segunda-feira, 30 de abril de 2012

Alguns escritos

Se situa


O centro da cidade
No domingo
Só é sempre ocupada
Pelos mendigo
O cheiro da cidade
É distinto
Só é sempre exalada
Pelo teor ontológico deste domingo


Farra na lotação


Três crianças maltrapilhas - dois meninos e uma menina - estão no ponto de ônibus. Pedem carona ao motorista da lotação que chega chamando os passageiros para que comprem o acesso ao destino que lhes interessa. O motorista concede o favor e não cobra a mercadoria das crianças.
Lá dentro, eles (cronologicamente) se sentam; descrevem as pessoas no ponto (um homem de camisa branca se coçando, uma mulher gorda que fala ao celular, etc) ; cantam uma canção improvisada: "Nasci em São Vicente, já troquei os dente, e hoje moro no banco da praça Tiradentes." ; Questionam o destino dos passageiros (que, incomodados com a presença de negrinhos favelados com tanta presença de espírito, parecendo que não cumpriam com sua função normal - a de estar calado - não respondem aos questionamentos); imitam o cobrador da lotação: "Nova cidade, Piratininga, Via Dutra!", é o que gritavam a plenos pulmões; cantam outra canção que diz: "Ela tá chupando tudo, dá um beijo na cabeça, ela tá chupando tudo". Nesta hora o motorista ameaça deixá-los na rua, e pergunta onde eles moravam. Eles respondem "no quinze", o cobrador pergunta para ter certeza "Na quinze?" - errando o nome da quebrada dos moleques. Eles riem e debocham do erro do cobrador "merece chuveirinho, merece chuveirinho!". O motorista diz para si "Tudo favelado".
Eles percebem uma viatura da polícia militar na rua e logo gritam "Ó a rua, mano. Logo a Tática seguindo nós. Acelera aí, motô que eu nem quero tromba esses verme" Um deles confirma completando: "Tudo verme mesmo esses porco".

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