quinta-feira, 29 de julho de 2010

Experiência de Ivan Pinheiro nas montanhas da Colômbia


PELA PAZ DEMOCRÁTICA COM JUSTIÇA SOCIAL

* Ivan Pinheiro

Nos últimos anos, venho cumprindo tarefa partidária no sentido de restabelecer e estreitar as relações do PCB com organizações e partidos revolucionários, com destaque para a América Latina. Este trabalho político tem como objetivo principal o reforço do internacionalismo proletário, na luta anti-imperialista e pelo socialismo.

A América Latina é palco de uma intensa luta de classes, antagonizando forças populares dispostas a aprofundar mudanças sociais e as oligarquias associadas ao imperialismo, sobretudo o norte-americano.

Ao XIV Congresso Nacional do PCB, realizado em outubro do ano passado, compareceu a grande maioria dos Partidos Comunistas da região. Além de viagens recentes de camaradas da direção do PCB e da UJC (União da Juventude Comunista) a Argentina, Chile e Uruguai e outros países, pessoalmente estive na Bolívia, Cuba, Colômbia, Equador, Honduras, Paraguai, Peru e Venezuela. Nestas viagens, tive contatos com camaradas de Costa Rica, El Salvador, Haiti, Nicarágua, Panamá, Porto Rico e República Dominicana.

imagemCrédito: PCB

Numa dessas viagens, fui convidado a conhecer presencialmente a mais antiga e importante organização insurgente do continente: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), que há 46 anos luta nas montanhas pela libertação nacional e pelo socialismo na Colômbia. A organização foi criada em função de uma necessidade objetiva de os camponeses colombianos defenderem seus pedaços de terra, suas casas e suas famílias da violência do Estado e de milícias a serviço do latifúndio.

Tive que tomar solitariamente a decisão de aceitar o convite e viajar no dia seguinte para as montanhas andinas, já que era o único membro do PCB naquela viagem e, por razões óbvias, não poderia consultar meus camaradas da direção do Partido no Brasil. Portanto, resolvi passar alguns dias num acampamento das FARC na Colômbia por iniciativa própria, sob minha exclusiva responsabilidade, e não por decisão partidária. Mas estava convicto de que minha atitude era compatível com a linha política do Partido.

Valeram a pena as duras viagens, de ida e volta, por regiões e países dos quais não me recordo, até porque toda aquela região é habitada pelo mesmo povo, dividido artificialmente em vários países, pelos interesses do capital. Passei por belas paisagens, conheci uma fauna e uma flora exuberantes, alternando meios de transporte os mais variados, como automóveis, canoas e mulas, além de saudáveis mas cansativas caminhadas.

Ficarão para sempre em minha memória os diálogos que mantive com os jovens guerrilheiros e guerrilheiras que conheci e as fotografias que não pude tirar do trabalho dos camponeses, das creches, escolas e postos de saúde criados e mantidos pelo “Estado” guerrilheiro em seu território, do cotidiano do acampamento.

Foram momentos que me marcaram, reforçando valores como a disciplina partidária, o trabalho coletivo, a camaradagem. O aprendizado nas reuniões diárias do coletivo, ao anoitecer, para repercutir documentos políticos e notícias atualizadas, da Colômbia e do mundo todo, ouvidas nos rádios que fazem parte do enxoval dos militantes. As bibliotecas volantes, onde não faltam clássicos do marxismo e da literatura.

Impossível esquecer a entrevista que fiz em “portunhol” para todo o contingente guerrilheiro, através da Rádio Rebelde.

Como não guardar com carinho o único objeto físico que pude trazer da viagem, um caracol que ganhei do jovem guerrilheiro que me serviu de guia e apoio durante a estadia, no dia em que nos despedimos sem que pudéssemos conter as lágrimas que misturavam sentimentos de fraternidade e paternidade.

Muito mais do que a curiosidade, o espírito de aventura e a simpatia pelas FARC, falou mais alto em minha decisão o dever revolucionário de contribuir, de alguma forma, para os esforços para uma solução política da complexa questão colombiana. Muito antes da viagem e da instalação de mais sete bases militares norte-americanas na Colômbia, eu já tinha consciência de que esse país vinha se transformando numa cabeça de ponte do imperialismo na América Latina, onde cumpre o papel que Israel exerce no Oriente Médio.

Num artigo que publiquei há alguns anos (“Impedir a guerra imperialista na América Latina”), já dizia textualmente:

”... para dar solidariedade aos povos venezuelano, boliviano, equatoriano; para lutar para que possam avançar as mudanças e a luta de classes na América Latina, mesmo em processos mais mediados e contraditórios; para evitar que haja guerra e retrocesso em nosso continente; para tudo isso, há um pré-requisito: derrotar o verdadeiro eixo do mal, os braços do imperialismo norte-americano em nosso continente: o governo fascista e o Estado terrorista da Colômbia!”

Já tinha claro, quando resolvi aceitar o convite, que não interessa à oligarquia colombiana, tampouco ao imperialismo, reconhecer o caráter político da guerrilha e, muito menos – para não lhe dar protagonismo - estabelecer com ela um processo de diálogo que possa pôr fim ao conflito armado na Colômbia, que dificilmente será solucionado pela via militar.

Estamos diante de uma espécie de empate, em que nem as guerrilhas (FARC e também a ELN, que segue lutando) têm muitas possibilidades para expandir o território sob seu controle (quase um terço do país), nem as forças militares e paramilitares conseguem derrotá-las.

À oligarquia colombiana interessa a manutenção do conflito, para se locupletar dos bilhões de dólares dos programas militares bancados pelos EUA e atribuir cinicamente aos insurgentes a mais rendosa atividade do grupo que detém o poder no país: exatamente o narcotráfico.

Aos EUA, não interessa a solução do conflito, para poder justificar a “guerra contra o narcoterrorismo”, que lhe permite manipular a opinião pública para reinstalar a Quarta Frota, criar mais sete bases militares na Colômbia, dar um golpe em Honduras, botar milhares de soldados no Haiti e agora na Costa Rica e firmar acordos militares com vários países na região, lamentavelmente inclusive com o Brasil, assinado recentemente.

O objetivo do imperialismo é reforçar sua presença militar para tentar desestabilizar e derrubar governos progressistas, em especial o da Venezuela, apertar o cerco a Cuba, evitar o fortalecimento da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), frear o processo de mudanças na Bolívia e outros países, tudo isso de olho grande nas extraordinárias riquezas naturais do continente, como petróleo e gás, água e minerais.

Nos anos 90, houve na América Latina um processo negociado de desmilitarização de grupos guerrilheiros. Na América Central, todos esses entendimentos resultaram em acordos, com a transformação das guerrilhas em organizações políticas legais. Duas delas, aliás, estão hoje no governo de seus países: a FMLN (El Salvador) e a FSLN (Nicarágua). Na Colômbia, entretanto, este processo terminou com o cruel assassinato de mais de 4.000 membros da União Patriótica, partido político então legal, que incorporava parte dos militantes das FARC que desceram das montanhas, do Partido Comunista Colombiano e de outras organizações de esquerda.

Portanto, as FARC não podem promover uma rendição unilateral, incondicional, uma paz de cemitérios, jogando fora um patrimônio de décadas de luta e submetendo seus militantes a um genocídio. O que pretendem é um diálogo que torne possível uma paz democrática, que ponha fim não só ao conflito, mas ao terrorismo de Estado, à expulsão de camponeses de suas terras, às milícias paramilitares, ao assassinato e à prisão de milhares de militantes e que assegure liberdades democráticas e verdadeiras mudanças econômicas e sociais.

Mas o início de um diálogo de paz na Colômbia – que interessa a todas as forças e personalidades democráticas, pacifistas e anti-imperialistas e não apenas aos comunistas – só será possível através de uma ampla campanha internacional pela paz com justiça social e econômica na Colômbia, cujo êxito tem como pré-requisito o reconhecimento das FARC e do ELN como são em verdade: organizações políticas beligerantes.

Foi para contribuir para essa necessária e urgente campanha – conhecendo e divulgando um pouco mais a história, a realidade, os pontos de vista e as perspectivas das FARC – que resolvi conviver alguns dias com os guerrilheiros e conversar, sem preocupação com o relógio e o celular, com alguns de seus comandantes, em especial Iván Marquez e Jésus Santrich, que me visitaram no acampamento em que me hospedei.

Não voltei ao Brasil para fazer proselitismo sobre uma forma de luta que considero incompatível com a atualidade brasileira, mas que respeito como legítimo direito dos povos na luta contra a opressão. Voltei determinado a contribuir para a abertura de um diálogo político na Colômbia.

O PCB e outras organizações e personalidades entendem a importância desse diálogo para o avanço dos processos de mudança na América Latina, que depende da neutralização da agressividade do imperialismo em nosso continente, cujo centro de gravidade é o terrorismo de Estado colombiano.

A Colômbia é o segundo destino mundial de ajuda financeira para fins militares e de material bélico dos EUA, após Israel; tem as Forças Armadas mais numerosas, armadas e treinadas da América do Sul. Um dos objetivos principais do imperialismo, diante da crise sistêmica do capitalismo, é fomentar guerras localizadas, sobretudo contra países fora de sua esfera de dominação e, preferencialmente, possuidores de riquezas naturais.

O Estado narcoterrorista colombiano é o instrumento para provocar conflitos militares na região, como foi o caso da invasão do espaço aéreo equatoriano para o ataque ao acampamento do comandante Raul Reyes, o Secretário de Relações Internacionais das FARC, que tinha como tarefa exatamente promover trocas humanitárias de prisioneiros e abrir espaço para uma solução negociada do conflito militar.

No caso da Venezuela - onde o processo de mudanças na região mais avança – as provocações são mais ousadas, constantes e perigosas. A Colômbia, que já infiltrou milhares de paramilitares no território venezuelano, para preparar um golpe contra Chávez, agora acusa a Venezuela de abrigar guerrilheiros das FARC, utilizando-se de manipulações tecnológicas, como as que vem fazendo até hoje com o inacreditável computador pessoal de Raul Reyes, que resistiu incólume a um bombardeio aéreo intenso, em que todo o acampamento foi destruído e morreram 26 pessoas.

Os EUA já se associaram a estas “denúncias” do governo colombiano e já agitam propostas de levar o caso para organismos multilaterais que hegemonizam. As relações diplomáticas entre a Colômbia e a Venezuela estão cada vez mais tensas. É necessária uma urgente ação política para evitar o agravamento do conflito, que só interessa ao imperialismo e à direita, não só colombiana, mas de todos os países da América Latina, que fazem de tudo para ajudar a derrubar o governo venezuelano, através de sua satanização e manipulação.

Aqui no Brasil não é diferente. Toda a mídia burguesa se associa às denúncias do governo colombiano e a direita aproveita o momento eleitoral para criticar o governo brasileiro exatamente em relação a um dos poucos aspectos que os internacionalistas nele valorizamos. Apesar da vacilação, da dubiedade e das contradições - em face do objetivo principal da política externa brasileira de transformar o país numa grande potência mundial -, ao Estado brasileiro não interessa a guerra imperialista, mas sim a expansão do capitalismo brasileiro.

A direita, para instigar a guerra entre a Colômbia e a Venezuela, tenta desqualificar o Brasil como mediador da crise. Para isso, acusa o partido do Presidente da República de relações e atitudes que infelizmente não são verdadeiras, pois poderiam ter ajudado a solucionar o conflito colombiano.

Na Colômbia, é expressivo o movimento conhecido como “Colombianos pela Paz” – que estimula a troca de prisioneiros e tenta criar um ambiente favorável ao diálogo –, liderado pela Senadora Piedad Córdoba, com quem participei, em outra ocasião, de reunião em Bogotá para tratar do tema da paz naquele país, juntamente com outros militantes latino-americanos, dentre os quais Carlos Lozano, do Burô Político do Partido Comunista Colombiano, um dos dirigentes internacionalistas mais dedicados à solução do impasse em seu país.

Mas essa campanha não será exitosa se não contar com a ampla participação de governos, instituições e personalidades democráticas e progressistas de vários países, sobretudo da América Latina.

E, na América Latina, o Brasil – em função de sua importância e sua liderança - é o país que reúne as melhores condições para viabilizar o diálogo colombiano, como fiador político, liderando um conjunto de países e organizações multilaterais da região, de preferência a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas), que não conta com a presença indesejável dos Estados Unidos.

É correta a iniciativa da diplomacia brasileira de levar a discussão do novo conflito para o espaço da UNASUL e tentar ajudar a mediá-lo. Mas não se pode ter ilusão de que o novo Presidente colombiano, que tomará posse em alguns dias, recuará nos projetos belicistas do consórcio EUA/Colômbia. Este não é o último gesto raivoso de Uribe, como muitos imaginam. Este é o primeiro gesto de Santos antes da posse, combinado com Uribe, para iniciar seu governo com voz grossa, mas com pouco desgaste. Santos não foi só o candidato de Uribe. Foi seu Ministro da Defesa, responsável pela aplicação do famigerado “Plano Colômbia”. É o uribismo sem Uribe. Não nos esqueçamos da invasão de Israel à Faixa de Gaza, antes da posse de Obama, para preparar a transição para o imperialismo sem Bush.

Por isso, será importante, mas insuficiente, a distensão do atual conflito entre Colômbia e Venezuela. Isto resolve uma parte da questão no curto prazo, mas não resolve a causa do problema. O Brasil deve ir além dessa iniciativa e se empenhar numa solução negociada do conflito interno colombiano. E isto só será possível se sentarem à mesa, com observadores internacionais credenciados pelas partes, os verdadeiros atores em conflito: as organizações políticas insurgentes e, mais do que o governo, o Estado colombiano.

Para ser conseqüente com o objetivo do Estado brasileiro de transformar o nosso país em uma referência no âmbito mundial, seria muito mais eficiente patrocinar um diálogo que pode distensionar o pesado ambiente interno colombiano, que paira sobre a América Latina, do que liderar tropas de ocupação no Haiti.

Além do mais, desmontar o “Cavalo de Tróia” montado pelo imperialismo na Colômbia não serve apenas para evitar uma guerra com a Venezuela ou a derrubada de seu governo. Como disse Fidel Castro, as bases militares ianques na Colômbia são punhais no coração de toda a América Latina, inclusive, não nos iludamos, sobre o Brasil, cujas extraordinárias riquezas naturais - entre elas a biodiversidade da Amazônia, as imensas reservas de água doce e o pré-sal - são os principais objetos da cobiça dos Estados Unidos em todo o continente.

* Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB

25 de julho de 2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

Carta do embaixador da Venezuela ao Estadão



A O Estado de S.Paulo

Sr. Ruy Mesquita diretor de Opinião

Sr. Antonio Carlos Pereira editor responsável de Opinião

Sr. Ricardo Gandour editor de Conteúdo

Senhores,

É com grande preocupação e mal-estar que a República Bolivariana da Venezuela, por meio de seu Embaixador no Brasil, dirige-se a esse jornal, de reconhecidas qualidade e tradição entre os veículos da imprensa brasileira. E a razão não é outra senão nossa surpresa e indignação com os termos e o tom de que sua edição de hoje (20/07/10) lança mão para atacar o presidente de um país com o qual o Brasil e os brasileiros mantêm relações do mais alto nível e qualidade.

O respeito à plena liberdade de imprensa e de expressão é cláusula pétrea de nossa Constituição e valor orientador do governo de nosso país. A estas diretrizes, no entanto, cremos que devam sempre estar associadas a lhaneza na referência a autoridades constituídas democraticamente eleitas e a plena divulgação de todos os fatos associados a uma cobertura jornalística.

Cremos descabido que um jornal como O Estado de S.Paulo se refira ao presidente Hugo Chávez, eleito e reeleito pelo voto livre da maioria dos venezuelanos, com o uso de termos e expressões como lúgubre circo de Chávez, autocrata, protoditador, circo chavista, caudilho, lúgubre picadeiro, costumeira ferocidade, rugiu, toque verdadeiramente circense da ofensiva chavista no gênero grand guignol.

Mais graves ainda são a distorção e ocultação de informações que maculam os textos hoje publicados.

O presidente Hugo Chávez nunca atropelou a Constituição Bolivariana, instituída por Assembleia Nacional e referendada em plebiscito. Ao contrário, submeteu-se, inclusive, a referendo revogatório de seu próprio mandato, prática democrática avançada que pouquíssimos países do mundo têm o orgulho de praticar.

O editorial omite que o cardeal Jorge Savino já foi convocado pela Assembleia Nacional para apresentar provas de sua campanha difamatória frente aos deputados também democraticamente eleitos , mas o mesmo rechaçou a convocação. Prefere manter suas acusações deletérias a apresentar aos venezuelanos e à opinião pública internacional os fatos que lastreariam suas seguidas diatribes.

Outros trechos do texto só podem ser lidos como clara campanha de acobertamento de um terrorista, como o é, comprovadamente, Alejandro Peña Esclusa: O advogado de Esclusa assegura que o material foi plantado pelos policiais que invadiram a casa de seu cliente - considerando o retrospecto, uma acusação mais do que plausível (grifo nosso)

Esclusa foi preso em sua residência em posse de explosivos, detonadores e munição, após ter sido denunciado, em depoimento à polícia, pelo terrorista confesso Francisco Chávez Abarca - este criminoso, classificado com o alerta vermelho da Interpol, foi preso em solo venezuelano quando dirigia operação de terror, visando desestabilizar o processo eleitoral de setembro deste ano.

A prisão de Esclusa ocorreu de forma pacífica, com colaboração de sua família, e segue os ritos jurídicos normais: ele tem advogado constituído, direito a ampla defesa e será julgado culpado ou inocente de acordo com o entendimento da Justiça, poder independente de influência governamental ou partidária, assim como no Brasil.

Inadmissível seria o governo da Venezuela ter permitido que um terrorista ceifasse vidas e pusesse em risco a democracia, que nos esforçamos arduamente para defender, ampliar e aprimorar em nosso país, assim como o fazem, no Brasil, os brasileiros.

O Estado de S.Paulo tem pleno conhecimento desses fatos, tendo inclusive recebido, em 14/07/10 a Nota de Esclarecimento desta Embaixada, a respeito do desbaratamento da operação terrorista internacional que estava em curso (cópia anexa). O responsável pela editoria Internacional, Roberto Lameirinhas, inclusive confirmou seu recebimento à nossa assessoria de comunicação.

Daí manifestarmos nossa estranheza com a reiterada negativa do jornal em dar tais informações a seus leitores. E ainda tomando como verdade declarações do advogado do referido terrorista.

Temos certeza que os senhores não desconhecem, até pela história recente do Brasil, o quão frágil pode ser a liberdade diante do autoritarismo tirano da intolerância e do uso do terror como método de ação política.

Reafirmamos que não nos cabe emitir qualquer juízo de valor sobre as opiniões político-ideológicas do jornal dirigido por V. Sas., por mais que delas discordemos. O que nos leva a enviar-lhes esta correspondência é, tão somente, a solicitação de que se mantenha a veracidade jornalística e o respeito que se deve sempre às pessoas, sejam ou não autoridades constituídas, mesmo quando o jornal as considere, de moto próprio, como seus inimigos ou desafetos.

Esta Embaixada permanece à disposição do jornal e de seus leitores, para esclarecimentos adicionais sobre quaisquer dos assuntos supracitados, bem como de novos temas julgados pertinentes e reivindica, formalmente, a publicação da presente carta, com o mesmo destaque dado ao editorial de hoje, intitulado O lúgubre circo de Chávez, publicado à página A3.

Atenciosamente,

Maximilien Arvelaiz

Embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil

Brasília, DF

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-carta-do-embaixador-da-venezuela-ao-estadao.html

O artigo d'O Estado de São Paulo - Coluna Opinião (20/07/2010):

O Lúgrube Circo de Chávez

O Estado de S.Paulo

Está na cartilha dos autocratas populistas: se escasseia o pão, amplie-se o circo. Com a economia do seu país em frangalhos e o espectro de uma acirrada eleição legislativa em setembro, o protoditador venezuelano Hugo Chávez faz o que pode ? e o que não poderia fazer se tivesse um mínimo de bom senso e autocrítica ? para desviar as atenções de seus desafortunados concidadãos da crise que o seu "socialismo do século 21" fez desabar sobre a economia, com reflexos devastadores para o nível de emprego e a inflação.

O circo chavista segue o formato clássico. O repertório inclui a fabricação ou exacerbação de ameaças internas e externas e a exploração do culto aos símbolos nacionais de que o caudilho se reveste para aparecer como o detentor exclusivo desse legado ? e, por isso mesmo, alvo dos inimigos da nação. Nos últimos dias, ele levou ao lúgubre picadeiro um programa completo.

O mais novo perigo para os venezuelanos é o cardeal Jorge Savino, que teve a temeridade de afirmar que o coronel está atropelando a Constituição e levando o país ao socialismo marxista. O prelado denunciava a prisão do opositor Alejandro Esclusa, acusado de armazenar explosivos para atos terroristas. O advogado de Esclusa assegura que o material foi plantado pelos policiais que invadiram a casa de seu cliente ? considerando o retrospecto, uma acusação mais do que plausível.

No seu programa Alô, Presidente, Chávez investiu contra o denunciante com a costumeira ferocidade. "Vou te dedicar toda a minha vida, cardeal", rugiu. "Não vais conseguir derrubar Chávez, cardeal. Porque eu sei quem és e a estatura moral pequena que tens." No embalo, voltou-se contra a Igreja, anunciando a revisão de um acordo de 1964 que, segundo o caudilho, dá "certos privilégios" ao Vaticano.

Em suma, passou a incluir a Santa Sé no extenso rol de aliados do "Império" que desejariam vê-lo morto ou apeado do poder por temerem "o sucesso da revolução". No país, os principais inimigos são os meios de comunicação, que o regime ainda não conseguiu aplastar, e o empresariado ? primeiro, os das multinacionais; agora, os donos de estabelecimentos locais, sem distinção de porte e capacidade de influência. No exterior, descontados os EUA, assoma a Colômbia.

Desde 2007 as relações entre os dois países vieram se deteriorando. Chegaram à beira da ruptura no ano seguinte, quando Bogotá autorizou um ataque a um acampamento das Farc no lado equatoriano da fronteira. Anteontem, no que foi interpretado como sintoma de divergências sobre a questão venezuelana entre o presidente Álvaro Uribe e o sucessor Juan Manuel Santos, que tomará posse em 7 de agosto, Uribe tornou a acusar Chávez de abrigar dirigentes farquistas em território venezuelano.

Ao que se diz, Santos preferiria deixar esse problema em fogo brando para não atrapalhar a reaproximação com Caracas, que interessa a Bogotá por motivos econômicos. De todo modo, Chávez explorou o caso ao máximo: convocou o seu embaixador na Colômbia, disse que não irá à posse de Santos e, bem ao seu modo, chamou Uribe de "mafioso". O toque verdadeiramente circense da ofensiva chavista ? no gênero grand-guignol ? foi exibido na última sexta-feira em rede nacional.

Depois de pedir aos pais que retirassem as crianças da sala para poupá-las das imagens fortes que se seguiriam ? um truque velho como serrar o corpo de um figurante ?, o caudilho apresentou o que seriam os restos mortais de Simón Bolívar, exumados na véspera do Panteão Nacional por ordem dele, alegadamente para provar que ele não morreu de tuberculose, mas sim, assassinado.

"Chávez sabe que bolsos vazios têm um potencial de mobilização maior do que os discursos da oposição", observa o economista José Rafael Zanoni, da Universidade Central da Venezuela, ao comentar as manobras do autocrata para neutralizar o efeito eleitoral das agruras enfrentadas pelos venezuelanos. "As fichas econômicas de Chávez estão acabando", ressalta o consultor Maikel Bello. "Ele aposta na repressão política e no aumento do controle institucional."

sábado, 24 de julho de 2010

Nova ofensiva ideológica da direita fascista contra o anti-imperialismo


POR QUE CHÁVEZ ROMPEU RELAÇÕES COM A COLÔMBIA

Breno Altman*

Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.

Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.

O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.

A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.

O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.

Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.

Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.

*Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os comunistas contra o bairrismo


Os comunistas contra o bairrismo


Em todos os estados da federação nossos candidatos aos parlamentos devem sofrer com o mesmo problema da cultura política, o bairrismo, estimulado aliás por mais de 9os. Comunistas não fazem campanha bairrista porque a tática revolucionária é destruír as mentiras e não multiplicá-las. Charlatanismo eleitoral, categoria na qual se enquadra o bairrismo, não presta para as necessidades políticas de um Partido Comunista. Eis um dos vários sentidos em que uma campanha eleitoral comunista não pode ter o voto como prioridade.

A tática eleitoral bairrista consiste em tentar convencer os eleitores de uma região a votarem em um determinado candidato porque ele é daquela região e só! Na verdade, porém, os deputados, destacadamente os federais, raramente tratam de assuntos específicos dessa ou daquela região. Eles votam assunto de interesse nacional, como aumentos do salário mínimo e dos aposentados, questões relacionadas a aposentadoria, férias, impostos, direitos etc. Assim, os candidatos que adotam a tática bairrista se esquivam de falar do que interessa, que é o que realmente farão se eleitos.

Essa tática eleitoral oportunista é estremamente forte nas pequenas e médias cidades, só não funcionando em metrópoles. A maioria dos eleitores realmente se deixa levar pela tentação egoísta de beneficiar a própria região a despeito das outras. É como na maioria dos golpes de esperteza, em que a vítima se deixa enganar pela tentação de levar vantagem.

Quando um candidato oferece privilegiar uma região, está na verdade se propondo a vender seu voto de deputado ao governo, em troca de liberação de verbas para beneficiar sua base eleitoral. Ou seja, está propondo uma senvergonhice que será executada cometendo um crime! E esse crime compensa para os eleitores? Basta comparar - um deputado consegue liberar verbas para um monte de obras que eram mesmo da obrigação do governo, e em troca tem, por exemplo, que votar contra os aposentados! Ora, o dinheiro que uma cidade do interior perde com um ponto percentual a menos de aumento de aposentados é muito mais do que ganha com qualquer coisa que o deputado "faça".

Como é claro, o trabalho dos comunistas não tem nada haver com essa charlatanice. Temos que fazer uma coisa que não dá nem um centésimo dos votos - temos que tentar desiludir os eleitores!!! O primeiro e central assunto a bombardear com baldes de água fria é a suposta democracia brasileira. Temos que mostrar o que essa "democracia" é, apontar os seus defeitos e propor reformas políticas ultra-democráticas e anti-capitalistas. Temos que fortalecer bandeiras políticas que coloquem os capitalistas na defensiva.

* Dirigente estadual do PCB/MG e candidato a Deputado Federal com o número 2121

A corrupção burguesa em Guarulhos


Nota política do PCB - Guarulhos


Novamente a Câmara municipal de Guarulhos nos presenteia com um escândalo de corrupção, novamente protagonizado pelos nossos representantes parlamentares. Cada vez mais, comprova-se que o verdadeiro interesse dos vereadores é beneficiar-se pessoalmente das vantagens que um mandato oferece, além, e principalmente, de defender os interesses do Capital.

O Gaeco (Grupo de Atuação especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, cumpriu mandados de busca e apreensão na Câmara de Vereadores de Guarulhos, na manhã desta sexta-feira.

Segundo a Promotoria, os vereadores da cidade são investigados pelos crimes de falsidade ideológica, formação de quadrilha e de um esquema de corrupção para o desvio de dinheiro público.

Os mandados estão sendo cumpridos nas casas e gabinetes de 18 pessoas, entre eles 12 vereadores que estariam superfaturando verbas de gabinete, usando notas fiscais frias fornecidas por Henri Diskin, ex-funcionário dos Correios.

. Foram desviados R$ 600 mil em notas frias.

As investigações tiveram início em outubro de 2006, quando a Promotoria de Justiça da Cidadania de Guarulhos recebeu centenas de cópias de notas fiscais emitidas por "Henri Diskin Papelaria ME", "HD Papelaria e produtos de Informática", e "Naan Mercantil Importadora e Exportadora".

Diversos documentos e computadores foram apreendidos. São investigados: Alan Neto, que é presidente da Câmara; Paulo Roberto Cecchinato; Wagner de Freitas Moreira; Toninho Magalhães; Edmilson Americano; Eraldo Evangelista de Souza; Girlenio Gomes de Oliveira, conhecido como Gileno; Otávia da Silva Tenório; Ricardo Rui Rodrigues Rosa; Silvana Mesquita da Silva; Unaldo Flores Santos e Ulisses Correia.


É nesse sentido que o PCB- GUarulhos, nessas eleições, não defende a mercadorização do sistema político brasileiro, não se submete à mentirosa democracia burguesa, que é democrática para os ricos, a burguesia, e ditatorial para os pobres, o proletariado; e não tem ilusões de alguma transformação radical na sociedade pela via institucional-eleitoral. Disputaremos as eleições numa campanha movimento, que agrupe os revolucionários num polo contrahegemônico, de resistência à ditadura burguesa de mercado, na perspectiva de construir uma frente política permanente de caráter anticapitalista e anti-imperialista.


Assim, agruparemos e acumularemos forças contrahegemônicas, que construam uma verdadeira alternativa de poder, que seja socialista revolucionária, que busque a transformação radical do modo de produção capitalista, avançando a um modo de produção socializado, uma economia planificada e uma democracia participativa, que instaure a vitória do poder popular.


ousar lutar, ousar vencer

Os indiferentes - Antonio Gramsci


Os Indiferentes

Antonio Gramsci

11 de Fevereiro de 1917

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.

A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

Todo apoio aos trabalhadores da Flaskô


CONTRA O FECHAMENTO DA FÁBRICA!!!

ESTATIZAÇÃO DA FÁBRICA SOB CONTROLE OPERÁRIO!!!

Em 16 de julho, cerca de 200 pessoas manifestaram seu apoio aos trabalhadores da Flaskô, fábrica ocupada pelos trabalhadores há sete anos. Essa manifestação foi uma resposta dos trabalhadores da fábrica, bem como dos partidos de esquerda e dos movimentos populares da região, à decisão do juiz André Gonçalves Fernandes, da 2ª Vara Cível de Sumaré, estado de São Paulo, que em 1º de julho decretou o fechamento da fábrica.

Mais do que uma decisão embasada em argumentos técnicos, a decisão do referido juiz possui um fundo político. Este mesmo Juiz afirmou no ano passado, diante de uma ocupação do MTST na mesma cidade de Sumaré, que esta organização junto com o MST e a FARC, “fazem parte da Via Campesina, uma organização terrorista internacional”.

Para quem não conhece, a Flaskô foi ocupada pelos trabalhadores em 12 de junho de 2003, ante a possibilidade do fechamento da empresa e dos trabalhadores perderem o seu emprego. Ao longo desse período muitas conquistas foram garantidas, como jornada de trabalho de 30 horas, criação de uma estação de rádio comunitária (Rádio Luta), ocupação de um terreno para a formação da Vila Operária e criação da Fábrica de Esportes e Cultura, projeto mantido pela fábrica ocupada que se destina a criar um espaço de lazer e cultura para a juventude pobre e proletária de Sumaré.

A tentativa de fechamento da Flaskô, portanto, é um ataque a uma série de conquistas garantidas pela luta dos seus trabalhadores. Fechá-la é uma forma do capital, aliado ao aparelho judicial, de inibir experiências que ao aliarem a produção material com a cultural, demonstram a viabilidade de uma sociedade onde não haja exploração e opressão.

O Partido Comunista Brasileiro, junto a outros partidos de esquerda e organizações sindicais e populares, se fez presente com seus militantes na manifestação em apoio aos companheiros da Flaskô.

Graças à resistência dos companheiros e à pressão dos aliados, em 15 de julho o mesmo juiz que decretou o encerramento da empresa aceitou rever sua posição. De qualquer maneira os companheiros se mantêm em guarda contra novos ataques e reafirmam a necessidade de estatização da fábrica sob controle operário.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

SOBRE SAPOS E ESCORPIÕEs

Laerte Braga

Ano passado, na abertura da Conferência Nacional do Partido Comunista Brasileiro, Rio de Janeiro, auditório da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o secretário geral do Partido, Ivan Pinheiro, disse mais ou menos o seguinte.

“O PCB tem história e noção de suas responsabilidades”. “Não será o responsável pelo retrocesso político no País, mas não será conivente com alianças espúrias e caminhos meramente eleitoreiros”.

O líder nacional do MST, João Pedro Stédile, costuma dizer que eleições são um instrumento, até aí nada demais, muitos percebem e sabem disso, dizem isso, mas acrescenta que o desafio é a organização e avanço dos movimentos populares.

A propósito, a CPI do MST concluiu que não houve um centavo sequer de desvio de verbas públicas destinadas a projetos executados pelo MST. Que tal uma CPI do agronegócio?

Qualquer um que tenha o mínimo de informações sobre a realidade política, econômica e social do Brasil sabe que José Arruda Serra é um retrocesso sem tamanho.

É só voltar os olhos aos oito anos de governo de FHC e compreender instantaneamente essa realidade.

Não significa que seja, por isso, digerível o ex-presidente Collor de Mello fazer campanha em Alagoas trombeteando o apoio de Lula e Dilma. Collor é candidato a governador.

Determinado tipo de aliança pode até levar à vitória, mas significa que um preço alto será pago por isso. Ganhar sem levar, por exemplo.

São sapos e lagartos que um dos principais erros do governo Lula vai acabar impondo aos brasileiros por conta da necessidade de evitar um retrocesso estúpido. O de não ter buscado ampliar os canais de participação popular e mergulhado no jogo institucional. Foi o que levou um deputado desqualificado como Roberto Jéferson a denunciar um processo de corrupção e ali arrastar figuras como o ex-ministro José Dirceu.

Não se tratava de preocupação com desmandos e desvios, mas com a necessidade de afastar Dirceu do centro das decisões.

De apequenar o governo e torná-lo refém desse jogo do clube de amigos e inimigos cordiais que circula pelos três poderes em Brasília.

Transformar o PT e agregados em partidos que se assentam à mesa com figuras como Collor.

Dilma Roussef é uma candidata séria. Íntegra. Com passado e presente de coragem, determinação e indiscutível capacidade para presidir o Brasil.

Não há como você fazer acordo com o escorpião para atravessar o rio. Vai picá-lo mesmo que isso possa arrastá-lo à morte. Questão de caráter. E nesse caso nem tanto arrastá-lo à morte, pelo contrário.

Os escorpiões como Sarney, Collor e outros mais são dissidências por razões pessoais ou de “negócios” do esquema podre e corrupto dos tucanos. Não diferem em nada do que representam José Arruda Serra, Fernando Henrique Cardoso.

É uma espécie de opção que Lula fez. Juntou os êxitos indiscutíveis de seu governo (dentro do que se propôs), chamou a si a responsabilidade pelo jogo e aposta na perspectiva futura de avanços que possam permitir desvencilhar-se (ou não, difícil afirmar em cima do subjetivo) de figuras assim.

FHC deixou uma bomba armada e prestes a explodir nas mãos de Lula. Um País quebrado, falido, que Lula foi capaz de desarmar e evitar que explodisse. Lula deixa a Dilma outra forma de bomba.

Alianças espúrias e incompreensíveis.

O que o secretário geral do PCB quis dizer com “o PCB não será responsável pelo retrocesso” passa por todos esses ingredientes.

O próprio Ivan é candidato a presidente da República. Tem a convicção que é necessário dizer ao Brasil e aos brasileiros, na medida do possível, dada a correlação de forças desigual, que o processo de mudanças não passa por gente como Sarney e Collor.

Que as tarefas e desafios são bem maiores, transcendem aos limites de lideranças pessoais, coronéis políticos e por isso não podem ficar presas ou confinadas a outro limite, o de um institucional podre.

E ao mesmo tempo em que, no momento correto, o seu partido e seus camaradas não serão responsáveis por uma eventual eleição de José Arruda Serra.

Sem que isso signifique concordância com o que o próprio Ivan Pinheiro de maneira correta e precisa chama de “capitalismo a brasileira”.

É como se fosse um mar aparentemente tranqüilo e que numa curva se transformasse numa tempestade que engole o que se supõe conquistado.

Há uma força maior que devora esse tipo de luta e esse tipo de luta não se cinge a uma liderança, mas a avanços efetivos pela organização do movimento popular como um todo.

Esse é risco que se corre. Se consciente ou não é outra história. Duvido que seja inconsciente. Mas é também uma irresponsabilidade diante do processo maior, o da História.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

CPI do MST acaba sem encontrar um centavo sequer de desvio de recurso público para finaciamento da luta pela reforma agrária


Por Aline Scarso
Da Radioagência NP
Para o Blog da Reforma Agrária

Não há desvio de dinheiro público para a ocupação de terra no Brasil.

Foi o que concluiu o relatório da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que investigou a ligação entre entidades da reforma agrária e ministérios do governo.

Jilmar Tatto (relator), Almeida Lima (presidente) e
Onxy Lorenzoni (vice-presidente) em sessão da CPMI


No total, foram realizadas treze audiências públicas em oito meses.

A CPMI também investigou as contas de dezenas de cooperativas de agricultores e associações de apoio à reforma agrária.

Para o relator da CPMI, deputado federal Jilmar Tatto (PT/SP), “foi uma CPMI desnecessária”.

“São entidades sérias que desenvolvem um trabalho de aperfeiçoamento e de qualificação técnica do homem do campo. O que deu para perceber foi que a oposição, principalmente o DEM e o PSDB, estavam com uma política de criminalizar o movimento social no Brasil. Tanto é verdade que, depois de instalada a CPMI, eles praticamente não apareceram nas reuniões.”

O deputado federal Onxy Lorenzoni (DEM/RS) pediu vista do relatório durante a última sessão. Com isso, uma nova reunião foi marcada para a próxima quarta-feira (14). A expectativa é de que a bancada ruralista coloque em votação um relatório paralelo à relatoria oficial, mesmo não tendo participado das audiências de investigação.

Abaixo, leia uma pergunta da entrevista com o deputado federal Jilmar Tatto.

A CPMI foi criada para investigar desvios de recursos públicos de convênios entre ministérios e entidades sociais para a ocupação de terras. Qual a conclusão depois de oito meses de trabalho?

Foi uma CPMI desnecessária. A oposição fez uma carga muito grande, dizendo que havia recursos públicos desviados para a ocupação de terras no Brasil. Depois de um trabalho intenso e exaustivo, verificando todas as contas de dezenas de entidades, que fizeram convênios com o governo federal, concluímos que não é nada disso. São entidades sérias, que desenvolvem um trabalho de aperfeiçoamento e qualificação técnica, principalmente para o homem do campo. O que deu pra perceber é que a oposição, principalmente o DEM e o PSDB, estavam com uma política de criminalizar os movimentos sociais no Brasil. Tanto é verdade que, depois de instalada a CPMI, eles praticamente não apareceram nas reuniões. Foi a demonstração de que eles realmente estavam interessados mais em desgastar o governo federal, o MST e criminalizar o movimento social. Infelizmente, foi isso que aconteceu na criação dessa CPMI.