quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fidel Castro: A mentira tarifada

REFLEXÕES DE FIDEL

O que me move a escrever é o fato de que estão para ocorrer acontecimentos graves. Não transcorrem em nossa época 10 ou 15 anos sem que nossa espécie corra perigos reais de extinção. Nem Obama nem ninguém poderia garantir outra coisa; digo isto por realismo, já que somente a verdade nos poderia oferecer um pouco mais de bem-estar e um sopro de esperança. Em matéria de conhecimentos, chegamos à maior idade. Não temos direito a enganar nem a nos enganarmos.
  Em sua imensa maioria a opinião pública conhece bastante sobre o novo risco que está às suas portas.
  Não se trata simplesmente de que os mísseis de cruzeiro apontem para objetivos militares da Síria, mas que esse valente país árabe, situado no coração de mais de um bilhão de muçulmanos, cujo espírito de luta é proverbial, declarou que resistirá até o último alento a qualquer ataque a seu país.
  Todos sabem que Bashar al Assad não era político. Estudou medicina. Graduou-se em 1988 e se especializou em oftalmologia. Assumiu um papel político com a morte de seu pai, Hafez al Assad, no ano 2000 e depois da morte acidental de um irmão, antes de assumir aquela tarefa.
  Todos os membros da Otan, aliados incondicionais dos Estados Unidos e uns poucos países petroleiros aliados ao império naquela região do Oriente Médio, garantem o abastecimento mundial de combustíveis de origem vegetal, acumulados ao longo de mais de um bilhão de anos. Em contrapartida, a disponibilidade de energia procedente da fusão nuclear de partículas de hidrogênio, tardará pelo menos 60 anos. A acumulação dos gases de efeito estufa continuará, assim, crescendo a elevados ritmos e após colossais investimentos em tecnologias e equipamentos.
  Por outro lado, afirma-se que em 2040, em apenas 27 anos, muitas tarefas que a polícia realiza hoje, como impor multas e outras tarefas, seriam realizadas por robôs. Imaginam os leitores quão difícil será discutir com um robô capaz de fazer milhões de cálculos por minuto? Na realidade era algo inimaginável há alguns anos.
  Há apenas algumas horas, na segunda-feira, 26 de agosto, notícias das agências clássicas, bem conhecidas por seus serviços sofisticados aos Estados Unidos, dedicaram-se a difundir a informação de que Edward Snowden teve que se estabelecer na Rússia porque Cuba tinha cedido às pressões dos Estados Unidos.
  Ignoro se alguém em algum lugar disse algo ou não a Snowden, porque essa não é minha tarefa. Leio o que posso sobre notícias, opiniões e livros que são publicados no mundo. Admiro o que há de valente e justo das declarações de Snowden, com o que, a meu juízo, prestou um serviço ao mundo ao revelar a política repugnantemente desonesta do poderoso império que mente e engana o mundo. Com o que eu não estaria de acordo é que alguém, quaisquer que fossem os seus méritos, possa falar em nome de Cuba.
  A mentira tarifada. Quem a afirma? O diário russo “Kommersant”. O que é esse libelo? Segundo explica a própria agência Reuters, o diário cita fontes próximas ao Departamento de Estado norte-americano: “o motivo disso foi que no último minuto Cuba informou às autoridades que impediram que Snowden tomasse o voo da companhia aérea Aeroflot.
  “Segundo o jornal, […] Snowden passou um par de dias no consulado russo de Hong Kong para manifestar sua intenção de voar para a América Latina, via Moscou.”
  Se eu quisesse, poderia falar destes temas sobre os quais conheço amplamente.
  Hoje observei com especial interesse as imagens do presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, durante sua visita ao navio principal do destacamento russo que visita a Venezuela depois de sua escala anterior nos portos de Havana e da Nicarágua.
  Durante a visita do presidente venezuelano ao navio, várias imagens me impressionaram. Uma delas foi a amplitude dos movimentos de seus numerosos radares capazes de controlar as atividades operacionais da embarcação em qualquer situação que se apresente.
  Por outro lado, indagamos sobre as atividades do jornal mercenário “Kommersant”. Em sua época, foi um dos mais perversos veículos de imprensa a serviço da extrema direita contrarrevolucionária, a qual se aproveita do fato de que o governo conservador e lacaio de Londres envie seus bombardeiros à base aérea no Chipre, prontos para lançar suas bombas sobre as forças patrióticas da heróica Síria, enquanto no Egito, qualificado como o coração do mundo árabe, milhares de pessoas são assassinadas pelos autores de um grosseiro golpe de Estado.
  É nesse clima que se preparam os meios navais e aéreos do império e de seus aliados para iniciar um genocídio contra os povos árabes.
  É absolutamente claro que os Estados Unidos sempre tratarão de pressionar Cuba como faz com a ONU ou qualquer instituição pública ou privada do mundo, uma das características dos governos desse país e não seria possível esperar de seus governos outra coisa; mas não é vão que há 54 anos se resiste defendendo sem trégua — e o tempo adicional que for necessário —, enfrentando o criminoso bloqueio econômico do poderoso império.
  Nosso maior erro é não termos sido capazes de aprender muito mais em muito menos tempo.
 
Fidel Castro Ruz
27 de agosto de 2013,
20h34 •
 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A ocupação do Haiti é uma vergonha para os latino-americanos


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Não podemos permitir que a vergonhosa ocupação do Haiti complete 10 anos em 2014.
Há nove anos, governos latino-americanos, sob o comando do Brasil, se submeteram a determinação dos Estados Unidos e do Conselho de Segurança da ONU para ocupar militarmente o Haiti e assim respaldar o golpe perpretado pelo imperialismo em fevereiro de 2004, quando comandos estadunidenses e franceses seqüestraram o presidente legitimamente eleito pelo povo haitiano, Bertrand Aristide, até hoje com paradeiro incerto.
Nessa “Missão de Paz”, em verdade ocupação militar, o Brasil conseguiu a cumplicidade de outros governos da América Latina, independente de serem considerados progressistas ou conservadores: Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Uruguai, caudatários da vocação imperialista do estado burguês brasileiro e sua obsessiva pretensão de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
As tropas da Minustah, criadas para a “estabilização” do Haiti, são forças que garantem a opressão econômica, social e política do nosso povo irmão, a repressão aos movimentos sociais e às manifestações populares por sua autodeterminação.
É urgente o lançamento de uma campanha mundial PELA IMEDIATA RETIRADA DAS TROPAS ESTRANGEIRAS DO HAITI.
Esta é uma tarefa de todas as forças políticas presentes a este Encontro, sobretudo daqueles partidos ditos de esquerda que sustentam os governos dos países ocupantes do Haiti, co-responsáveis por essa infâmia, com características neocoloniais, que envergonha toda a América Latina e impede que o povo haitiano decida soberanamente seu destino.
São Paulo, 30 de julho de 2013
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central
Documento do Comitê Central do PCB ao Fórum de São Paulo

O futuro da América Latina está sendo jogado na Colômbia e na Venezuela


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(Pronunciamento do PCB – Partido Comunista Brasileiro, no Encontro do Foro de São Paulo, 30/07 a 04/08/2013)
A ofensiva imperialista na América Latina recrudesceu na presente década, diante do avanço do processo heterogêneo de mudanças que experimenta nossa região. Depois da reativação da IV Frota e da instalação de mais bases militares na Colômbia, o imperialismo, em conluio com as oligarquias locais, já derrubou governos progressistas em Honduras e no Paraguai, através de “golpes institucionais”.
A constituição da Aliança do Pacífico é parte dessa ofensiva, destinada a fragilizar as alianças regionais progressistas, como a ALBA, a CELAC, a UNASUL. A mafiosa Sociedade Interamericana de Imprensa impulsiona campanha contra a democratização e o controle social da mídia. Denúncias recentes mostram que a espionagem estadunidense em nossos países é mais profunda e descarada do que imaginávamos. A empáfia colonial chega ao ponto de desrespeitar a soberania boliviana e atentar contra a vida de Evo Morales, emblemático exemplo da resistência dos povos originários.
Além da necessidade de reforçar nossa solidariedade à Revolução Cubana, aos processos na Bolívia e no Equador e à resistência dos povos, a ação dos internacionalistas latino-americanos deve estar concentrada hoje na luta de classes que se desenvolve na Colômbia e na Venezuela.
O futuro da América Latina está sendo jogado nesses dois países de povos irmãos. A derrota do povo venezuelano para a oligarquia e o imperialismo impactaria negativamente a Mesa de Diálogos de Havana. Da mesma forma, a frustração desses diálogos, além de fragilizar e ameaçar o vigoroso e unitário movimento de massas colombiano, também influiria negativamente na Venezuela. Em ambos cenários, a correlação de forças se tornaria desfavorável.
Na Venezuela, segue a ofensiva da direita, valendo-se do desaparecimento físico do Comandante Hugo Chávez e do resultado modesto na vitória legítima de Nicolas Maduro. A simbiose entre as questões colombiana e venezuelana é tão forte que é exatamente neste momento de afirmação de Maduro que Santos recebe o candidato derrotado na Venezuela e ameaça com a integração da Colômbia à OTAN.
É preciso reforçar nossa firme solidariedade ao Presidente Maduro, ao Grande Polo Patriótico Simon Bolivar, em especial ao Partido Comunista de Venezuela, e ao proletariado venezuelano, cujo protagonismo será decisivo para garantir o destravamento do processo bolivariano e seu necessário avanço ao socialismo.
O êxito da Mesa de Diálogos de Havana não é apenas um problema dos colombianos, mas de todos os povos da América Latina e do mundo. Para o desenvolvimento das lutas populares em nosso continente, é preciso radicalizar a revolução bolivariana e desmontar o plano imperialista de atribuir à Colômbia o papel que joga Israel no Oriente Médio.
A oligarquia colombiana quer uma paz dos cemitérios, rápida, sem custos, para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento capitalista. Tenta desestabilizar a Venezuela para impor um acordo rebaixado à insurgência. Não nos iludamos com o “pacifismo” da oligarquia e do imperialismo que a dirige. Só recorreram ao diálogo porque fracassou sua guerra contra a insurgência, apesar de todos os imensos recursos militares e financeiros investidos no Plano Colômbia, dos paramilitares, das bases estadunidenses, da assessoria da CIA e da Mossad.
Já os interesses do povo colombiano e das insurgências, que se fundem na mesa de diálogo, são de uma solução política com justiça social e econômica, consolidada através de uma Assembléia Constituinte soberana, com ampla participação popular.
Há dois fatores decisivos para a viabilidade dos entendimentos. Um deles, sem o qual talvez o diálogo não tivesse sequer começado, é o avanço do maior movimento de massas das últimas décadas na América Latina, plural e unitário, congregando milhares de organizações políticas e sociais, que têm na Marcha Patriótica sua maior expressão.
O segundo é a solidariedade internacional a todas as expressões políticas e sociais colombianas progressistas e revolucionárias, nomeadamente à Delegação das Farc em Havana. Mas é preciso respeitar as decisões e o tempo do movimento de massas e da insurgência e combater a ansiedade dos reformistas em pressionar as guerrilhas a se desmilitarizarem, a pretexto de que está atrapalhando a governabilidade e a integração latino-americana. Nossa pressão tem que ser no sentido da ampliação do diálogo e por um necessário cessar fogo bilateral.
Documento do Comitê Central do PCB ao Fórum de São Paulo