sábado, 26 de fevereiro de 2011

A HORA SE APROXIMA



Se acende a chama do protesto no estado de Wisconsin
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19 de fevereiro de 2011 | Democracy Now!
O estado de Wisconsin está localizado na região dos lagos no Meio-Oeste dos EUA. Esta região dos lagos tem sido, tradicionalmente, o coração industrial e agrícola do país. Do outro lado do lago Michigan se encontra a cidade de Detroit, berço da indústria automobilística do país. Wisconsin é talvez um estado mais agrícola, conhecido por seus produtos lácteos em geral e pelo queijo, em particular, embora tenha sido, e, em certa medida continua a ser, um estado cuja economia se baseia na manufatura e na fabricação de ferramentas. Do ponto de vista político, Wisconsin é um estado peculiar, sendo o berço do senador republicano anti-comunista Joseph McCarthy, mas também é o berço do AFCSM, um dos maiores sindicatos de funcionários públicos e de enfermeiros do país.
Desde janeiro de 2011, Wisconsin tem um governador republicano, Scott Walker. Walker, que era o candidato "moderado" do Partido Republicano, ocupou o cargo, e com uma sólida maioria na Assembleia Legislativa, concedeu uma anistia fiscal para empresas multinacionais que custou aos cofres do Estado 170 milhões de dólares. Para compensar esse presente, o governador Walker decidiu unilateralmente suspender os direitos de negociação de todos os sindicatos de trabalhadores públicos e dobrar a quantidade de contribuições que estes fazem ao fundo de pensão. A legislação trabalhista regula as relações das empresas privadas a nível federal, mas delega a regulamentação dos funcionários públicos a cada um dos estados. Assim, Walker tem todo o poder legislativo nas suas mãos para impor medidas draconianas que tornam literalmente impossível a continuidade dos sindicatos no setor público. Entre outras medidas, Walker quer forçar os sindicatos a convocar um referendo para legitimá-los anualmente, proibir os descontos em folha de contribuições sindicais, e dramaticamente restringir os direitos de negociação dos sindicatos.
Como se houvesse qualquer dúvida de suas intenções, Walker chamou a Guarda Nacional para reprimir qualquer manifestação de protesto. No entanto, os cidadãos de Wisconsin tomaram as ruas para desafiar o estado de sítio imposto pelo governador. 30 mil estudantes entraram em greve. Na cidade de Madison, sede do governo do estado, se viu inundada por milhares de manifestantes de todo o estado, e os professores declararam uma greve por tempo indeterminado, os estudantes do sindicato de professores da Universidade de Wisconsin em Madison ocuparam os jardins do Capitólio com um acampamento de protesto e, talvez mais importante, os cidadãos de Wisconsin estão cem por cento com seus professores, policiais, bombeiros, trabalhadores municipais, porteiros e funcionários públicos. O Green Bay Packers, time local de futebol americano, fulminante campeão do Super Bowl (o campeonato nacional) emitiu uma declaração expressando seu apoio aos trabalhadores e aos protestos; várias igrejas também declararam o seu apoio. Os democratas no Congresso, ante a avalanche de protestos, estão viajando para fora do estado para ter uma desculpa legal para não comparecer à votação, na qual essas medidas seriam aprovadas.
No resto do país organizaram-se manifestações em apoio aos protestos de Wisconsin. Ainda é muito cedo para dizer se o protesto pode se espalhar. O que fica claro é que o neoliberalismo só pode avançar ou sustentar-se em uma corrida adiante, exigindo mais privatizações no setor público, aumentando a idade da aposentadoria, o valor das contribuições para o fundo de pensão, desarmando os sindicatos para impor cortes salariais.
Os protestos de Wisconsin são apenas a ponta do iceberg, formam parte de um ataque aos poucos sindicatos e instituições públicas do país que ainda estão de pé, perfeitamente planejado pela maioria republicana, tanto a nível federal quanto estadual. Esta nova maioria ultra-liberal conta, por mais que insistam em disfarçar, com o apoio explícito do governo Obama que, entre outras coisas, acaba de aprovar o orçamento mais regressivo da história econômica desde os governos Reagan e Eisenhower. A questão é quanto tempo o povo norte-americano pode tolerar este nível de agressão. Pode ser que em Wisconsin acendeu-se o pavio de uma grande rebelião, é uma questão de tempo.

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