Posição da União da Juventude
Comunista sobre a proposta a ser votada pela Congregação do campus Guarulhos da Unifesp, referente à
realização de consulta pública sobre sua permanência no bairro dos Pimentas.
04/11/2012
A burocracia acadêmica
da Unifesp tem dado sucessivas demonstrações de seu caráter anti-democrático,
muitas vezes por meio da mais evidente demagogia barata.
Estão praticando
ações paralelas para dar a aparência de legitimidade a ações isoladas, que não
refletem o que deseja a maioria da universidade e da população de Guarulhos,
pra não falar de todo o país, que se mobiliza ano a ano (professores, técnicos,
docentes, estudantes e trabalhadores das mais variadas faixas etárias e
categorias profissionais) pela universalização do direito à educação superior
pública, com plenas condições para a formação.
Por um lado, aprovam
na congregação uma medida sem correspondência real com a discussão que é feita
no campus e com a mobilização que há em Guarulhos por iniciativa da própria
população, a favor de uma universidade federal na cidade.
Doloroso para
qualquer estudante consciente é ver o argumento que estes oportunistas utilizam
para defender a saída do campus do
bairro dos Pimentas, de que a população de Guarulhos não o quer na cidade, de
que determinada pesquisa demonstrou que preferiria um campus da área de
medicina, ou recorrendo ao argumento corporativista da dificuldade de acesso ao
campus. São como generais que traem a própria pátria, desmerecem o próprio
esforço e preferem, a conceber um projeto que se articule com as necessidades
da população a nível local (formação de professores e pesquisadores que morem
na região e com ela se identifiquem, mesmo que em determinada conjuntura sejam
uma minoria), tirar o campus de um
bairro periférico e transplantá-lo para um lugar mais ao gosto elitista do
intelectual brasileiro, distanciado da realidade da maioria da população. Tanto
os argumentos depreciativos ao bairro dos Pimentas, presentes em um dossiê
elaborado pelo departamento de Filosofia, quanto os da dificuldade de acesso,
demonstram o corporativismo presente nos argumentos, como se o propósito de uma
universidade se encerrasse nela própria e nos desejos de ascensão profissional
dos estudantes da área de Humanidades que peregrinam das mais variadas regiões
até a EFLCH. Conseguem convencer com seus argumentos baratos uma parcela dos
estudantes em estado de consciência servil, verdadeiros bajuladores que tratam
suas aulas como se fossem missas e os professores padres, muitas vezes
interessados ainda em benefícios como bolsas de iniciação científica.
Mas aqui ainda
estamos no ponto em que se busca dar a aparência de legitimidade para a
burocracia acadêmica. Para agradar ao CONSU, até o momento contrário à saída da
Unifesp de Guarulhos (ou do bairro dos Pimentas), propõem uma consulta à
comunidade acadêmica da EFLCH no conhecido formato 70-15-15, adotado em todos
os órgãos da universidade com poder de decisão, que atribuem ao setor docente o
peso de 70% nas decisões sobre a universidade. Trata-se de uma proposta do
departamento de Ciências Sociais, que tem grande chance de ser aceita pelos demais,
e pergunta aos estudantes se preferem que o campus
fique no bairro dos Pimentas, no centro de Guarulhos ou no centro de São Paulo
(nem é preciso perguntar o que preferem os setores mais retrógrados).
Para os estudantes
não tão subordinados, mas que não têm solidez de opinião quanto à questão da
permanência do campus, tentam dar a
aparência de legitimidade criando espaços de discussão a respeito da mesma. Um
colóquio com formato imposto pela congregação, mas onde a maior parte dos
professores, estudantes e técnicos que participaram (mesmo dos que compunham as
mesas) se declararam contrários à saída do campus
ou de qualquer de seus departamentos do bairro dos Pimentas, e um método de
compartilhamento de artigos por meio de lista de e-mail institucional, por
iniciativa da mencionada professora Christina Andrews.
As conclusões a que
se chega em semelhante situação, fazendo ainda um retrospecto de tudo o que tem
ocorrido nos últimos anos em relação à educação superior federal brasileira,
são tristes:
- A expansão do ensino superior federal de nove anos pra cá é
um fracasso. O movimento de greve nacional que envolveu estudantes, professores
e técnicos demonstrou que expandir vagas em universidades sem verbas e violar
princípios socialmente legitimados quanto à negociação com sindicatos,
entidades e movimentos organizados nas universidades, os quais representam
setores diretamente afetados pela expansão sem verbas e planejamento, conduz a
situações insustentáveis. O Governo Federal apóia as burocracias acadêmicas,
especialmente nos campi onde esta
tenha mais poder, porque elas são atreladas ao Estado e beneficiárias diretas
deste, e fazem o possível para controlar as mobilizações dos setores
universitários que se organizam. Há muitas vezes reitores que, em meio às
mobilizações, podem se solidarizar com o movimento geral, sejam ou não
progressistas. Mas qual atitude esperar da maioria quando o Governo Federal
ameaça punir os que não cortarem o ponto de grevistas? No mais das vezes a
burocracia capitulará, por não ser no geral quem se encontra à frente do
movimento organizado do setor docente, além de ser atrelada ao Estado. Na
Unifesp, tanto a Congregação da EFLCH quanto a reitoria declararam apoio ou
efetivaram sindicâncias contra estudantes que participaram da última greve,
defendendo o argumento individualista de que ´´greve é pra quem quer fazer
greve``. Houve casos recentes de estudantes ameaçados de morte na ocasião da
greve dos estudantes da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) em 2011, o que
demonstra a que nível podem chegar os setores da sociedade ou do Estado que
tentam sustentar um modelo insustentável de educação superior.
- Apesar de o regime político brasileiro ser distante da
maioria da população, no que o caso das universidades federais é apenas um dos
exemplos, o mesmo também se alicerça em algumas práticas ´´descentralizadas``,
abertas a interesses corporativistas. No contexto da crise do ensino superior
federal, onde parte da burocracia está se chocando diretamente com o Governo
Federal, a primeira pode muitas vezes se utilizar destas mesmas práticas para
se contrapor ao segundo. Daí surgirem propostas unilaterais que expressam as
vontades de setores reduzidos, isoladas das necessidades gerais da população.
Nós da UJC entendemos
que neste momento é fundamental e urgente a rearticulação do movimento
estudantil no campus Guarulhos da
Unifesp. Não se pode permitir que um único setor, contrário à educação
brasileira, contrário ao povo e alienado de sua realidade, tome a dianteira no
debate sobre sua permanência no bairro dos Pimentas. Devem estar na ordem do
dia a retomada das assembléias de estudantes, a rearticulação de atos massivos
pela permanência do campus e a coesão
do movimento estudantil, que deverá avançar em termos de organização e
descobrir os melhores meios para lutar contra as práticas reacionárias na
Unifesp. Reivindicamos uma Universidade Popular, concebida pela e para a
maioria da população brasileira, por isso consideramos que no campus Guarulhos
é fundamental a luta por sua permanência, como um ato de defesa da autonomia
universitária com democracia, sem burocratismo nem corporativismo.
Ousar lutar, ousar vencer!
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