domingo, 23 de agosto de 2009

Terceiro manuscrito econômico-filosófico de Marx (1844)

Neste texto, Marx expõe com brilhantes argumentos filosóficos a alienação do trabalho como essência da mercadoria, no entanto, sem deixar de ser a chave fundamental na formação desta, tornando-se, portanto, essência exteriorizada da mecadoria, tornando-se, ao mesmo tempo, intrínseca e estranha à mercadoria.



Propriedade Privada e Trabalho

(1) ad página XXXVI. A essência subjetiva da propriedade privada, a propriedade privada como atividade em si mesma, como sujeito, como pessoa, é trabalho. É evidente, portanto, que só a Economia Política que reconheceu o trabalho por princípio (Adam Smith) e que não mais viu na propriedade privada unicamente uma condição extrínseca ao homem, pode ser considerada tanto um produto do dinamismo real e expansão da propriedade privada[N1], um produto da indústria moderna, quanto uma força que acelerou e exaltou o dinamismo e o desenvolvimento da industria e tornou-a uma potência no plano da consciência.

Assim, em vista dessa economia política esclarecida que descobriu a essência subjetiva da riqueza dentro da estrutura da propriedade privada, os partidários do sistema monetário e do mercantilismo, para quem a propriedade privada é uma entidade puramente objetiva para o homem, não fetichistas e católicos. Engels está certo, por isso, de chamar Adam Smith o Lutero da Economia Política. Assim como Lutero reconheceu a religião e a fé como a essência do mundo real, e por essa razão assumiu uma posição adversa ao paganismo cristão; assim como ele anulou a religiosidade externa ao mesmo passo que fazia da religiosidade a essência interior do homem; assim como ele negou a distinção entre sacerdote e leigo porque transferiu o sacerdócio para o coração do leigo; também a riqueza extrínseca ao homem e dele independente (só podendo, pois, ser adquirida e conservada de fora) é anulada. Isso quer dizer, sua objetividade externa e indiferente é anulada pelo fato de a propriedade privada ser incorporada ao próprio homem, e de ser o próprio homem reconhecido como sua essência. Mas, como resultado, o próprio homem é levado para a esfera da propriedade privada, exatamente como, com Lutero, é levado para a da religião. Sob o disfarce de reconhecer o homem, a economia política, cujo princípio é o trabalho, leva à sua lógica conclusão a negação do homem. O próprio homem não mais é uma condição da tensão externa com a substância externa da propriedade privada; ele próprio se converteu na entidade oprimida por tensões, que é a da propriedade privada. O que era anteriormente um fenômeno de ser extrínseco a si mesmo, uma manifestação extrínseca real do homem, transformou-se, agora no ato de objetivação, de alienação. Esta economia política parece, por conseguinte, a princípio, reconhecer o homem com sua independência, sua atividade pessoal, etc. Ela incorpora a propriedade privada à essência mesma do homem, e não é mais, portanto, condicionada pelas características locais ou nacionais da propriedade privada considerada como existente fora dela mesma. Ela manifesta uma atividade cosmopolita, universal, que destrói todos os limites e todos os vínculos, reputando-se a si mesma como a única orientação, a única universalidade, o único limite e o único vínculo. Em seu desenvolvimento ulterior, contudo, vê-se obrigada a rejeitar essa hipocrisia e a mostrar-se em todo o seu cinismo. Faz isso, sem qualquer consideração pelas contradições aparentes a que sua doutrina conduz, revelando por uma outra maneira unilateral, e por isso com maior lógica e clareza, que o trabalho é a única essência da riqueza, e demonstrando que essa doutrina, ao contrário da concepção original, tem conseqüências daninhas ao homem. Finalmente, ela aplica o golpe de morte à renda da terra, aquela última forma individual e natural da propriedade privada e fonte de riqueza existente independentemente do movimento do trabalho que foi a expressão da propriedade feudal, mas tornou-se inteiramente sua expressão econômica e não mais consegue oferecer qualquer resistência à economia política. (A Escola de Ricardo.)

Não só o cinismo da Economia Política aumenta a partir de Smith, passando por Say, Ricardo, Mill, etc., uma vez que para este último as conseqüências da industria se afiguraram cada vez mais ampliadas e contraditórias; sob um ponto de vista positivo elas tornaram-se mais alienadas, e mais conscientemente alienadas, do homem, em comparação com suas predecessoras. Isso é somente porque sua ciência se expande com maior lógica e verdade. Posto que eles fazem a propriedade privada em sua forma ativa formar o tema, e posto que ao mesmo tempo fazem o homem como não-entidade tornar-se uma entidade, a contradição na realidade corresponde inteiramente à essência contraditória por eles aceita como princípio. A realidade dividida (II) da indústria está longe de refutar, antes confirma, seu princípio de autodivisão. Seu princípio, com efeito, é o princípio dessa divisão.

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