sexta-feira, 22 de abril de 2011

Entrevista com trabalhador em greve no Ceará

Trecho de reportagem do site do PSTU
 O que leva os operários da construção civil de Fortaleza a ir à greve a partir desta segunda-feira, dia 18?
Nestor Bezerra
 O crescimento do setor da construção civil tem sido muito grande e junto com ele a exploração tem aumentado muito dentro dos canteiros de obra. Agora na hora de negociar salários e cláusulas sociais pros trabalhadores a patronal simplesmente não reconhece nada disso. Parece que não tem crescimento nem muito menos superexploração.

A patronal está oferecendo um índice acima da inflação, ainda assim esse índice é pequeno?
Nestor
Com o crescimento do setor os empresários tiveram um acúmulo de riqueza até outubro do ano passado de 20%, é muito pouco oferecer 7.43% pros trabalhadores se comparando ainda com o crescimento da inflação no período. Os trabalhadores não aceitam um índice desse sabendo que o setor cresceu e os empresários ganharam muito dinheiro.

Recentemente tivemos greves no Suape, Pecém, no Jirau que paralisaram quase 100 mil trabalhadores da construção civil. A greve que começa nessa segunda-feira faz parte desse mesmo movimento?
Nestor
 - Faz sim. As greves que estouraram no Brasil afora foram justamente por conta do crescimento do setor e também do nível da opressão e da exploração nos canteiros de obra. Esse levante hoje dos trabalhadores da construção civil no Brasil inteiro é por conta dessa situação provocada com o apoio dos governos de plantão, sejam eles federal, estadual ou municipal.

Boa parte das obras em que houve esses levantes foi do PAC e até do “Minha Casa, Minha Vida”. Em Fortaleza, os trabalhadores das obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida também vão participar da greve?
Nestor
 - Nós temos quatro tipos de obra em Fortaleza. Obras do governo federal que são do PAC, obras do governo estadual, obras da prefeitura que são pra remover a classe trabalhadora dos seus bairros e temos as obras do setor privado. Os trabalhadores de todos esses tipos de obras vão participar. É nas grandes obras do PAC aonde mais se encontra precarização do trabalho. No setor privado tem muita precarização, mas nas obras do PAC tem sido demais.

Nas obras do Pecém e do Jirau as condições de alojamento, higiene e alimentação foram uma das causas pro levante dos trabalhadores. O mesmo acontece em Fortaleza?
Nestor
 - Claro que sim. Em Fortaleza por causa da falta de mão de obra pra dar conta da quantidade de obras que existe hoje, as empreiteiras trazem trabalhadores de estados vizinhos e colocam os trabalhadores em alojamentos super precários. A última que nós encontramos esse tipo de coisa foi uma obra do PAC, da Interpar, com o trabalhador dormindo no chão em uma casa sem energia. O que aconteceu no Jirau também acontece aqui, com menos frequência, mas acontece também. A área de vivência dos trabalhadores as empreiteiras nunca fazem do jeito que é pra ser, os banheiros são pocilgas, os refeitórios eles colocam em locais que no momento que chove inunda, os trabalhadores comem dentro d’agua, eles não se preocupam o mínimo com a vida do trabalhador.

Na última quarta-feira (dia 13) ocorreu uma assembléia dos trabalhadores que votou a greve pra essa segunda. O que deu pra perceber do ânimo da categoria?
Nestor
 - Nós tivemos uma das maiores assembléias dos últimos tempos, com muitos homens e muitas mulheres. Foram mais de 1.200 trabalhadores. E a disposição para essa greve é fora do normal justamente por toda essa condição que nós falamos agora. Saíram todos empolgadíssimos e que segunda vamos a uma das greves mais fortes que já aconteceu aqui em Fortaleza.

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