terça-feira, 28 de julho de 2009

"A Greve" Sergei Eisenstein

O filme "A Greve"
O filme "A Greve" (1925) do diretor Serguei Eisenstein, apresenta como temática central (e personagem individualizado) a greve da classe trabalhadora de uma fábrica de Moscou, logo após a morte de um trabalhador, que morreu acusado injustamente de roubo. Este filme foi filmado entre julho e outubro de 1924, terminado de montar em dezembro do mesmo ano e suas primeiras exibições públicas ocorreram em março de 1925.

Numa tentativa de quebrar com a unidade dos trabalhadores, os empresários e o governo czarista uniram-se e enviaram um "infiltrador" no interior da classe operária. No entanto, fracassado o intento, eles enviaram então, a polícia e os grevistas desarmados foram massacrados num confronto final.

A história de "A Greve" está dividida em seis partes, caracterizando, dessa forma, a quebra de linearidade (ruptura de uma leitura linear), e esse corte vai exercer um papel de atração e passar uma idéia de conflito, assim como no seu filme "Encouraçado Potemkin".

"A Greve" é um filme revolucionário na medida em que se propõe a "expor uma tática", explicar um processo de luta, analisando a evolução de um ato revolucionário e não apenas fornecendo uma descrição de seus lances.

É interessante destacar alguns conceitos em que Eisenstein trabalha no filme, como o paralelismo, a montagem e a introdução de imagens simbólicas.

- no final do filme, o matadouro não pertence ao espaço da ação em que se desenvolve o massacre dos trabalhadores, a montagem o introduz num conceito de metáfora (que o diretor quis trabalhar).

- podemos perceber que os animais (pintinhos, gatos, porcos, patos e outros) fazem parte da ação do filme, são sujeitos do filme num jogo de paralelismo: logo no início Eisenstein intercala imagens de seres humanos (homem) com a de animal: animal bebendo água e, logo em seguida, o homem; e na parte 3, as primeiras cenas mostram animais sadios e no final (parte 6), aparece um boi no matadouro num jogo de comparação com a morte dos grevistas (como já citado).

- é interessante observar que na parte 3 aparecem cenas de crianças brincando sozinhas ou em grupos, mulheres e crianças felizes e comendo fartamente, e na parte 4 aparece em contradição, com a parte 3, crianças com fome, esposa brigando com o marido representando a falta de dinheiro.

- os empresários e membros do governo czarista aparecem bem estereotipados: fumando charutos, bebendo uísque e aparecem bem gordos. E eles estão totalmente afastados das classes sociais inferiores, e se comunicam com elas através de subalternos. E este são cúmplices com os detentores do poder.

- a passeata (manifestação dos grevistas) é sujeito da ação, assim como em Outubro e é interessante observar que numa das cenas que a polícia está reprimindo a manifestação, a câmera está fixa.

- a unidade da classe operária é representada por um plano fixo de três gerações de trabalhadores. A desunião está entre os mais velhos: bancam os agentes duplos ou provocadores.

- os trabalhadores hostis à greve são os que estão num certo estado de ambigüidade, são aqueles que de certa forma tem algum privilégio ou poder: bombeiro, motorista (que aciona a sirene), dentre outros.

- a classe operária vive num gueto, está isolada territorial e socialmente, e mesmo no interior deste gueto.

Em "A Greve", Eisenstein faz uso da montagem audiovisual. Há uma seqüência curta mostrando uma assembléia de grevistas com a aparência de um passeio casual com um acordeão. Esta seqüência termina com um plano com efeito sonoro através de meios puramente visuais.

A exposição visual é marcado pela cena de um lago que podia ser visto ao pé de uma montanha, pela qual subia, em direção à câmera, uma fila de artistas ambulantes com seu arcodeão. Na exposição sonora, o arcodeão estava em primeiro plano, enchendo toda a tela com seu fole em movimento e suas telhas brilhantes. Este movimento, visto de diferentes ângulos, criou a sensação de um movimento melódico, que uniu toda a seqüência.

Todo o filme é permeado pela luta capital X trabalho, e a síntese do filme acaba por ser a derrubada do capitalismo e a ascensão da classe trabalhadora.

Podemos concluir que os filmes de Serguei Eisenstein citados neste estudo, apresentam traços marcantes, característicos da forma de fazer cinema do diretor.

O ideário político de Eisenstein é característico nestes filmes. Podemos observar tal caraterística pela preocupação em fazer desses filmes o grande tema, o personagem individualizado: o encouraçado, a greve e a revolução.

Em seus filmes as mulheres estão sempre ligadas a situações de paradoxismo: elas transmitem a ordem da greve, encorajam (ou não) a continuidade do movimento, suscitam o recurso da violência (Batam nele!, papel da mãe em Outubro e em A Greve: Socorro, camarada!). Seu papel é sempre central, anunciador da morte ou do sangue.

É interessante destacar que Eisenstein foi coerente com seu princípio, com sua técnica e com seu tempo.

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