domingo, 8 de novembro de 2009

Gregório, Gregório (a Gregório Bezerra, camarada de sonhos, de vida)

impenetrável nordestino,
como casca de jabuti; duro
por fora, tenro
e terno
no lado interno.
impenetrável aos fantoches da repressão
e ao patrão da não vida,
da não justiça,
da não verdade.
nunca gritou de dor por seu corpo;
nunca reclamou de sua sede no sertão;
tampouco lutou contra sua fome,
por seu espaço, seu traço,
seu maço
de notas de papel.
não viveu preso por
exigir sua própria liberdade, nunca,
em décadas de escuridão e agonia
nos calabouços de tirania.
não foi o egoísmo
que o forjou livre, foi seu povo
ainda mais martirizado,
tenso e leve.
seu povo criança
faminto e esquecido no sertão.
viver tantas vidas o libertou.
tornou-se ar e água,
pão e sonhos,
ontem, agora e amanhã;
viver tantas vidas o libertou
da culpa omissa
e da desculpa promíscua
de viver a própria vida.
recuperou a vida quitada
nos anos de solitárias imundas
dedicando-se à vida sofrida,
ao sertanejo,
ao gaúcho dos pampas.
tomou partido por seu povo
e tal partido por toda vida.
tornou-se ar e água,
pão e sonhos.
Gregório está ao meu lado e ao teu.


Otávio Dutra

La Habana, setembro de 2009.

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