segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Liberdade para a poetisa Angye Gaona


Em janeiro de 2011, a poeta colombiana Angye Gaona voltava de uma viagem para a Venezuela quando foi presa pela polícia da Colômbia acusada absurdamente de “narcotráfico” e “rebelião”. Durante longos 4 meses, mesmo sem provas, permaneceu encarcerada. Vencido o prazo máximo para seu julgamento, Angye teve que ser posta em liberdade. Mas agora, no dia 23 de janeiro de 2012, ela e mais 3 pessoas serão injustamente julgadas e correm o risco de pegar até 20 anos de prisão. 
Para entender o processo kafkiano por qual passa Angye (e milhares de outros colombianos) é preciso entender os reais motivos de sua prisão e, para isso, é preciso compreender a Colômbia, verdadeiro ponto-cego da América, apagada pela mídia e pouco discutida até mesmo pelas organizações de esquerda


Perau adentro
(Angye Gaona
tradução: Renato de Mattos Motta)

De Nascimento volátil

Sigo o caminho do osso do peito,
busco a origem da sede,
vou ao fundo de um perau de paredes prateadas,
sólidas mercê ao tempo.
movediças quando aluvião, 
quando a infância era glacial.

Coleto as radículas do pensamento.
As carrego na espalda erodida
junto ao agreste olvido que cai de mim.

Se assomam, 
desde pequenas covas, 
os indícios da dor
velozes burlam as visões
e voltam a ocultar-se na pele do perau.

Inscritas nas paredes, 
as coordenadas indecifráveis 
do raio pré-histórico 
que formou minha face.
Tempo da fundura, 
tempo sem sílaba, 
quando sou só um som
em trânsito à fadiga

Busco um manancial
que banhe a pergunta aderida à minha história.
busco a vida recém nascida
e acho a sede.

Sigo a senda do osso do peito.

“À memória dos assassinados sem devido processo”

profunda estrela,
alta
ruge na ampla dor
finita
da noite universal humanidade.
estrela em sangue negro flutuando no ardor.
oh esperança.
Como raízes no sudário,
estrela irmã
jorrando
beijando paciente
os cumes e as covas.
Alude a deslizamentos avalanches em todo o país;
enquantos as jóias sobrevivem incansáveis,
inalcançáveis.
estrela esta
conhecendo o alto:
coros transparentes debaixo das almofadas de musgo para sua acolhida.
água de estrela nas copas anfitriã
da fértil morte.
estrela de choque e geléia,
de pólen qualitativo abundante derramado na ampla dor
e a esperança peneirada sobre o manto.
estrela de guia passo invocação
de vitória contida;
no dorso do nada fulgurando
encandescendo encharcada.


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