terça-feira, 24 de julho de 2012

A comuna de Toribio, Cáuca



imagemCrédito: 2.bp.blogspot
A comuna de Toribio, Cáuca
Indígenas e trabalhadores rurais desmontam as trincheiras do exército e da polícia militarizada em Toribío e exigem sua saída do município. Mas Santos rechaça a exigência popular e se prepara para entregar o território 
às transnacionais mineradoras já que na cordilheira, onde o exército construiu bases militares, há grandes
reservas de ouro e outros metais.
Por Horacio Duque Giraldo.
Em Toribio, Cáuca, e em outros municípios do norte deste departamento, como Miranda, Jambaló, Corinto, Suarez, Santander de Quilichao, onde vivem mais de 200 mil indígenas nasas, paeces e guambianos, pertencentes à civilização Chibcha, predominante na Savana de Bogota desde o começo do século XVII, logo após o feroz extermínio dos conquistadores espanhóis, tem acontecido um fato sócio-político extraordinário para as mudanças estruturais desta nação.
Formou-se nessa área de 570 hectáres, um Poder Popular Indígena, uma Comunalidade ameríndia que quer viver em paz, que reivindica a justiça social, que demanda a vigência dos direitos humanos, que exige a negociação política do conflito. É um poder democrático que contrasta com o poder oligárquico das camarilhas dominantes no Estado central. Um Poder organizado para desenvolver os conceitos de território, unidade, cultura, autonomia, resistência, justiça e moral.
¿Quién protege a quién? La estación de policía enToribío, objeto militar en el conflicto social&armado.
UMA POTENTE REVOLTA INDÍGENA ocorrida ao longo das últimas semanas expressou politicamente com formas próprias de governo, para projetar soluções a suas mais difíceis angústias, depois de 500 anos de assassinatos, crimes, despojos, extermínios e guerra contra as massas autóctonas, realizada conjuntamente pela coroa espanhola e seus conquistadores (Francisco Pizarro, Jorge Robledo), prolongada até os dias de hoje por uma minoria oligárquica, com os sobrenomes de velhos comendadores (Holguines, Caros, Mosqueras, Lloredas, Caycedos, Iragorris, Lemos, Hormazas, Cogollos). Ali, quase toda a vida colonial, com violência exterminadora de indígenas desde a conquista espanhola, segue intacta, como se a famosa independência liberal de 1810 não houvesse ocorrido. As elites locais com auditores, comendadores, fazendeiros e latidundiários, inquisidores clericais e ultramontanos, seguem ocupando Popayan. A caucana é uma sociedade imóvel e cerrada como há 400 anos. Uma radiografia das famílias Mosquera y Chaux e Iragorri, nos daria um vivo retrato desta estrutura social obsoleta.
Santos foi vaiado pelos indígenas e os trabalhadores rurais em Toribió. Chegou com três mil soldados.
A quem teme?
Por suposto, o que ocorre em dito território não é uma exceção na cena nacional. Em outros lugares da Colômbia há novos focos de crescente inconformidade. Há um clima sócio-político de levantamento popular, que organizações sociais querem coordenar para propiciar uma greve cívico/político, uma greve política de massas que desmantele um Estado em descomposição e degradado.
A COMUNA DE TORIBIO, organizada pela comunidade ameríndia com sua Guarda e instituições comunais não caiu do céu nem é ganga de vendedores ambulantes. É a expressão do alto nível de consciência alcançado pela população como resposta à crise de uma sociedade arruinada. É a reação da população contra o militarismo violento do governo do senhor Santos e seus patrocinadores do Departamento de Defesa gringo, o financiador desta guerra contra o povo cáucano, como parte de seu Plano para manter o controle e o roubo dos recursos naturais, minerais e estratégicos do território, com importantes mega projetos neste território de grande importância geoestratégica para a unidade nacional.
No Cerro Las Torres de Toribio, os nasas içaram uma bandeira, símbolo do Cric e da Minga, emblema do poder ameríndio.
Indígenas amerindias.
O Cáuca, território ancestral de indígenas e afrodescendentes, é uma região com profunda crise causada pelo abandono absoluto e pelo domínio de uma velha aristocracia que vive da renda da terra mediante a mais aberrante exploração da forza laboral. Na região existem problemas mais profundos que são emblemáticos das raízes da guerra: a pobreza em que vive a maioria de seus habitantes, a desigualdade rampante, a falta de educação, de saúde, de moradia. Em Cáuca se encontram todos os elementos da guerra civil colombiana: a necessidade da reforma agrária, iniquidade, miséria, discriminação racial, concentração da riqueza, neoparamilitarismo, corrupção politica e militarismo. É um dos departamentos mais pobres. De seus 43 municípios, 33 têm mais de 50% de sua população com Necessidades Básicas Insatisfeitas-NBI. Segundo estatísticas recentes, a dita zona e sua Capital, Popayan, têm as maiores porcentagens de população em situação de pobreza extrema. Cáuca tem o pior índice GINI do país (o que significa a pior desigualdade social), depois do Choco, la Guajira e Huila. Ali há fracassado o Estado oligárquico-burocrático e seus medíocres políticos. Em Cáuca permanecem, com vocação de eternidade, estruturas coloniais como o latifúndio e seus ferozes terratenentes da guarda pretoriana paramilitar.
Paramilitar, ex-governador eex-embaixador da Colômbia na República Dominicana; Juan José Chaux, aliado com ex-chefes páras, como ‘Don Berna’. Hoje, ambos estão encarcerados.
EM CÁUCA TEMOS A DEMOSTRAÇÃO rotunda do fracasso do Estado burguês e mafioso colombiano, que é o foco real da violência reacionária que dessangra a nação por todo o território. O colapso das anacrônicas instituições de subordinação, encabeçadas por umas camarilhas sociais e políticas que seguem vivendo como na época colonial, é total. Temistocles Ortega (atual Governador), um obscuro representante da burguesia burocrática/judicial predadora; os senadores Jose Dario Salazar, um medíocre e macartista arquivo-vivo uribista; Aurelio Iragorri, a cabal expressão da arrogância latifundiária e intermediadora, com seu filho que quer lançar à Presidência; Juan Jose Chaux encarcerado por narcoparamilitarismo; Jesús Ignacio Garcia, o artífice dos "contrabandos" na reforma da justiça, são os nomes mais destacados desta camada de aristocratas perfumados que festejam o infortúnio dos pobres. Os políticos da região são aristocratas feudais pitorescos com muita influência na Presidência do senhor Santos; eles fazem sua politicagem sobre a base do excluir, despojar e estigmatizar a população indígena, de trabalhadores rurais, afrodescendentes, para o qual incluem o narcoparamilitarismo em sua ação política. Entre todos estes politiqueiros lograram que esta forma de fazer política passara de um gamonalismo regional a diretriz política nacional durante o governo de Uribe Velez.
EM CÁUCA, COMO EM CATATUMBO, na La Macarena-San Vicente del Caguan, nos Montes de María, em Tumaco, no Paramillo, na La Cordillera Central, no Oriente de Caldas e no Putumayo, as velhas épocas oligárquicas não desapareceram e adquirem uma forma fascista uribista: Todas as feridas causadas aos indigenas, aos trabalhadores, aos campeseses, aos pobres, todavia hoje seguem sendo as guerras biopolíticas contra os pobres, nas quais se utiliza toda a parafernália bélica norte-americana financiada pelo Plano Colômbia e o Departamento de Defesa.
Guerra biopolítica materializada na atualidade nos planos bélicos de Santos, cujo governo segue utilizando a estratégia militar intensa financiada pelo imperialismo norte-americano, para aniquilar a resistência indígena. Desde fevereiro há ali uma nova e renovada ofensiva militar e neoparamilitar, já que Cáuca é uma das 10 áreas onde se concentram os planos guerreiristas dos poderes bogotanos, a cargo de uma Força Tarefa conjunta denominada Apolo e coordenada por 600 mercenários ianques apoltronados no Ministério da Defesa, no marco da chamada "Operação Espada de Honra", que persegue objetivos militares de Alto Valor Estratégico, para destruir a resistência guerrilheira à que se pretende jogar a culpa por tudo o que sucede quando os reais causantes disto já estão plenamente identificados.
A presença indígena na guerrilha colombiana é visível em muitas regiões do país.
Pelo contrário, é graças às ideias socialistas/revolucionárias, às propostas comunistas do século XXI, aos postulados progressistas de reforma agrária, a defesa dos direitos humanos e das liberdades políticas, que fortaleceu a consciência e organização revolucionárias dos indígenas e trabalhadores rurais caucanos para que pudessem chegar aos graus de organização e rebeldia que apresentam hoje.
O PLANO CÁUCA POR 500 MILHÕES DE PESOS, para projetos agrícolas e infraestrutura, anunciado à última hora pelo senhor Santos, com sua ideologia e discurso trasloucado por uma "terceira via", é outra saída demagógica para propiciar o aguaceiro noticioso. Este financiamento foi festejado novamente por seus amiguinhos do Senado envolvidos nas mais eficazes cadeias do clientelismo e da corrupção.
Estimulante a presença do Poder Popular Indígena no Norte de Cáuca. Cheia de energia ao resto do movimento popular colombiano.
Os nasa, paeces e guambianos são dignos herdeiros da Cacica Gaitana e de Quintín Lame que em seu tempo foram exemplo de rebeldia e dignidade.
Indígenas se manifiestam na "Gran Minga".

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Tradução: PCB (Partido Comunista Brasileiro)

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