Egito, Jordânia e a Autoridade Nacional Palestina, de Mahmoud Abbas. Do outro lado se encontra uma resistência de natureza essencialmente islâmica como no Iraque, na Palestina ou no Líbano. Esta resistência carece de capacidade de interferir no projeto norte-americano como acontece no Iraque ou no Afeganistão”.

De fato, os dirigentes islâmicos são incapazes de formar alianças com a esquerda ou com os partidos nacionalistas contra o projeto norte-americano-europeu. O que sucede em Gaza, onde o Hamas é incapaz do sair de seu isolamento, é um exemplo disso. “É necessário reconstruir uma visão da esquerda, um projeto da esquerda de resistência”, insiste o responsável libanês.

Do Marrocos ao Iraque, passando pela Tunísia, Egito, Síria, Kuwait ou Sudão, cerca de trinta organizações se reuniu na capital libanesa, sinal de uma preocupação comum, porque os bloqueios são patentes nas sociedades árabes e, com a marginalização da esquerda, a existência de uma via democrática pela mudança poderia ser definitivamente descartada.

Evidentemente, de Rabat a Bagdá, as problemáticas não são exatamente idênticas. Mas estes países estão, de alguma maneira, incluídos em uma estratégia global ocidental, as linhas de força políticas e econômicas desenham um marco de arquitetura similar, embora, como sublinha Bassam Saleh, secretário-geral do Partida do Povo Palestino (PPP, comunista) : “É necessário levar em conta os lugares, as idéias diferentes e os regimes estabelecidos, mas os grupos de esquerda nos países árabes devem organizar-se e utilizar as relações com a esquerda e os comunistas no mundo.”

Em resumo, é o papel da esquerda em cada país o que foi analisado, em torno de dois eixos : o combate dos palestinos, e o combate dos povos árabes.

Nem sempre é fácil, a julgar pelas dificuldades da esquerda palestina em concretizar as novas relações estabelecidas entre o PPP, o FDLP, o FPLP e outros grupos. “O Hamas dividiu a esquerda palestina em nível de volumes e em nível de organizações”, denuncia a Frente democrática.

Também não é fácil encontrar um equilíbrio entre as diferentes estratégias, como na Tunísia, onde o Ettahadi rejeita qualquer aliança com os islamitas, ao contrário do PCOT. No Iraque, enquanto o Partido Comunista participa do governo, uma “corrente de esquerda nacional iraquiano” saiu à luz, propondo uma resistência popular. No Sudão, os comunistas estão preocupados com uma possível separação do sul, que comportaria uma radicalização do poder islâmico de Cartum.

A esquerda árabe, com freqüência marginalizada (e quando não é o caso, apoiando antes de fazer valer seu próprio poder), está muito centrada no assunto das alianças. É Preciso rejeitar, a priori, qualquer vínculo com organizações que se dizem do islã? “É necessário estudar o que é possível e trabalhar sobre pontos comuns”, opina o Partido Comunista da Jordânia. Mas para o Taggamou do Egito, “Agora existem as condições para que a esquerda recupere todo o seu espaço. Isto não tem ocorrido porque os regimes árabes desmantelaram as forças de esquerda e ajudaram às forças islâmicas”.

O Partido Comunista Libanês vai atuar como coordenador executivo para que as discussões prossigam, para que as reflexões se enriqueçam e permitam amadurecer os pontos comuns entre todas as organizações. Está prevista uma reunião das comissões de economia dos diferentes partidos e a organização de acampamentos de jovens da esquerda árabe.

“Devemos passar à ofensiva, não continuar como espectadores. Não temos ilusões sobre o equilíbrio de forças, mas é necessário começar”, diz Khaled Haddadeh.

sábado, 27 de novembro de 2010

Artigo do camarada Alex de MG em defesa de uma forma de gestão de DCE soviético

O marxismo e o movimento universitário brasileiro: Porque não existe unidade da "esquerda" na UFMG?

Foto do autor desse artigo em 2008. Em sua
defesa de dissertação de mestrado. Alex
estudou História na UFMG na década de 90.
Se especializou na UFSJ e é mestre pela UFJF.
Quem, entre uma democracia por conselhos (eu russo soviética) e as eleições diretas escolhe a última opção não é stalinista, nem trotskista, não é maoista, não é leninista, nem marxista, não é socialista, muito menos comunista, mas de fato, no assunto central da política, essa pessoa é capitalista, ou para usar um nome bonito para a mesma coisa, liberal. Existe a possibilidade de substituir a democracia capitalista pela qual o DCE-UFMG vive partidarizado por uma democracia de conselho, mais participativa, mais transparente, mais eficiente. É nessa hora que diferenciamos os comunistas dos carreiristas. Que no Estado burguês nós comunistas sejamos obrigados a aceitar regras individualistas, mercadológicas, corruptoras, enganadoras, em uma palavra, capitalistas, pois não temos forças para mudar isso agora, ao menos não por completo, compreende-se. Mas onde temos forças para fazer avançar a democracia para características proletárias, essa é nossa obrigação.

Observemos primeiro os sucessos revolucionários. O movimento considerado por Marx e Engels como inauguração da atuação política da classe operária, o Cartismo, lutava por democracia, pois exigia direitos políticos para os trabalhadores, e entre os direitos incluia-se que os mandatos durassem somente um ano, ou seja, quase inventaram a revogabilidade dos mandatos. O que Marx, que assistiu diversas revoluções na França, considerou mais avançando nesse país foi a Comuna de Paris de 1871, sobre a qual escreveu sua última obra, Guerra Civil em França, que a Estudos Vermelhos publicou com a tradução correta mas arbitrariamente trocou o título para A Comuna de Paris. Foram os comunards que inventaram a revogabilidade de todos os mandatos, ou seja, os eleitores poderem depor os políticos que elegeram.

A Comuna se deixou massacrar pelas armas, mas seu exemplo não foi esquecido. Em 1905, na Rússia, surgiram os Soviets, à semelhança da Comuna, embora não idênticos, e em 1917 os Soviets chegaram ao poder e elevaram a Rússia da destruição completa ao posto de grande potência. Os exemplos da Comuna e dos Soviets inspiraram as Comunas Populares da China, do Vietnã, da Coréia, assim como os exércitos revolucionários desses países e o Exército Rebelde de Cuba. Em outras palavras, democracia soviética é sinônimo de vitória das forças revolucionárias.

Deve-se acrescentar que o contrário também é verdade, ou seja, refluxos da democracia proletária geram refluxos revolucionários. Os Soviets existiram na URSS até 1936, depois o poder foi mantido por comunistas até 1953, perdido para a contra-revolução e se foi o socialismo. Na China também já não ouvimos mais falar de Comunas Populares, e cada dia mais escutamos falar de capitalismo na China.

Os teóricos marxistas confirmam esse raciocínio. Já mostramos que Engels e Marx apoiaram o Cartismo e a Comuna de Paris. Na Rússia, Lênin foi o descobridor de que o poder dos Soviets seria o poder do povo trabalhador, que eram quase a mesma coisa que o conselho que os parisienses chamaram de Comuna, quase com as mesmas regras. É de enorme importância para se compreender todo esse assunto o livro escrito no calor de 1917, O Estado e a Revolução, cuja tradução correta é também a da Estudos Vermelhos.

Gramsci, em Turim, inspirou verdadeiros Conselhos de Fábrica e criou um Conselho desses Conselhos na direção da organização dos trabalhadores de Turim, pelo que se nota sua posição bolchevique, pró soviética. Ele mesmo escreveu sobre isso, com destaque para “Sobre o movimento turinês dos conselhos de fábrica”. Na China, como já fica claro acima, Mao Zedung e Zo Enlai criaram Comunas Populares, assim como Ho Chi Minh acabou fazendo no Vietnã. Igualmente, quem observar as regras das eleições cubanas notará que a única sustentação da revolução cubana é a sua democracia, completamente ao contrário de tudo o que se diz por ai... Fidel é um defensor dessa democracia sempre ameaçada e cercada que lembra o sonho dos comunards.

Mas sempre existem contra-revolucionários enrustidos, que por conveniência se dizem marxistas, e podem até aceitar semelhanças entre a Comuna, os Soviets, Cuba, as Comunas chinesas, a organização sindical de Gramsci etc., mas quando se trata de perceber que devem apoiar uma experiência do mesmo tipo debaixo de seus narizes, ficam cegos. Eles apóiam longe e no passado, mas hoje e agora apóiam mesmo é o poder do capital, pois é a democracia capitalista que temos no Brasil, cada estado, cada município, e desnecessariamente também mantemos nos sindicatos, DCEs etc.

É de se esperar, enfrentaremos no campo marxista a afirmação que a democracia dos últimos 30 anos de DCE-UFMG não é capitalista, e que o poder dos CAs e DAs sobre o DCE não é semelhante aos Soviets e à Comuna, nem à organização sindical de Turim de Gramsci.

Onde estariam as semelhanças? No fato que a atual “democracia” do DCE é movida a dinheiro como toda democracia capitalista e o Conselho de CAs escapa desse controle? No fato que atualmente os estudantes só participam uma vez por ano, enquanto no Conselho participam sempre que querem? Em que no atual estatuto depor um diretor é praticamente impossível e com o poder do Centros e Diretórios Acadêmicos a deposição será, como nos Soviets e na Comuna, a regra? Ou no fato que nessa democracia capitalista por um ano um grupinho é dono do DCE, podendo decidir o que bem entender a portas fechadas, enquanto no Conselho as decisões são tomadas quotidianamente pela coletividade?

É impossível não afirmar que desconfiamos profundamente da honestidade e da vergonha na cara de quem “não vê” que a democracia, mesmo de um DCE, necessariamente é capitalista ou superior à capitalista, e nas opções dadas, é capitalista ou de conselho, em russo, soviética. Sobretudo desconfiamos da honestidade dos que se dizem leninistas e alegam sofrer dessa cegueira, pois nesse aspecto Lênin era até exagerado, só aceitando duas possibilidades na atualidade – ou bem uma democracia é capitalista ou socialista, burguesa ou proletária. Ou seja, alguns “leninistas” que conhecemos, ou nunca leram Lênin, ou acham que a democracia do DCE-UFMG é proletária, socialista, ou que fugindo à regra geral, as democracias do movimento estudantil não são uma coisa nem outra. Ou seja, em um momento ou em outro estão mentindo, ou estão mentindo ao afirmarem que leram Lênin ou ao afirmar que concordam com ele, ou seja, que são leninistas!

Também dentro da tradição marxista, mais precisamente leninista, nos perguntarão sobre a direção. Estamos entregando o poder às bases. Isso não é abrir mão de dirigir? Não, dirigir não tem nada haver com “aparelhar”. Para dirigir é necessário saber o caminho e saber indicar o caminho. Para tanto é melhor que os “dirigidos” estejam ouvindo! E mais, nós queremos dirigir de verdade, não oficialmente. Nos DCEs capitalistas quem ganha dirige oficialmente, e na prática não há nada para ser dirigido, quase não há movimento. Nos DCEs soviéticos (até agora só conheço o de São João) ninguém ganha, nem perde, e dirige, um movimento real, quem tem idéias. Ademais, deviam ter o bom senso de perceber que o mesmo Lênin que defendia o papel de vanguarda do Partido também foi o pioneiro na defesa do poder dos Soviets, ou seja, nem Lênin viu essa contradição que nossos “marxistas” querem ver no Brasil. Lênin não viu “basismo” nenhum nos Soviets, que eram no entando muito mais de base que o Conselho de CAs e DAs ao qual vamos entregar o DCE, mas os “leninistas” daqui veem em nossa proposta enorme “basismo”. Quando não têm muitos argumentos, esses nossos maravilhosos teóricos tupiniquins inventam nomes e acrescentam o sufixo “ismo”. Não pararam para constatar um pequeno detalhe – há 30 anos os DCEs brasileiras estão perdidos, a deriva, sem direção. Os partidos tem conseguido aparelha-los, raramente dirigir qualquer movimento.

Nossos aliados de algumas eleições pedem que recuemos de nossa tática em nome de uma tal “unidade da esquerda”. Que esquerda? Voltemos à origem do termo, na Revolução Francesa. À esquerda assentavam-se os republicamos, ou seja, os que desejavam uma democracia mais avançada do que a monarquia constitucional à moda inglesa, que era desejada pelo centro, e bem mais democracia do que suportavam os nobres absolutistas, assentados à direita. Se usarmos o mesmo critério, a posição quando ao Estado, quanto à forma de democracia, para a realidade atual, não encontramos esquerda nenhuma defendendo a democracia capitalista, que é obviamente a posição conservadora. Para se posicionar à esquerda, hoje, é necessário defender uma democracia mais avançada, sem vacilos e tergiversações. É claro que já houve tempo em que defender a democracia capitalista era necessário, a saber, sempre que se precisa derrubar o fascismo deve-se aceitar a democracia pela qual for possível montar a maior frente anti-fascista, e só (mas nessa época os trotskistas que hoje nos chamam para recuar em nome da unidade não aceitavam compor a frente anti-fascista!!??). Quando, como hoje, os fascistas estão isolados em minoria, ou seja, quando é o momento de avançar, não precisamos de capitalistas nem de vacilões nos atrasando. Quando o principal escudo capitalista, a democracia liberal, é colocada em xeque no DCE da mais importante Universidade de Minas Gerais, qualquer atitude em defesa do capitalismo, com qualquer justificativa, é uma declaração de guerra, é contra-revolução.

Certamente desses partidos ditos socialistas e comunistas, mas que estranhamente não defendem o poder das entidades de base sobre o DCE e sim a forma capitalista de poder, receberemos a estapafúrdia acusação de despolitização. Deixamos de falar da situação internacional, da brasileira, da mineira e até citamos pouco os problemas da própria UFMG, e por isso estaríamos com um discurso “limitado”, “só organizativo”. Que besteirada! Que inocência! Que incultura! A própria palavra “política” refere-se às Polis, as cidades-estado gregas, mas não se trata da “administração da cidade”, não, porque a Polis não era o aglomerado urbano, mas o Estado, ou seja, fazer política é atuar no Estado. A questão central da política seria “limitada”, “só organizativa”. Isso não é conservadorismo tal qual o do governo e o dos demotucanos? São mesmo muito politizados esses conservadores de bandeiras vermelhas, só não entendem a centralidade da... Polis! Pretendem fazer funcionar uma estrutura política, mas não se perguntam se essa estrutura é feita para funcionar, e para fazer o que? Estão “pensando que berimbau é gaita”, acreditam que uma máquina que há 30 anos é uma produtora de carreiristas, corruptos, aparelhistas, uma fabricante de rachas, discórdias, brigas, violências, fraudes etc., pode passar a fabricar lutas e cidadãos decentes ou até revolucionários.

Ou seja, despolitizadas são todas essas repetições das mesmas “verdades”, do mesmo catecismo, de obviedades, e promessas já feitas mil vezes, e que não tocam no assunto central da política, que é a Polis. Pode-se fazer política de diferentes formas – Pode-se simplesmente atuar no Estado sem questiona-lo (que é que quase todos sempre fazem) e essa atitude é conservadora; Pode-se buscar transformar os Estado aos poucos, que é uma atitude reformista, oficialmente a governista hoje, mas na prática os governistas não reformam nada, são conservadores, em todo canto; Ser revolucionário, para um marxista, é tentar construir outro Estado, com os restos do atual, com os recursos dele, mas não com suas formas! A questão da forma é de extrema importância para o Estado, e se confunde mesmo com seu conteúdo, uma vez que as classes são muito diferentes entre si, e a forma de organização que serve bem a uma não serve a outra. Marx percebeu bem a importância das formas, ou como dizemos hoje, do design, e divulgou entusiasmado, quando contou a história da Comuna de Paris. Lênin o percebeu na realidade russa, diante dos Soviets e dos Conselhos de Fábrica, o que está claro no Estado e a Revolução e em todos os seus livros posteriores. Gramsci, novamente, em Turim, experimenta e teoriza com os Conselho de Fábrica. Ou seja, os pseudo-marxistas que afirmam deforma leviana que a democracia é “só” a forma do Estado, que não devemos nos apegar a “questões de forma”, estão longe da fato do marxismo, do qual talvez tenham aprendido a parte mais nítida, a economia.

Também haverá o argumento do tempo, das fases, não seria ainda o momento de experimentar uma democracia mais avançada. Teríamos que esperar a revolução socialista para isso, pois esse argumento se baseia na idéia de que só é possível avançar em um lugar quando se avança em todos. Lembremos, então que os Soviets passaram a existir e a praticar o poder 12 anos antes da revolução de Outubro, entre 1905 e 1907, quando foram fechados pelo regime czarista. Também os Conselho de Fábrica de Turim existiram o tempo todo sob a monarquia constitucional que precedeu a ditadura fascista. E o que derrotou os turineses liderados por Gramsci foi que no resto da Itália o Partido Socialista se apegou a argumentos mentirosos como “não é hora pra ter poder das bases”. Que hora seria essa? A revolução seria uma espécie de “presente dos céus”? A prática do poder não é o que tende a tencionar processos de transformações?

Outro argumento amplamente utilizado é do tipo “a massa de estudantes não é politizada”. Ora, se o estudante não for capaz de apontar suas necessidades, quem será? Ou mesmo, se de fato esta massa não é politizada, como ela irá politizar-se, se não quando tiver a oportunidade de participar e exercer o poder? A sensação que fica é que os que usam tal argumento nasceram sabendo, vieram com o “dom da política” de fábrica. Ademais, aqueles que de fato possuírem o “dom da política”, tiverem amplo conhecimento dos caminhos que se deve percorrer, não terão problemas em politizar a “massa despolitizada”.

Existem momentos e locais para se tratar de todos os assuntos. Nossos jornais, do PCB e da UJC, existem para isso. Uma chapa composta por sete vezes mais estudantes sem partido que por membros da UJC, e composta com o objetivo revolucionário de substituir a democracia capitalista do DCE-UFMG por uma democracia de Conselho, não é o espaço para divulgarmos o que devemos divulgar em nossos jornais. Não se pode falar de acabar com o aparelhamento de um DCE e começar por aparelhar a própria chapa (que é, aliás, o normal). Na hora de defender um novo poder, soviético, não se pode vacilar, não se pode abrir mão de aliados nessa questão central em troca do luxo de reafirmarmos nossas posições já presentes em nossos blogs e jornais, e que acabamos de reafirmar nas eleições de 2010.

Por fim, é impossível não esclarecer que essa suposta politização dos grupos que usam bandeiras vermelhas mas estão conformados com o Estado atual, é uma politização também dentro da agenda dos capitalistas. Eles se acomodam no Estado capitalista e seguem somente os temas de debate capitalistas, colocados pela imprensa, pelos políticos, pelos governos capitalistas. Querem politizar ou querem agradar um determinado público?

Com a proposta que defendemos, de antes de mais nada entregar o poder do DCE aos Grêmios, Centros e Diretórios Acadêmicos, estamos impondo nossa agenda. Os capitalistas é que terão, para manter suas tetas, que entrar em um assunto do qual fogem e defenderem sua forma de democracia contra a nossa. Os oportunistas se afastarão ou deixarão cair as máscaras, pois quando se coloca a questão magna do Estado, caem os disfarces.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Greve Geral dos Trabalhadores Portugueses – 24 de Novembro de 2010





imagemCrédito: PCP

Declaração de Jerónimo de Sousa

Secretário Geral do Partido Comunista Português

Hoje por todo o país os trabalhadores fizeram ouvir a sua voz.

A Greve Geral de 24 de Novembro convocada pela CGTP-IN, uma das mais importantes jornadas de luta realizadas em Portugal depois do 25 de Abril, constituiu uma poderosa resposta à brutal ofensiva do Governo PS e do PSD, e de todos aqueles, como é o caso do Presidente da República, que têm patrocinado o rumo de desastre nacional imposto ao país.

Uma grande Greve Geral que ficará inscrita na história da luta dos trabalhadores e do povo português que teve o envolvimento de mais de 3 milhões de trabalhadores. Uma vitória sobre a resignação e o conformismo. Uma jornada que pela sua dimensão reafirmou o valor maior da luta.

1- O PCP destaca a dimensão nacional e o carácter transversal da Greve Geral. Por todo o país, no continente e regiões autónomas, registou-se uma adesão extraordinária na generalidade dos sectores de actividade.

O PCP sublinha a importância e significado das fortes adesões no sector dos transportes como o Metro Lisboa, Porto e Sul do Tejo, Soflusa, Transtejo, CP, Refer, EMEF e em dezenas de empresas rodoviárias como é o exemplo o STCP, Carris, Rodoviária Entre-Douro e Minho, Grupo Barraqueiro e a Transdev. O encerramento de todos os portos marítimos e grande parte dos portos de pesca e o cancelamento da totalidade dos voos (mais de 500). A Greve Geral assumiu ainda forte impacto no sector produtivo de que são exemplo: no sector automóvel a Auto-Europa e todo o seu complexo industrial, a Renault-Cacia, a Mitsubishi, Tudor e Camac; no sector da metalurgia e metalomecânica como os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o Arsenal do Alfeite, a Lisnave, a Sacti, Jado Ibéria, Camo; no sector de cimento, cerâmica e vidro, a CNE, a Atlantis/Vista Alegre, SaintGobain/Covina, a Cinca e Lusoceran; no sector corticeiro o Grupo Amorim; no sector têxtil, vestuário e calçado o Grupo Paulo Oliveira, Têxtil Almeida e Filhos, Califa, Triunph e KIAIA; no sector alimentar e bebidas CentralCer, Kraft Foods; e em centenas de outras empresas de outros sectores produtivos.

O PCP sublinha ainda a grande resposta dada pelos trabalhadores da administração pública central e local com paragens que atingiram níveis históricos com paralisação total ou parcial em praticamente todo o Pais da recolha de resíduos sólidos, encerramento de centenas de escolas, Politécnicos e Faculdades, departamentos públicos, finanças, tribunais e outros serviços públicos como foi do caso do sector da saúde com uma forte adesão dos trabalhadores do sector.

O PCP valoriza ainda a dimensão e os impactos que a adesão de milhares de trabalhadores à tiveram em diversos sectores e empresas, como os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o caso dos mais de 400 balcões da CGD encerrados assim como de outros bancos e de praticamente todos os posto dos CTT, e das importantes e significativas adesões registadas nos trabalhadores dos Hiper e Super Mercados, Auto-Estradas e Centros de Contacto.

Uma dimensão tanto mais valorizável quanto construída sob a pressão e chantagem sobre os trabalhadores. Pressão ideológica sobre a alegada inutilidade da luta; chantagem decorrente da imposição ilegítima de serviços mínimos que visam condicionar o direito à greve; pressão económica, dirigida sobretudo a trabalhadores com vínculo precário, com a ameaça de despedimento e de perdas nas remunerações (prémios); e o condicionamento ilegal com o recurso em vários casos à força por parte da PSP e da GNR para dar cobertura à violação do direito à greve.

Um êxito tanto mais assinalável quanto centenas de milhares de trabalhadores se vêem confrontados com situações de endividamento e com o agravamento do custo de vida. Trabalhadores para quem, a realização de um dia de greve implica prescindirem de um dia do seu salário.

Esta Greve Geral veio do coração de cada empresa ou local de trabalho, da inabalável e consciente opção de cada trabalhador. Veio do sentimento de protesto, indignação e luta de milhões de trabalhadores que quiseram dizer Basta. Basta de injustiças! Basta de sacrifícios para os mesmos de sempre. Uma greve geral que constitui um momento singular de afirmação de dignidade dos trabalhadores portugueses.

2- Esta Greve Geral foi uma justa e necessária jornada de luta contra o roubo nos salários e pensões. Contra os cortes nas prestações sociais, no abono de família ou no subsídio de desemprego. Contra o aumento dos preços dos bens e serviços essenciais como os transportes ou os medicamentos. Contra a destruição dos serviços públicos e a privatização de empresas estratégicas.

Esta Greve Geral foi uma justa e necessária resposta ao agravamento do desemprego, ao alastramento da precariedade, ao empobrecimento de vastas camadas da população. Uma justa e necessária resposta ao processo de liquidação do aparelho produtivo, ao crescente endividamento do país e à perda de soberania nacional.

Esta Greve Geral foi uma justa e necessária resposta contra a escandalosa acumulação de lucros por parte dos grupos económicos e financeiros, que, em nome da crise e do défice das contas públicas, querem impor o agravamento da exploração dos trabalhadores e o esbulho dos recursos nacionais.

3- O PCP saúda todos os trabalhadores portugueses pela sua participação nesta Greve Geral.

Saudamos em particular os milhares de jovens trabalhadores que pela primeira vez participaram numa jornada de luta desta envergadura, elemento de incontornável valor político que se projecta como uma importante garantia para o futuro.

O PCP saúda a CGTP-IN, o movimento sindical unitário e todas as estruturas representativas dos trabalhadores pela sua acção e capacidade de organização demonstradas. A CGTP-IN confirma-se e afirma-se como a grande central sindical dos trabalhadores portugueses, referência incontornável para a defesa dos interesses dos trabalhadores e para o futuro do país.

4- Esta Greve Geral não foi um ponto de chegada, mas uma etapa numa exigente e prolongada luta que a situação nacional exige. Depois da realização desta Greve Geral, nada ficará como dantes. O Governo e os partidos que apoiam a sua política e Presidente da República que a patrocina tiveram nesta jornada de luta uma clara condenação, um sério aviso e uma firme exigência de ruptura com a política que promovem.

A Greve Geral constitui uma poderosa manifestação dos trabalhadores e do Povo português da sua disponibilidade para impedirem o prosseguimento da actual política, para serem parte determinante da ruptura e mudança de que o país precisa.

O PCP esteve ao lado desta Greve Geral, porque está com a luta dos trabalhadores, porque está comprometido com a exigência de aumento dos salários, de desenvolvimento do aparelho produtivo, de aposta no investimento e nos serviços públicos. O PCP esteve e está com a luta dos trabalhadores porque a sua luta é a luta por um país de progresso, de justiça social, por um Portugal soberano e independente.

Renovando o seu compromisso de sempre com esta luta o PCP reafirma aos trabalhadores e ao povo português que podem contar com o PCP.


CARTA DE ANITA PRESTES AO CC DO PCdoB


ImprimirPDF

imagem

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2010.

Ao Comitê Central do

Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Dirijo-me à direção do PCdoB para externar minha estranheza e minha indignação com imagem, que está circulando na Internet, da capa de uma publicação intitulada “Gibi do Programa Socialista do PCdoB – O ideal e o caminho”, assinado por Bernardo Joffily.

Essa publicação apresenta imagens dos meus pais, Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, ladeando a figura de Getúlio Vargas. Também estão colocadas junto a Vargas lideranças revolucionárias como Carlos Lamarca e João Amazonas. Não posso aceitar que sejam divulgadas, sem nenhuma razão para tal, imagens dos meus pais, dois revolucionários comunistas, junto com o ditador sanguinário Getúlio Vargas, que manteve Luiz Carlos Prestes preso durante nove anos e entregou Olga Benario Prestes à Alemanha nazista para ser assassinada numa câmara de gás.

Espero, portanto, que a direção do PcdoB torne público pronunciamento a respeito e retire de circulação tal publicação, cujo teor contribuirá para a distorção da história do Brasil e, em particular, das lutas revolucionárias em nosso país.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O veneno da mensagem em Tropa de Elite 1 e 2


imagem

MOVIMENTO DAS FÁBRICAS OCUPADAS

A primeira vista Tropa de Elite 2 não nos diz nenhuma novidade. Nem sobre a realidade social, nem sobre os próprios produtores do filme. Se oTropa 1 causou empolgação na direita e enjôos na esquerda, este agora parece (mas só parece) o arroz com feijão dos filmes de denúncia da corrupção. Para entender, primeiro é bom lembrar quem é, e de onde vem, o diretor (e produtor) José Padilha. Filho da alta burguesia carioca e morador da Zona Sul do Rio ele se encaminhava para ser um administrador de empresas quando decidiu sair do tédio e brincar um pouco de cineasta, ou melhor, de ganhar muito dinheiro como empresário do entretenimento comercial. Afinal ele é dono da produtora de filmes que está enchendo os bolsos. Por isso tanta preocupação em evitar a “pirataria”. Mas não somente isto, ele também cumpre outro papel.

Padilha é um tipo que percebeu que pode ganhar dinheiro porque tem talento para “traduzir” os problemas sociais na linguagem para e da “classe média” e da própria “elite” (que estão longe destes problemas, mas se “incomodam” com eles). Ele então vai “traduzir” para o idioma da ideologia burguesa que mistifica a realidade, primeiro sobre o que se passa de horroroso e “desconhecido” no submundo das favelas e depois nos meandros daquela coisa misteriosa que ele chama de “sistema” ou de “política”. Sem falar no drama da fome e miséria que ele buscou retratar no sertão do Ceará no documental Garapa (não precisava ir tão longe para encontrar famintos neste país). Para a maioria trabalhadora do povo brasileiro, o filme não traz nada de novo. Não é preciso ver numa tela o que se sofre todos os dias. Aliás, seria até de mau gosto.

O discurso de Padilha tem a pretensão de crítica isenta, mas suas entrevistas e os próprios filmes autorizam a conclusão de que ele não é imparcial como quer aparecer. No caso do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), por exemplo, é nítido seu elogio e mesmo quando criticado por isso, se desconcerta, mas não recua. Ele se coloca atrás da cortina e não assume explicitamente insistindo que está mostrando o que pensam os integrantes do BOPE. Mas na arte como na propaganda os criadores falam através de seus personagens. Padilha diz que entrevistou policiais do BOPE para saber como eles pensam. Mas, porque será que ele não entrevistou os moradores das comunidades e favelas que convivem com os Caveiras e Caveirões, para saber o que pensam a respeito do BOPE?

Simples, porque embora ele seja obrigado a tergiversar, o que lhe interessa é reforçar a instituição do BOPE e garantir sua legitimidade. Porque ele representa sua classe social e seus interesses, que são os mesmos do próprio governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), conhecido por seu discurso reacionário, preconceituoso e pela política repressiva de “segurança pública” acima de tudo, inclusive das próprias pessoas. Daí a importância de legitimar o BOPE, instituição esta que se pensa “nobre” por cumprir tarefa “importante” a sociedade: perseguir, torturar e matar qualquer um que saia correndo nas favelas (e como não correr de Caveiras e Caveirões?). Tudo com o pretexto de combate ao narcotráfico e às milícias da polícia corrupta. Porque se houvesse de fato interesse em acabar com isto estariam preocupados com educação e empregos e não com a “segurança”. A pergunta é, “segurança” para quem?

Já estava claro como Tropa 1 cumpre a tarefa de legitimar a violência do BOPE transformando o Capitão/Coronel Nascimento em herói da burguesia e da classe média que a acompanha. Agora, com Tropa 2, fica claro também outra questão. Diante do crescimento do batalhão, da corrupção nele próprio, dos absurdos cometidos a luz do dia (como o caso do trabalhador que teve a furadeira “confundida” com uma metralhadora e foi assassinado à distância) e do crescimento proporcional do rechaço popular contra o BOPE, o discurso de Padilha serve bem para desviar o olhar e ao mesmo tempo dar respaldo auto-afirmativo, e social aos quadros de uma instituição em crise. Ou seja, “levantar o moral” da tropa.

Instituição que, para funcionar e obter comprometimento de seus policiais com o serviço de matar sem critério e sem culpa, aplica técnicas de lavagem cerebral, humilhação e selvageria dignas dos exércitos norte-americano, israelense e fascista. Recentemente, um policial do BOPE morreu de desidratação durante o treinamento. A família está inconformada e tentando entender. Mas aos jornais, um ex-aluno do curso da “tropa de elite” explicou que “a preparação é cruel e os instrutores usam a falta d’água como punição”. Treinamentos e ideologia que exigem a conversão dos soldados até o ponto de que estejam suficientemente despojados de sua humanidade e dignidade para se tornar assassinos profissionais e sínicos. Processo que envolve estresse e sofrimento psicológico, o que só é minimizado pelo fato de que o recrutamento se dá entre os policiais mais propensos a esta conversão. E para não enlouquecê-los faz-se acreditar que seu trabalho é “nobre”.

Por isso, neste novo filme o “inimigo é outro”. Se em Tropa 1 o inimigo dos nobres soldados do BOPE era o tráfico, e acabou se tornando o próprio BOPE para parte da crítica e do público que não vive de hipocrisias, em Tropa 2 a coisa muda. O elogio agora pega mais leve, para ver se desta vez convence mais gente. Para salvar a mensagem fascista impregnada sai do foco o BOPE e entra o esquema das milícias com a “política”, corrupta por natureza na cabeça de Padilha. Sobra até para a esquerda, que ele pinta de “maconheira”. Ele próprio defensor da liberação de todas as drogas como afirmou no programa de Jô Soares. Ignorando o problema que as drogas representam a saúde pública, a explosão do consumo de Crack e outras drogas pesadas pela venda combinada e obrigatória com a Maconha.

Mas Padilha vai eternamente dizer que só está querendo “entender e explicar o que leva as pessoas a se tornarem traficantes assassinos e policiais corruptos”. Ótima estratégia para evitar críticas ao filme por sua reverência ao BOPE, ao mesmo tempo em que livra a cara do próprio BOPE, deslocando a crítica para o esquema de colaboração entre milícias, traficantes e políticos corruptos. Como se fosse grande novidade. Com exceção de que Padilha também ignora os grandes empresários que encabeçam o tráfico e a combinação de interesses entre capitalistas e os órgãos do Estado, típica da sociedade capitalista.

No fim das contas, para quem assiste ao filme desavisado, parece que Nascimento é um Caveira ingênuo que de repente vai descobrindo a podridão do mundo em que vive e que finalmente dá as mãos aos defensores dos direitos humanos. Que ironia! E assim, pretende-se dar a impressão ao público de que a descoberta de Nascimento é uma boa didática sociológica. Mistifica a sociedade capitalista como um corpo que só não é saudável e funcional porque ainda não se livrou das doenças que só o remédio dos Caveiras pode curar-lhe, por baixo exterminando a escória, e por cima denunciando os esquemas. Os filmes até parecem que fazem crítica ao BOPE em certos momentos, mas somente para reiterar seu caráter de mal necessário logo em seguida, como na passagem onde são os próprios do batalhão que salvam Nascimento da emboscada com os milicianos.

Seguindo esta linha, não será estranho se num Tropa 3 futuro o Coronel Nascimento aparecer como herói da direita, da burguesia e da classe média desesperadas pela crise mundial, sendo alçado ao poder mediante golpe de Estado, como chefe de uma ditadura militar “honesta e dura” como o próprio BOPE. E tudo como se fosse natural e politicamente correto. A moral da história é que Padilha aprendeu bem com o BOPE como se faz lavagem cerebral.

Não há que defender os 400 picaretas de Brasília e os políticos em geral, mas desmoralizar a democracia por mais entre aspas que ela esteja, e baseado na dualidade entre corrupção e moralidade, é preparar o terreno para o fascismo. A dualidade capitalista está entre os empresários capitalistas e latifundiários no poder contra o povo trabalhador do campo e da cidade (e não só no Brasil). O narcotráfico é só mais um negócio lucrativo baseado na exploração direta do trabalho e indireta pelo consumo dos trabalhadores e da juventude em face do desemprego e falta de perspectivas. Que aliás, também atinge a própria “classe média”. A contradição só pode ser resolvida por quem opera os botões e as engrenagens que fazem o mundo andar e parar: os trabalhadores. Portanto, já temos nossos heróis. Não precisamos de outros, muito menos daqueles que nos sufocam até a morte com sacos plásticos, fuzis e filmes de ideologia venenosa, que legitima a violência.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A greve continua !


A assembléia do dia 23-11 avaliou a reunião com o reitor na sexta feira, chegando à conclusão de que os avanços podem e devem ser maiores, pois o reitor embora tenha comentado que é favor das pautas apresentadas disse não ser capaz de fazer mais nada acerca das exigências estudantis. Deixando a cargo do conselho universitário a aprovação das pautas reivindicatórias.

Nesse sentido, o ato a ser realizado no encontro do CONSU na sexta-feira próxima é uma importante deliberação. Tal conselho é uma das instâncias máximas de decisão dentro da UNIFESP, porém, observa-se que lá dentro há uma postura pouco inclinada a dialogar com os estudantes, além da representatividade que é dividida em absurdos 70 por cento para professores, enquanto funcionários e estudantes dividem os trinta que restam.


Charge de Rafael Barbosa (Alfredo)


O ato unificado com outras universidades também tem importância considerável, afinal, isso articulará ainda mais o movimento estudantil e conseguirá chamar a atenção de outros setores da sociedade, como movimentos sociais e populares.

A assembleia geral com professores e funcionários também é uma iniciativa que alcançará efetivamente outros setores da universidade, aumentando o núcleo de resistência e prolongando a luta, afim de garantir a realização das reivindicações.

As pessoas favoráveis à continuidade da paralisação somaram 275 votos. As contrárias somaram 156 votos e as que se abstiveram somaram 22, portanto, a mobilização vai continuar e buscar se articular.

O que é isso companheiro?

O estranhamento por parte dos estudantes e dos militantes de partidos políticos de esquerda foi de um importante militante do PSOL - Guarulhos, que ao pedir a palavra se declarou contrário à mobilização. Mas, o grande problema é que o "revolucionário" propôs o fim da mobilização e da greve. Evidentemente sua proposta foi derrotada. No entanto, fica o estranhamento perante tal absurdo e a tristeza ao acompanhar a atitude do companheiro.

Com respeito, nós do Partido Comunista em Guarulhos, nos declaramos decepcionados e esperançosos de que a atitude do militante em questão tenha sido individual, isolada e não deliberada no partido. Se assim for, cabe ao comitê municipal de Guarulhos do Partido Socialismo e liberdade rever suas lideranças.

domingo, 21 de novembro de 2010

O Exército boliviano se declara socialista, antiimperialista e anticapitalista


Crédito: ABN

Por EFE – Agência Espanhola de Notícias

La Paz - O Exército Boliviano, que celebrou domingo, 14, seus 200 anos de criação, se clarou "socialista'', "antiimperialista'' e "anticapitalista''. O comandante nacional do Exército, general Antonio Cueto, afirmou que a Constituição promulgada em 2009 "dá lugar a que o Exército surja como uma instituição socialista, comunitária''.

"Nos declaramos antiimperialistas, porque na Bolívia não deve existir nenhum poder externo que se imponha, queremos e devemos atuar com soberania e viver com dignidade. Também nos declaramos anticapitalistas porque este sistema está destruindo a mão terra'', afirmou durante um ato pelo bicentenário do Exército. Essa instituição assume como ano de criação 1810, quando começaram as revoluções independentistas no atual território boliviano contra a coroa espanhola.

Cueto criticou os "governos neoliberais'' bolivianos que "fizeram um pacto com o sistema capitalista, buscando a destruição das Forças Armadas'' do país, "com planos que diminuíam progressivamente sua capacidade operativa''. Ratificou que o Estado boliviano "é pacifista'', mas também se reserva "o legítimo direito à defensa'' de seu território e agregou que os militares ‘‘não irão permitir sob nenhuma circunstância a instalação de bases estrangeiras'' em seu território.

Por sua vez, o presidente Evo Morales pediu aos militares que estejam preparados' para defender a soberania da Bolívia, ante a possibilidade de que "qualquer império'' tente ‘‘intervir militarmente''em seu país, como o fizeram há 200 anos para "combater o domínio espanhol''.

"A história demonstra que o Exército nasce com uma posição antiimperialista porque combateu o império europeu desde 1810'', afirmou Morales, ao destacar que o ‘‘nacionalismo militar'' das Forças Armadas não foi "importado nem imposto'', mas que nasceu em seguida à luta da Guerra do Chaco travada contra o Paraguai entre 1932 e 1935.

Ao ato assistiram os comandantes dos Exércitos do Chile, Juan Miguel Fuente-Alba e do Equador, Patrício Cáceres, além de delegações militares da Argentina, Brasil, Chile e Peru. O Exército boliviano ratificou seu compromisso com o ‘‘processo de mudança'' levado adiante pelo governo.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Presidente Chileno persegue os comunistas e - numa gafe vergonhosa - faz saudação nazista na Alemanha.

"O governo chileno está preocupado com possíveis ligações entre comunistas chilenos e organizações e terroristas como as FARC", publicam com grande alarde noticioso os meios de comunicação colombianos ligados ao uribosantismo.


Mas, em contrapartida, essa mesma falsimedia tem ocultado deliberadamente, ou seja, tem "desinformado" os colombianos, sobre o sujo incidente com o homem mais rico do Chile que se tornou presidente dessa nação, Sebastián Piñera, em 25 de outubro passado, na sua recente e ignorada visita à Alemanha, quando no auge do seu fanatismo nazista escreveu, com o maior cinismo, no livro de convidados ilustres e para o espanto do presidente alemão, o slogan nazista:

"Deutschland Über Alles" (Alemanha acima de tudo), slogan com o qual Hitler iniciou a Segunda Guerra Mundial e o holocausto de 60 milhões de pessoas.

Razão pela qual o governo alemão teve que arrancar a folha do livro com essa grave ofensa diplomática, e ignorar a saudação que o nazista Piñera tinha escrito. Dias depois, o "ariano e louro" Piñera, (ver foto) teve que pedir desculpas ao governo e ao povo alemão, dizendo que ele havia aprendido a frase no Colégio Verbo Divino, com os mesmos professores que ensinaram a seu amigo intimo, o já falecido Augusto Pinochet .



Desta forma dá para entender a vergonhosa campanha de difamação e calunia empreendidas pelo governo chileno contra o Partido Comunista do Chile, que sempre se opôs ao nazifascimo pinochetista e que agora o nazista Piñeira quer reviver, montado (Über) por cima da crista publicitária do resgate "tecnológico" dos mineiros sepultados no deserto, façanha em que nada teve a ver o governo chileno que quer se apoderar oportunisticamente desse triunfo da tecnologia humana.









quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vídeo do ato pela permanência estudantil e melhores condições de trabalho convocado pelo ME e pelo Sintunifesp em frente à reitoria

A luta continua! Pressão na reitoria e vitória dos estudantes. PCB apoia a luta do movimento estudantil combativo que não se rendeu ao governo

Texto do comando de greve em Guarulhos

Nesta terça, fizemos mais uma Assembléia Geral inter-campi, no Pátio da Tribo. Dessa vez também com presença maciça de estudantes do campus de Diadema, foi mantido o indicativo para Greve Geral em todos os campi, e construída uma carta de reivindicações, com prazo para resposta até quarta-feira próxima. Faremos então, na quinta-feira, nova Assembléia para deliberar a respeito da resposta da Reitoria.
Fomos então em marcha, entregar a carta de reivindicações ao nosso magnífico Reitor. Diante das precárias condições de Estrutura e permanência estudantil, entendemos, que, se a autoridade máxima da UNIFESP não poderia fornecer esclarecimentos, e, sobretudo, prazos para a concretização das nossas reivindicações, poderia ao menos demonstrar sua solidariedade e comprometimento com as reivindicações, assinando o documento na presença de todos.
Mas o Reitor Albertoni não queria descer para falar com os estudantes. De jeito nenhum.
“Desce Albertoni, desce!”, chamamos.
Nada.
Fomos então incisivos: “Ô Albertoni, pode descer! Tem uma árvore esperando por você!”, em alusão a declaração do reitor ao Estadão, que com bons professores podemos ter aula até em baixo de uma árvore.
Nada também.
Até clamamos pelo nosso reitor, rezando um “Reitor Nosso” (Em breve disponibilizamos aqui).
Mas o reitor não apareceu.
Mandou dizer, no entanto, que “a porta estava aberta”. Policiais e Seguranças da UNIFESP no entanto bloqueavam a passagem.
Infelizmente, houve empurra-empurra, um estudante ameaçado de ser preso ao receber um “mata-leão”, e spray de pimenta para todos. Somente então o reitor põe apenas a cabeça para fora, lá de cima do prédio.
Não nos intimidamos, e continuamos o Ato pacificamente.
Uma vitória simbólica. O Reitor acabou descendo. Assinou a carta aos olhos de todos. Mas mandou um recado: “Aquilo era uma palhaçada”.
É uma pena que a autoridade máxima da instituição entenda que reivindicar melhorias na Universidade seja “uma palhaçada”. Entendemos por palhaçada muitas outras coisas, como um prédio novo de R$18 milhões para a Reitoria enquanto falta aos outros campi salas de aula, bibliotecas, laboratórios, enquanto os outros campi da “grande família” da UNIFESP permanecem em situação provisória-permanente.
Seguiremos lutando!
“Estudante, na rua, reitor a culpa é sua!”