segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

FARC-EP declaram cessar unilateral ao fogo e às hostilidades por tempo indefinido


Quarta-feira, 17 de dezembro de 2014 Escrito por FARC-EP
Havana, sede dos diálogos de paz, 17 de dezembro de 2014
Cessar-fogo
«Ódio eterno aos que desejam sangue e o derramem injustamente»
Simón Bolívar, 1820, na assintaura do armistício com o espanhol Pablo Morillo
O ano de 2014 aproxima-se do final, após dois anos e alguns dias de diálogos de paz ocorridos em Havana, Cuba, entre plenipotenciários do governo colombiano e da Delegação de Paz das FARC-EP. Durante o tempo assinalado, trocamos teses, propostas e conquistamos alguns acordos parciais, mantendo-nos, a todo o momento, em pé de igualdade e com os mesmos direitos e deveres emitidos para ambas as partes do Acordo Geral de agosto de 2012. Atualmente, encontramo-nos estudando e buscando saídas para questões e problemas difíceis, por razão da natureza complexa destes últimos, ou porque em mais de cinquenta anos de conflito interno as soluções que deveriam ter sido aplicadas para benefício coletivo foram adiadas.
Os diálogos colocaram em manifesto que a pátria colombiana requer uma honesta e profunda revisão. A desigualdade e a pobreza generalizada, a incompetência estatal em fazer prevalecer o bom governo, a justiça e a paz não permitiram semear concórdia nem construir as bases de uma reconciliação perdurável. O conflito social e armado continua vigentes; originado na chamada “violência partidária”, na injusta visão histórica sobre assuntos vitais relativos à terra, na conduta indigna com o dinheiro público, na concentração sem limite da riqueza nacional em mãos contadas, cada vez mais esfomeadas, e em uma institucionalidade pública inútil por ter sido desprezada por inescrupulosos detentores do poder, confirma que na Mesa de Conversações, o caminho que os plenipotenciários possuem adiante é de uma imensidade sem precedentes.
Para nós que temos o compromisso de montar o cenário a partir do qual se construirá uma nova República com a ajuda de todos e cada um dos homens e mulheres que formam o componente humano de uma mesma pátria, os meses por vir são fundamentais. Dito cenário é único; não é qualquer. Trata-se, nada mais, nada menos, do cenário do agora ou nunca. É o cenário imaginado por todos, pelo qual lutamos e padecemos tanto: é o cenário da paz, da reconciliação, da irmandade com justiça social.
Apelando ao sagrado e irrevogável direito à rebelião, que por razões que sempre emanaram da desumana existência daqueles que tudo necessitam por ter-se negado o mínimo vital em todos os terrenos, buscamos com as armas, como último recurso de expressão política, pelo menos nos colocamos em pé de igualdade com o implacável adversário de todos os tempos, para que nossa voz, que é a do povo excluído não continuasse sendo ignorada. Por isso, não desperdicemos a atual conjuntura que serve para expor com justos títulos uma enorme quantidade de reclamações acompanhadas de dezenas de soluções. Encontramo-nos em Cuba para continuar forjando a Pátria Construamos entre tudo o porvir. É nosso chamado.
Ontem, durante a última audiência de vítimas do conflito para escutar seus relatos, evocamos, com inevitáveis sentimentos, as outras vítimas que ninguém recorda, porém que as FARC-EP sempre honram levando-as em sua memória individual e coletiva e pelas quais continua buscando a reconciliação nacional, porém revestida de tudo que possa significar a palavra “justiça”. As vítimas da inescrupulosa violência partidária, as vítimas dos “cortes de flanela”, as vítimas da primeira geração de paramilitares da década de cinquenta e sessenta do século passado, as vítimas da ditadura militar de ingrata recordação, as vítimas da ingerência estrangeira tolerada por governos bipartidaristas, as vítimas dos desaparecimentos forçados, das remoções e das execuções extrajudiciais.
As vítimas de Marquetalia, Ríochiquito, El Pato e Guayabero; as mesmas vítimas que nós, em defesa das altas localidades, possivelmente provocamos por erro; as vítimas dos homens do Estado e da força pública as vítimas militantes da União Patriótica as produzidas pela nova geração de paramilitares em conivência com agentes das diversas armas oficiais. As dos fornos, dos massacres, das motosserras e as que repousam nas tumbas de indigentes; ou as que cujos corpos flutuaram rio abaixo até desaparecer; e as que nunca foram registradas; e as vítimas da miséria e da forme, da desigualdade e, em geral, aquelas vítimas, que somos todos os colombianos, nas mãos desse, o maior e mais funesto de todos os algozes: o Estado.
Conforme o anterior, inspirados no direito dos povos, tradição constitucional colombiana e homenagem a todas as vítimas ocasionadas em razão do conflito buscamos superar, em consideração ao trabalho que nos compromete cada dia mais com o espírito traçado na parte relevante da agenda de Havana, e em atenção ao fato de acreditarmos ter iniciado um caminho definitivo para a paz, acompanhado de um processo constituinte, declaramos um CESSAR UNILATERAL AO FOGO E ÀS HOSTILIDADES POR TEMPO INDEFINIDO, que deve transformar-se em armistício. Para a conquista de seu pleno êxito, aspiramos contar com a supervisão da UNASUL, CELAC, do CICV e da Frente Ampla pela Paz. Este cessar-fogo unilateral, que desejamos que se prolongue no tempo, se daria por terminado somente caso seja constatado que nossas estruturas guerrilheiras são objeto de ataques por parte da força pública. É nosso anseio que o povo soberano assuma também e de maneira protagonista esta supervisão, dado que com ela se busque o benefício da pátria lacerada e uma homenagem às vítimas de ontem e de hoje.
Seja a oportunidade para chamar a atenção de forma clara e direta do Presidente Santos por ter mostrado, mais uma vez, sua alegria no twitter, pela morte de alguns de nossos companheiros de armas e de ideais, no domingo anterior. A guerra não pode ser motivo de felicidade, mas de pena. Assim, apresentam resultados que podem beneficiar episódica e transitoriamente a alguma das partes. Precisamente, o respeito aos caídos é um principio universal da humanidade, independente do grupo representado. Não mais circo, não mais exibicionismo de força incontrolada, não mais cobrança de faturas com o sacrifício de vidas alheias.
Queremos contrastar. Queremos superar os episódios inúteis de sangue. Já manifestamos esta nossa vontade várias vezes sem sermos ouvidos. Dessa maneira, manifestamos que o mencionado cessar-fogo e de hostilidades entrará em vigor às 00:01 horas de 20 de dezembro de 2014, data que conta com a disposição de verificação de, ao menos, uma das organizações mencionadas.
A presente decisão está sendo comunicada formalmente pelo governo da Colômbia: às Embaixadas e sedes diplomáticas a nosso alcance; ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU); à União Europeia; ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV); à União das Nações Sul-americanas (UNASUL); à CELAC; ao Papa Francisco; às outras lideranças religiosas reconhecidas universalmente; ao Centro Carter e às ONG’s de reconhecimento mundial.
Estamos dispostos a convocar em Havana todas as organizações colombianas sem fins lucrativos, amigas do processo de paz, para apresentar um informe sobre a iniciativa aqui exposta e com o propósito de convidá-las a apoiarem esta iniciativa pela paz da Colômbia.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Fonte: https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/14a59f325ba7bbe1
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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