segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Líbia: Crimes atrozes e leilão do país



imagemCrédito: minci.gob.ve
Por Jorge Alberto Kreyness (*)
As imagens mostram um homem detido vivo, logo golpeado, ferido e finalmente, com seu corpo ensanguentado pelas torturas, assassinado diante da obscena tarefa fílmica de seus capturadores. Trata-se, nem mais nem menos, de um fraudulento assassinato próprio de bestas selvagens.
Pior ainda. Esse feito brutal se comete em um cenário onde, desde o ar, aviões estrangeiros arremessam indiscriminadamente bombas que destroem e matam tudo o que esteja ao seu alcance. Homens, mulheres, crianças. Bens públicos.
Uma cena dantesca que, o leitor já percebe, se trata do assassinato sumaríssimo de Muammar Gaddafi. Contudo, cabe dizer que, à margem da notoriedade da vítima, se trata só de mais um dos milhares de crimes desses bandos que, dirigidos pela entidade denominada Conselho Nacional de Transição, vêm realizando desde há [alguns] meses contra a população da Líbia na sua marcha fratricida desde Bengazi até Trípoli.
Nem esses bandos de criminosos sanguinários, nem os tripulantes dos aviões ingleses e franceses que semeiam o horror em nome da OTAN, tão criminosos e sanguinários como seus aliados em terra, são considerados terroristas pelos poderes políticos e midiáticos que dizem encabeçar uma cruzada mundial contra o terrorismo. Não. Eles realizam um “trabalho humanitário” para a proteção da população amparados numa resolução do anacrônico Conselho de Segurança da ONU que, de todo modo, não autoriza a cometer tais feitos nem a derrubar um governo, mas que abre a jaula das bestas, com toda certeza mais bestiais que qualquer outra violação aos direitos humanos que se pudesse cometer (ou não) por parte de quem hoje é massacrado.
Algo parecem ter experimentado certos governos que, tendo poder de veto neste Conselho de Segurança, já se atreveram a negar similares intentos de resolução, agora contra a Síria.
O feito ocorrido no subúrbio de Sirte não somente suja a moral degradante da condição humana de seus autores materiais e intelectuais, mas também as características dos setores dominantes do capitalismo atual que, em uma etapa de crise senil, busca desesperadamente, e contra toda ética, salvar o tesouro dos bancos que ainda não quebraram e assegurar o combustível para seu desenvolvimento depredador.
Obama, Cameron, Sarkozy e Merkel não só conspiram para atender às bancarrotas da Grécia e outros países da zona do Euro e para destinar o dinheiro dos contribuintes para o salvamento dos bancos. Também ordenam e conduzem os verdugos do povo líbio, e conduziram pontualmente os chacais terroristas que assassinaram Gaddafi.
Lograram seu propósito. As jazidas de Cirenaica, Tripolitânia e Fressan já estão em seu poder e hoje se assiste ao leilão. Também os abundantes recursos financeiros do Estado líbio (apresentados pela mídia de forma tosca como de simples propriedade de Gaddafi) que agora atenuam o vermelho nas contas de vários bancos transnacionais.
Mas além disso, os acontecimentos líbios constituem uma ameaça direta para os lutadores pela democracia no Egito e na Tunísia e, por acréscimo, para todos do mundo árabe e muçulmano, para todo o continente africano e, na verdade, para todos os povos do mundo. De passagem, é importante assinalar que os senhores Mubarak e Ben Alí, ditadores, se encontram vivos, sem ter sofrido feitos de sangue sobre suas pessoas nem nada parecido a isso.
Um chamado de atenção: em sua constante busca por aperfeiçoar seus mecanismos de dominação, e diante da dificuldade no Iraque e no Afeganistão para se estabelecer no território, utilizaram na Líbia uma nova/velha estratégia: a promoção de uma organização civil e militar local que agrupe uma base social e territorial e, só depois, com seu respaldo, os bombardeios aéreos.
Com estes e outros acontecimentos à vista podemos definir uma certeza: a crise capitalista nesta fase vem acompanhada de um dos pólos dialéticos da contradição antecipatória de Rosa Luxemburgo: a barbárie.
Saberão os povos do mundo, incluído o líbio, mais cedo que tarde, orientar os passos de seus movimentos reais até o caminho da paz, dos direitos humanos, da justiça social, das soberanias nacionais, da democracia participativa, do respeito pelas culturas e pelas diversidades, da união solidária dos povos, conjunto de valores imprescindíveis ao socialismo.
Há por acaso outra via, global ou local, para terminar com o domínio voraz e genocida de uns poucos magnatas e políticos do establishment sobre a vida e os bens de toda a Humanidade?
Os estudantes do Chile e outros países que querem uma educação igualitária, os indignados nos centros capitalistas mais desenvolvidos, os protagonistas das ações democráticas da Tunísia, Egito e Iêmen, os governos e povos que não seguem o Consenso de Washington, os processos de integração soberana como o da América do Sul, os movimentos de defesa do meio ambiente, da diversidade sexual e de gênero, as revoluções triunfantes como nossa Cuba e o Vietnam e as que são incubadas na crise capitalista são sinais claros e visíveis que indicam por onde transitar.
O fim de uma etapa na vida do povo líbio chegou de um modo atroz. Esse povo fará a reavaliação e julgará esse período transcorrido. Mas podemos dizer que Gaddafi morreu com dignidade, uma virtude com a qual não vivem seus assassinos materiais e intelectuais.
21 de outubro de 2011.
(*) Jorge Alberto Kreyness é Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Argentino
Traduzido por Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves

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