terça-feira, 17 de abril de 2012

Sobre os piquetes de greve na Unifesp


Matéria do PCO
Luta estudantil 
Estudantes em greve na Unifesp de Guarulhos e a correta realização dos piquetes
A paralisação da unidade de Guarulhos da Unifesp é total. Os “fura-greve” têm utilizado o CEU (Centro de Educação Unificado) da prefeitura para boicotar a greve estudantil 

17 de abril de 2012
O êxito da greve estudantil, ou de qualquer greve, está associado à completa paralisação das atividades para pressionar a reitoria, governo ou patrão a ceder diante das reivindicações. A organização dos piquetes é a forma encontrada pelos movimentos, tanto estudantil quanto sindical, de evitar o boicote de suas lutas até mesmo com a compra de alguns elementos.
Como muitos dizem, os motivos da greve na Unifesp de Guarulhos estão diante dos olhos de todos que colocam os pés na unidade. Ninguém nega a necessidade de construção do prédio, da biblioteca e a dificuldade de acesso e permanência. No entanto, quando os estudantes em assembleia, vale ressaltar com cerca de mil estudantes e com a aprovação de 90% dos presentes, decidem como meio de serem ouvidos, a greve estudantil, aparecem as propostas de “outros métodos” ou as críticas aos métodos da greve, embora ninguém diga quais são e eles não apareçam nos momentos de normalidade.


As reivindicações do movimento estudantil têm por objetivo alterar a política do governo para a educação e não são de forma nenhuma de tipo econômico. Nesse sentido, são necessárias diversas ações públicas para expor a crise da universidade.
Alguns poucos professores tentaram dar aulas atacando o direito dos estudantes de se manifestarem politicamente.
Um professor chegou a ameaçar os estudantes em greve quando divulgavam o movimento em uma sala de aula afirmando “vocês tem o direito de fazer greve, mas irão arcar com as conseqüências”, numa evidente tentativa de intimidar o movimento.
É necessário esclarecer a esse professor: direito não pode ter restrições, pois isso retira seu caráter de ser direito. Como um Juiz que decide que os metroviários podem fazer greve, desde que 90% da categoria trabalhe. Ou até mesmo na ditadura em que pessoas poderiam reivindicar seus direitos e arcavam com a conseqüência de os militares os retirarem de seu setor de trabalho ou estudo para serem torturados e em muitos casos assassinados.
Isso é o que esse professor entende por “direitos”? Esse professor irá desrespeitar também a decisão de sua própria categoria de fazer uma paralisação como protesto às condições em que está a universidade?


Outros poucos estudantes acusam o movimento de greve de ser violento. É importante deixar claro que violência é passar por cima da decisão coletiva e democrática e entrar nas salas para assistir aula, prejudicando quem está estudando e lutando por melhores condições de ensino para todos. Se esses jovens consideram que a greve é um erro, pois está contente com o tratamento que recebe da reitoria, devem ir aos fóruns do movimento e convencer a todos, com o tão falado “diálogo”.
O movimento estudantil não deve se intimidar com a agressividade dos poucos alunos fura-greve, nem dos professores. Os piquetes são os meios encontrados historicamente pelos movimentos de fazer cumprir uma decisão coletiva. 
Leia a carta aprovada pelos estudantes na assembleia do curso de história na Unifesp – Guarulhos a favor dos piquetes e da greve: 
Carta dos estudantes de História sobre aulas que ocorrem durante a greve

Para além do que é material, há outras possíveis conquistas em uma greve como o fortalecimento da organização política que tal processo nos proporciona. O amadurecimento decorrente da greve traz consigo também a necessidade de posturas mais firmes daqueles que nela se envolvem. Para não deixar passar tal questão, digamos, pois, quem são aqueles que estão envolvidos em um processo de greve e a partir disso, aproveitemos o momento para uma breve discussão sobre o que é soberano e o que é violento.
Muitos dirão que há o direito individual de não fazer greve e de não acatar, portanto, o que por Assembleia for deliberado, uma vez que este espaço responde aos anseios de uma parcela dos estudantes, não do todo. Ainda complementarão dizendo que ocorre uma violência para com aqueles que entram em sala de aula seguindo um princípio do direito individual.
Ora, deveríamos então ceder aos anseios individuais em todos os momentos nos quais nossas posições não são contempladas pelo coletivo? Sabemos, a partir da vivência em sociedade, que esse não é o caminho.
A Assembleia estudantil é o espaço máximo de debates e deliberações que possuímos, é um meio no qual se consegue estabelecer votações sem esvaziamento político. Um espaço de concentração dos anseios da coletividade e por tudo isso, os membros que a compõem a chamam: soberana. É também graças a esse espaço de ampla discussão que os métodos de luta podem ser questionados e outros pensamentos agregados a fim de que se dê uma ampliação da organização estudantil e, por conseguinte, as conquistas por nós almejadas.
Se a Assembleia é um espaço de tamanha soberania porque então o piquete e outras intervenções às salas de aula se fazem necessárias? Porque infelizmente muitos fingem não reconhecer a vontade de uma maioria e para as deliberações serem respeitadas é preciso que se intervenha dentro dos espaços físicos. Nesse sentido, é costume dizer que o direito individual esta sendo corrompido e dai provém a tal violência.
É violento, pois, obstruir salas de aula, mas entrar em aula desrespeitando as deliberações coletivas que acontecem em Assembleia (soberana e aberta) é um ato de liberdade e democracia? Não, sabemos que esse caminho também não é o melhor. A violência e a falta de democracia se dão no dia a dia de uma greve, quando determinados indivíduos (acostumados a agir dentro da coletividade em todas as esferas da sociedade) ignoram os anseios da maioria estudantil e se submetem a “pressões externas”.
Por reconhecermos esta verdadeira violência e ainda corroborarmos a ideia de soberania das Assembleias e a importância de um todo mobilizado é que repudiamos ações que contrariem tais princípios.
Os estudantes não podem se sujeitar a quaisquer “pressões externas” que lhe são colocadas. Uma greve com conquistas e negociações possíveis acontece por meio da organização verdadeiramente coletiva que não prejudique outros colegas utilizando-se do falso argumento do direito individual.
Repudiamos aulas que ocorram durante a greve porque estas sim são um instrumento violento e antidemocrático, uma ação opressiva e que desconsidera tudo que tentamos conquistar. Essas aulas demonstram um desrespeito a coletividade e a negligência para com aquelas que diariamente chamamos “colegas”. A maior manifestação individual possível dentro de um processo como o que vivenciamos atualmente é a utilização de nossas consciências no exame do que é certo ou errado para com aqueles que enfrentam conosco as mesmas dificuldades de transporte, moradia, alimentação e infraestrutura todos os dias dentro dessa universidade.
Por reconhecermos a legitimidade de uma assembleia soberana, com quórum mínimo e amplo espaço para discussão e por respeitarmos as decisões coletivas é que nós, estudantes de História reunidos em Assembleia de Curso no dia 11 de Abril de 2012, repudiamos o ato de “furar greve” por meio de aulas que ocorrem no CEU ou em quaisquer outros espaços e consideramos tal posição violenta e absolutamente antidemocrática.
Assinam os estudantes de História reunidos em Assembleia de Curso no dia 11 de abril de 2012.

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