A barbárie civilizada
Uniu a um só tempo as engrenagens a sua destreza;
Passou a desconhecer tais matérias;
Concretizou suas virtudes em verdades efêmeras.
O homem alienou-se de si;
Vendeu seus valores humanísticos a lucrativos e espoliativos fins;
Proletarizou seus ideais
E passou a compor e a corroborar com as paródias legais.
O homem alienou-se de seu ser genérico,
Objetivou-se a trabalhar com escassez de vida;
Criou dois mundos transcendentes ao intelectual e ao operacional;
Ceifou suas faculdades humanas e concretizou-se como um ser estranho a si, tal como ao seu meio social.
O homem alienou-se do homem;
Reduziu seus semelhantes a meras definições banhadas pelo fetichismo da mercadoria e a competição;
Reificou sua essência de ser humano;
Enquanto a realística feição social passou a estar em segundo plano,
E com o instinto de revolução apaziguado por algozes regados em prantos.
Fernando Lustosa
PCB/RJ
"Reflexões sobre a Melancia" - Poesia de Felipe Lustosa
Fruto que abrolha na aridez dum solo estapafúrdio de tabatinga,
Erva trepadeira e rastejante, que corta o nordeste afundindo a caatinga..
Suas folhas em triângulos suntuosos são macias como veludo de seda,
São largas, rasas, não balançam com o vento e ignoram a seca..
Melancia que traz consigo a tropicália do clima sob a forma de alimento bruto,
Melancia que emana a esterilidade dum solo infértil, com seu "sofrimento de fruto"..
Melancia fruto verde que nunca amadurece...
Melancia grande, listrada, de polpa aquosa, que é suculenta e apetece!
Melancia que possui sementes às dezenas,
Duras e ovalares, são negras e murubentas..
Melancia que reflete o verde falso dum sertão das Borboremas;
Terra sofrida, lavrada com foice e largada às contendas.
Não há sertanejo que ignore a presença duma melancia listrada;
Eu fico até imaginando: se ela quer ser notada?!
Num lugar tão seco, inóspito e escaldante;
Ela deve querer ser disputada por todos à todo o instante...
Diante do sol do meio-dia, ela alimenta a família do campesino,
Misturada à farinha, à ração humana e ao milho moído (bem fino)..
Para não trazer a tona: sua carência em consistência e sustância;
Suas deficiências em vitaminas, proteínas (e em fragrância)...
Pois lembre-se que a flor dum pé de melancia, só dura umas poucas semanas...
Não anuncia a vinda da primavera e nem a chegada da sorte, enunciada pelas ciganas.
(Felipe Lustosa)
Erva trepadeira e rastejante, que corta o nordeste afundindo a caatinga..
Suas folhas em triângulos suntuosos são macias como veludo de seda,
São largas, rasas, não balançam com o vento e ignoram a seca..
Melancia que traz consigo a tropicália do clima sob a forma de alimento bruto,
Melancia que emana a esterilidade dum solo infértil, com seu "sofrimento de fruto"..
Melancia fruto verde que nunca amadurece...
Melancia grande, listrada, de polpa aquosa, que é suculenta e apetece!
Melancia que possui sementes às dezenas,
Duras e ovalares, são negras e murubentas..
Melancia que reflete o verde falso dum sertão das Borboremas;
Terra sofrida, lavrada com foice e largada às contendas.
Não há sertanejo que ignore a presença duma melancia listrada;
Eu fico até imaginando: se ela quer ser notada?!
Num lugar tão seco, inóspito e escaldante;
Ela deve querer ser disputada por todos à todo o instante...
Diante do sol do meio-dia, ela alimenta a família do campesino,
Misturada à farinha, à ração humana e ao milho moído (bem fino)..
Para não trazer a tona: sua carência em consistência e sustância;
Suas deficiências em vitaminas, proteínas (e em fragrância)...
Pois lembre-se que a flor dum pé de melancia, só dura umas poucas semanas...
Não anuncia a vinda da primavera e nem a chegada da sorte, enunciada pelas ciganas.
(Felipe Lustosa)
Anotações sobre organização - Poesia de Leonardo César de Albuquerque
semente em terras férteis
Quando criança fui a um enterro, não relato minha idade por falta de lembrança, sei que era jovem, uma semente em terras férteis. Lembro-me, sobretudo, do aroma dum corpo em putrefação. “assassinato. tiros” disse uma mulher ao se aproximar, eu não sabia ao certo o que isso significava; com os olhos em lagrimas e as palavras engasgadas ela continuou comentando o ocorrido: “tiros da polícia. estrada de nazaré. encontraram agora a pouco. fazia tempo que sumiu”. Só agora consigo entender...
pirenco
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