Ele se deitou em posição fetal tentando em vão proteger com
as mãos seu crânio e rosto. Tentava suavizar um pouco o impacto dos açoites que
rasgavam a sua pele em golpes fortíssimos desferidos pelo algoz mascarado.
Os açoites provocavam uma agonia torturante que transformava
segundos em séculos. A lágrima e a blasfêmia jorravam de seus olhos, boca,
coração e cérebro.
Ao mesmo tempo, sacerdotes rodam de mãos dadas em volta do
açoitamento, como se brincassem ciranda. Mas, na verdade, julgam a conduta do
fustigado. – Que vergonha! – dizem eles, - Tu deves aceitar teu fado! Essa é
sua causa! Levanta e abre os braços, estufe o peito! Que os açoites dilacerem
teu rosto e tórax! Vamos herege! Judas! Judas! Judas!
E o carrinho de bebê continua descendo, inocente e
fatalmente, pela escadaria de Odessa abaixo. Não há – ainda – quem possa evitar
o massacre do vergastado, sacralizado, desde antes de cristo, pelo sacrifício
redentor do homem tolo que sofre e morre porque quer.
Rubem Guarani
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