
Durante a greve da Unifesp de 2012, uma das atividades mais
marcantes foi a entrevista feita com a estudante Manuela, militante da Marcha
Patriótica na Colômbia. Ela é uma entre os 700 refugiados no Brasil, obrigados
a fugirem de lá, por conta da repressão, das prisões e assassinatos que
acontecem cotidianamente por lá.
À convite da UJC, ela foi até o campus Guarulhos e expôs um
pouco da conjuntura e das perspectivas de luta por paz com justiça social.
Hoje, a Marcha Patriótica é composta por mais de 2000
organizações, desde estudantis, sindical, popular e campesino. Manuela nos
recomendou um filme que expõe a situação do conflito militar e social na Colômbia,
chamado Retratos de um mar de mentiras.
UJC – Há a
perspectiva de a Marcha Patriótica se organizar no campo eleitoral?
Manuela- Não,
neste momento a luta não tem condições de estar nesse campo, devido à extrema
repressão do governo. A luta atual é de resistência.
UJC- Qual é a
relação da Marcha Patriótica com as FARC-EP?
Manuela- Não há
relação orgânica de nenhum tipo. Há convergências ideológicas em relação à
correta postura anti-imperialista da guerrilha, por exemplo.
UJC- A palavra de
ordem “Paz com justiça social” é síntese da compreensão de que o conflito tem
razões estruturais. Nesse sentido, é correto dizer que a Marcha Patriótica é
revolucionária, socialista, anticapitalista?
Manuela- A Marcha
Patriótica é um movimento explicitamente anti-imperialista e anticapitalista. Mas,
a convergência de que a demanda da solução do conflito é urgente torna o
movimento mais amplo e obriga o aspecto revolucionário a ficar implícito. Isso
acontece até por questões de segurança.
UJC- Nos fale um
pouco do Pólo Democrático Alternativo.
Manuela- É um
Partido político de esquerda, que tem um posicionamento contrário à formação da
Marcha Patriótica. O Pólo tem um caráter bastante institucionalista e vem
questionando, de forma equivocada, a legitimidade financeira de um movimento
que conta com mais de 2000 organizações em seu interior. No entanto, a Marcha
Patriótica não é sectária e se une nas lutas que convergem cm o Pólo Democrático
Alternativo, que não são poucas.
UJC- Como está a
organização da Agenda Colômbia em outros países?
Manuela- Onde há
mais atividade e organização é na Argentina
em alguns países da Europa, também, em menor medida no Equador,
Venezuela, México, Brasil e Chile.
UJC- A Marcha
Patriótica tem mais influência em quais setores da sociedade?
Manuela- Há
bastante no movimento sindical, estudantil e campesino, mas hoje estamos melhor
no estudantil e campesino.
UJC- Qual é a
caracterização da Marcha Patriótica em relação aos governos progressistas da América
Latina?
Manuela- Apoiamos
os processos democráticos e antiimperialistas que acontecem hoje nos países que
compõem a ALBA. Sabemos que Uribe dirige a oposição venezuelana e lutamos
contra isso com denúncias e mobilização.
UJC- E Cuba?
Manuela- Defendemos
a revolução cubana, suas conquistas e seu apoio internacionalista aos processos
de mudança e aos povos de todo mundo. A erradicação do analfabetismo na
Venezuela e na Bolívia, além da missão de solidariedade cubana no Haiti, são
exemplos de resistência e humanismo do povo cubano.
UJC- Qual é o
papel do imperialismo na inteligência da segurança colombiana, considerando as bases
norte-americanas instaladas por lá.
Manuela- O
imperialismo financia, fornece armas, treina tropas, ensina tortura, enfim,
controla hierarquicamente nossa soberania.
UJC- Qual é a
situação da poetisa Angye Gaona?
Manuela- Está em
liberdade condicional, impedida de sair do país. Apesar disso, seu livro foi
lançado no Brasil através da solidariedade dos companheiros da Flaskô.
UJC- A UJC agradece sua visita e nos dispomos a
construir a Agenda Colômbia no Brasil.
Manuela- Agradeço
o convite e vamos à luta!