quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Oportunismo na Estrada do Comunismo


Miguel Urbano Rodrigues
Os trabalhadores e os povos de todo o mundo têm direito a uma sociedade livre da exploração e da opressão. Essa sociedade só será construída pelas suas próprias mãos, pela sua luta organizada e criadora. E essa luta só irá tão longe quanto é necessário se tiver no seu cerne fortes organizações revolucionárias de classe: os partidos comunistas. A reflexão acerca dos factores que dificultam, atrasam e desviam dos seus objectivos essenciais a existência e a acção dos partidos comunistas é nos dias de hoje uma tarefa de primeiro plano.
O quarto número da Revista Comunista Internacional - editada por órgãos teóricos de onze partidos revolucionários - é um valioso contributo para a compreensão das ameaças e problemas que afetam hoje a nível mundial a luta dos partidos comunistas.
O tema central da maioria dos artigos desta edição é a análise do oportunismo e do seu significado politico-ideológico. Nas últimas décadas o seu papel na social-democratização de partidos comunistas que abandonaram o marxismo-leninismo foi decisivo.
No ensaio de abertura da revista, Herwig Lerouge, do Partido do Trabalho da Bélgica, chama a atenção para as consequências nefastas da acção do Partido da Esquerda Europeia – PEE na anestesia, mais exatamente na neutralização, da combatividade de amplos sectores da classe operária em países da União Europeia. O Partido Comunista Francês-PCF e a Rifondazione Comunista Italiana-PRC (criada após a transformação do PCI num partido social-democrata) sustentam que é possível chegar- se ao socialismo pela via parlamentar. Fausto Bertinotti, que foi presidente do PEE, retomou velhas teses de Edward Bernstein ao afirmar que «o movimento dos movimentos» poderá ser o motor da caminhada para o socialismo.
O Die Linke, o Partido da Esquerda Alemã - que resultou da junção do PDS da ex-RDA com o WASG dos dissidentes do SPD da Alemanha Ocidental - adepto dessa tese, fez grandes promessas aos trabalhadores mas, após alguns êxitos iniciais, não as cumpriu e entrou em rápido declínio. Na década em que foi co-governo da cidade de Berlim com o SPD tornou-se cúmplice na privatização de mais de 100 000 apartamentos sociais, fechou creches, cortou indemnizações, privatizou transportes públicos.
Os fatos demonstram que a participação de partidos comunistas (ou ex-comunistas) em governos socialistas não trava as privatizações. O governo da gauche plurielle em França privatizou, aliás com o apoio do PCF, mais empresas do que as privatizadas durante os governos de Baladour e Juppé, ambos primeiros-ministros da direita.
Atualmente, o socialista François Hollande não hesita em assumir mais abertamente do que o próprio Obama a defesa de agressões militares imperialistas. No ataque à Líbia e no caso da Siria,por exemplo.
Na Grécia, o Syriza - amálgama de ex.trotskistas, de ex-maoístas e de trânsfugas do KKE - abandonou todas as referências ao marxismo e abstem-se de responsabilizar o capitalismo pela atual crise mundial que define como consequência de erros do neoliberalismo. No seu ambíguo programa promete revogar as medidas mais duras impostas pela troika, mas as suas propostas inserem-se num projeto de compromissos com a burguesia e o imperialismo. Nada que atinja os banqueiros e a estrutura repressiva das forças armadas. Não se opõe também à permanência da Grécia na NATO.
Na sua lucida intervenção no XV Encontro de Partidos Comunistas e Operários em Lisboa, Giorgos Marinos, do KKE, tirou a máscara ao partido de Alexis Tsipras.
«A verdade - disse – é que o Syriza como formação oportunista que se desenvolveu num dos pilares da social-democracia é apoiado por setores da classe burguesa, é um defensor do capitalismo e da União Europeia. É um partido que elogiou a linha política de Obama como progressista e promoveu o mito de que um novo vento soprava na Europa para os trabalhadores com a eleição de Hollande».
Julgo útil lembrar que o Bloco de Esquerda-BE é em Portugal (com o Partido Socialista) um defensor entusiasta da estratégia do Syriza. Francisco Louçã, seu ex-coordenador, participou mesmo em Atenas num comício do partido de Alexis Tsipras. Tal como o seu aliado, o BE, nascido da fusão da UDP, maoista, com o PSR trotskista, também se abstém hoje de referências ao marxismo.
A METAMORFOSE DO PARTIDO COMUNISTA DE ESPANHA
Importante é também o artigo na Revista Comunista de Raul Martinez e Astor Garcia, dirigentes do Partido Comunista de los Pueblos de Espana-PCPE.
Recordam que o Partido da Esquerda Europeia – PEE foi concebido para funcionar como «polo oportunista de dimensão continental e força para a colaboração de classes no âmbito da União Europeia».
Tem cumprido bem esse papel. Em l976, em Berlim Ocidental, os Partidos Comunistas de Espanha, França e Itália aderiram a uma plataforma eurocomunista «na qual – sublinham - tinha um papel determinante o apoio ao processo de formação de uma união interimperialista europeia».
E no seu IX Congresso, em l978,o PCE decidiu romper com o marxismo-leninismo e adotar o eurocomunismo como a sua ideologia.
Em l988, no XII Congresso, Julio Anguita, então secretário-geral, definiu com transparência o rumo do PCE: «É portanto necessária uma transformação da Comunidade Europeia. Para a realizar apostamos na construção de amplas alianças, a partir do movimento operário e outras forças sociais do progresso, sustentadas no terreno político pela convergência de partidos comunistas, socialistas, social-democratas, trabalhistas e verdes»
É transparente a apologia de uma estratégia incompatível com o marxismo.
Hoje, num contexto histórico diferente, cabe ao Partido da Esquerda Europeia, herdeiro do revisionismo, ser o executor dessa estratégia que privilegia a função dos parlamentos, e renuncia à luta de classes
Na prática, as «amplas frentes de esquerda» preconizadas pelo PEE conduzem a uma aliança com a burguesia que subalterniza os partidos comunistas e faz deles instrumentos de uma política reformista que nega a sua função revolucionária.
A União Europeia ideada pelo PEE seria – cito novamente Raul Martinez e Garcia - “a negação de tudo o que se relaciona com a construção do socialismo, com recusa total das tradições revolucionárias, em contradição frontal com o socialismo científico, a luta de classes e a revolução socialista».
Robert Hue, ex-secretário do PCF, desceu à baixeza de afirmar que tudo na União Soviética foi negativo.
A OBRA DEVASTADORA DO OPORTUNISMO NOS PARTIDOS COMUNISTAS DA AMÉRICA
Sob o título «Alguns traços do oportunismo na América», Pavel Blanco Cabrera, primeiro secretário do Partido Comunista do México, e Hector Colío Galindo, também dirigente do PCM, apresentam, também no último número da Revista Comunista Internacional, uma reflexão abrangente sobre as consequências devastadoras da ação do oportunismo, do reformismo e do revisionismo nos partidos comunistas da América.
Afirmando que a ausência de uma frente ideológica contra o oportunismo configura uma ameaça para os partidos comunistas, evocam a destruidora herança do browderismo na América Latina.
As teses de Earl Browder, um precursor do eurocomunismo, contribuíram nos anos 40 do século passado para a neutralização de muitos partidos comunistas da América Latina.
Deixaram aliás sementes. Hoje, Sam Web, o presidente do PC dos Estados Unidos, defende a sua transformação numa organização inofensiva, quase uma força auxiliar do Partido Democrata, uma espécie de «clube ideológico».
A chamada latino-americanizaçao do marxismo - cito Pavel e Hector - «tem muito em comum com operações corrosivas como as de Santiago Carrillo, os eurocomunistas, e o marxismo ocidental».
Académicos aventureiros e oportunistas como o alemão mexicano Hans Dieterich e o irlandês-mexicano John Holloway têm semeado a confusão; invocam o marxismo, mas na realidade combatem-no.
Em universidades prestigiadas da América Latina tornou-se quase uma moda fazer a apologia do chamado «socialismo do século XXI» para atacar o marxismo-leninismo definido como uma «ideologia estatal soviética» que qualificam de obsoleta. Subestimar os efeitos dessas campanhas é um erro. Estabelecem a confusão em meios progressistas. Sobretudo na Venezuela; mas até em Cuba fazem estragos.
As políticas que subalternizam a luta pelo socialismo - encarando-a como tarefa posterior e remota, como fizeram Bernstein e Kautsky - atribuem na prática prioridade às reformas no quadro institucional, admitindo que se pode chegar ao governo pela via eleitoral. São políticas capituladoras. Marinos não exagera ao afirmar que essa atitude «degrada o próprio objetivo estratégico, o objetivo que determina as táticas, a postura dos Partidos comunistas como um todo, o seu trabalho no movimento laboral e popular, a sua política de alianças».
O oportunismo manifesta-se, não esqueçamos, de maneiras diferentes, surgindo por vezes com máscara socialista.
Consciente dessa realidade, Pavel Blanco Cabrera e Hector Colío , na sua demolidora crítica ao oportunismo e ao revisionismo, alertam para a confusão que resulta do conceito do chamado «socialismo de mercado chinês».
A tese foi formulada por Deng Xiao Ping mas, muito antes, Mao Tse Tung, num quadro diferente, defendeu a viabilidade de alianças de partidos comunistas com um sector da burguesia nacional supostamente patriótico cujos interesses não coincidem com os do imperialismo. O resultado dessas alianças tem sido desastroso, mas a tese continua a ser uma fonte de ilusões. Alguns povos pagaram já um alto preço por esse tipo de alianças.
Identifico-me com Pavel Blanco e Hector Colío quando escrevem: «Nessa política de alianças, o papel da classe operaria e dos partidos comunistas que nela participam é subordinado; é um problema arriscado porque a independência de classe e o partido deixam de ser as tarefas prioritárias, o dever indeclinável; deixam de ser organizações militantes e transformaram-se em agrupações de filiados para as quais o socialismo passa a ser uma aspiração. Ao definir-se uma etapa intermédia de larga duração são empurradas para a colaboração de classes, os pactos sociais e um parlamentarismo funcional ao progressismo que é uma forma de gestão do capitalismo».
Enunciam uma evidência ao salientar que a denúncia firme do oportunismo, inseparável do revisionismo, é uma exigência premente na luta dos partidos comunistas revolucionários.
Já Lénine dizia que «a luta contra o imperialismo é uma frase vazia e falsa se não estiver indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo».
Mas se o reformismo, tolerado ou erigido em opção estratégica, deve ser condenado qualquer que seja a sua modalidade porque não representa uma ameaça para o capitalismo, e lhe garante pelo contrário - por ser inofensivo - a sobrevivência - que fazer, então? Como inverter a atual correlação de forças favorável ao imperialismo? Qual a alternativa ao sistema de poder imposto à Humanidade?
Esboçar sequer uma tentativa de resposta a essas perguntas não é o objetivo deste despretensioso comentário ao número da Revista Comunista Internacional dedicado à denúncia do fenómeno do oportunismo que ameaça a nível mundial os partidos comunistas.
Como comunista sei que o capitalismo, condenado, não está em vésperas de ser erradicado. Não viverei esse dia. Mas é minha inabalável convicção que a alternativa ao monstruoso sistema de exploração do homem pelo homem será o socialismo.
Não está iminente esse grande acontecimento. Nem definidos os seus contornos na fidelidade aos ensinamentos de Marx e Lenin, assimiladas as lições de muitos e graves erros (e desvios) cometidos no quadro das experiências socialistas ensaiadas pela humanidade.
Mas é falso, perverso e desmobilizador o discurso da burguesia sobre a inexistência de alternativas ao capitalismo. A social-democracia, farisaica, pretende que o capitalismo é humanizável e conta com a cumplicidade do oportunismo de múltiplos matizes.
Mentem. Pela sua essência e objetivos, o capitalismo é incompatível com as aspirações do homem. Terá de ser destruído.
Acredito que será a convergência de múltiplas lutas de muitos povos, que contribuirá decisivamente para o fim do capitalismo, abrindo as alamedas de um futuro socialista à Humanidade.
A estrada que conduz ao comunismo é longa e dificílima de percorrer, batalhando. A meta a atingir, enquanto existiu a União Soviética, parecia próxima. Ilusão. Sabemos hoje que está longe e o caminho a percorrer semeado de obstáculos de difícil superação. O discurso retorico não ajuda.
Vila Nova de Gaia, 24 de Novembro de 2013
http://www.odiario.info/?p=3096

Honduras: uma eleição roubada


"A embaixada” disse quem ganhou
Atilio A. Boron
Nas últimas horas de ontem, o Tribunal Superior Eleitoral de Honduras consagrava como vencedor o candidato do continuísmo golpista, Juan Orlando Hernández. Desde o inicio, o processo eleitoral esteve marcado por vícios irremediáveis que jogaram um pesado manto de suspeita sobre seu desenlace. A desavergonhada intervenção “da embaixada” nos assuntos internos de Honduras por si só seria uma razão suficiente para suspender as eleições, redesenhar as instituições políticas –entre elas o próprio TSE, controlado por aqueles que avalizaram o golpe de 2009– e fazer uma nova convocação eleitoral assim que reunisse condições mínimas requeridas para uma eleição, não apenas durante a campanha (por si só um problema em Honduras, dado o recorde de jornalistas e militantes opositores assassinados) mas também durante a apuração final dos votos.
Semanas antes das eleições, agentes governamentais haviam declarado que o TSE confrontaria seus números com os apresentados pela embaixada dos Estados Unidos antes de dar a conhecer os resultados definitivos! Em resumo: o vencedor seria proclamado pela “embaixada”, e o governo do continuísmo golpista de Porfirio Lobo por fim veria Honduras convertida em um protetorado estadunidense.
Esta absurda confissão diz muito da história desse sofrido país, ocupado por Washington e transformado nos anos oitenta em uma gigantesca retaguarda para servir de apoio logístico às agressões perpetradas contra a revolução sandinista por parte dos “contras” nicaraguenses.
Arquiteto deste projeto contrarrevolucionário temos John Negroponte, uma das figuras mais sinistras das Américas, e designado por Ronald Reagan como embaixador em Honduras, função na qual contou com a colaboração de outro reconhecido terrorista internacional, Otto Reich. Sob sua gestão, o exército hondurenho foi reorganizado de cabo a rabo, dotado de armamentos sofisticados, treinamento e tecnologia militar de última geração. Transformaram a base militar Soto Cano, em Palmerola, em uma das mais estratégicas das bases que os Estados Unidos possuem ma América Central e no Caribe. Quando o presidente Mel Zelaya democratizou o sistema político e ingressou na ALBA, foi violentamente destituído mediante um “golpe institucional”, durante a “administração Obama”.
Um dos analistas presentes em Honduras, Katu Arkonada, confirma a existência de múltiplas “irregularidades”, para não dizer atentados contra a vontade popular. Há pelo menos 20 por cento das atas de votação nas zonas eleitorais, em regiões onde o partido Libre conta com grande respaldo popular, que foram arbitrariamente submetidas a auditoria e não foram computadas; em comunidades apartadas se observou o “voto de cabresto” e a compra de títulos eleitorais; existem milhares de mesas onde os partidos minoritários obtiveram zero votos, ou seja, querem fazer crer que nem os seus candidatos haveriam votado em si mesmos. Só resta especular quantos votos de Xiomara Castro foram retirados das urnas.
Libre ganhou nas ruas, mas não organizou uma rede de fiscais para garantir a lisura do processo. Confiou, em sua ampla maioria, na inverossímil “imparcialidade” do TSE e do governo diante de uma eleição que o imperialismo e a oligarquia hondurenha não podiam perder, porque Washington jamais aceitaria um resultado contrário aos seus interesses na região.
O primeiro passo da estratégia norte-americana para impedir um revés político foi a campanha de difamações contra Xiomara e seu partido. O segundo, a organização fraudulenta da apuração e contagem dos votos. Terceiro, se os dois anteriores não bastassem: fraude em todo o processo eleitoral e manipulação do Congresso para impedir a vitória do partido Libre, pois, se no caso de uma vitória da oposição, provocariam sua destituição “legal” assim como fizeram com seu esposo, Manuel Zelaya.
Até agora a direita se apegou à fraude, dando a conhecer cifras que não correspondem à realidade, e que os meios hegemônicos de comunicação atestam como verdadeiras. O partido Libre terá que recuperar nas ruas o que lhe roubaram nas urnas.
Como teria reagido a suposta imprensa livre e independente do continente se os vícios, fraudes e crimes perpetrados em Honduras tivessem acontecido na Bolívia, Equador ou na Venezuela? A gritaria dos defensores do imperialismo e de seus aliados teria sido ensurdecedora. No entanto, agora mesmo nesses meios de comunicação impera um silêncio cúmplice porque em Honduras vale tudo. Por quê? Porque, assim como Israel, é a peça chave para garantir o equilíbrio geopolítico do Império no Oriente Médio, Honduras o é para a América Central, porque nesse país é onde se concentra o grosso do poder de fogo estadunidense na região. E assim como Washington não permaneceria nem um minuto de braços cruzados perante um eventual triunfo de uma easquerda anti-imperialista em Israel, se envolveu descaradamente no processo político interno de Honduras para garantir um resultado de acordo com seus interesses estratégicos na região. Menos mal que há alguns dias, na OEA, John Kerry disse que está superada a Doutrina Monroe!
* Diretor do PLED, Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.
Fonte: http://www.atilioboron.com.ar/2013/11/honduras-una-eleccion-robada.html

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Contra a criminalização dos movimentos sociais. Todo apoio às lutas da juventude e do proletariado. Pelo Poder Popular!


(Nota Política do PCB)
As lutas sociais vêm se intensificando de maneira expressiva no Brasil após as extraordinárias jornadas que se iniciaram em junho. Como o governo não atendeu as reivindicações populares e como a população, especialmente a juventude, perdeu o medo de se manifestar, o conflito social tem se tornado cada vez mais explosivo em várias cidades do País, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Todo dia em alguma cidade brasileira a população proletarizada e a juventude saem às ruas para protestar contra alguma arbitrariedade do governo e do capital, fecham rodovias, paralisam a circulação de mercadorias, enfrentam as forças policiais, sendo reprimidos violentamente.
Enquanto isso, o governo federal e os governos estaduais, numa santa aliança do grande capital, afiam seus instrumentos políticos, militares e de inteligência para reprimir os movimentos sociais. A esta estratégia se juntam os meios de comunicação de massas desenvolvendo uma grande campanha de manipulação no sentido de caracterizar as manifestações de massas como atos de vandalismo, depredações e caos. Para tanto, procuram criar bodes expiatórios, para esconder o descontentamento da população, justificar a violência policial contra os manifestantes e afastar a população das ruas.
No entanto, cada vez fica mais claro para o povo que a origem da violência são as dramáticas condições de vida da população brasileira,que enfrenta cotidianamente um transporte coletivo caótico e caro, a saúde e a educação indignas, a habitação precária e a violência policial nos bairros populares. Em vez de resolver esses problemas concretos do povo, o estado burguês, como sempre, trata a questão social como caso de polícia. Dessa forma, amplia a repressão contra a justa luta da população e da juventude por seus direitos sociais básicos e contra os desmandos policiais nos bairros das grandes cidades e até chamam o Exército e a Força Nacional para reprimir as greves e manifestações, como ocorreu recentemente nos protestos contra a entrega do petróleo ao capital.
Essa é a tradição das classes dominantes brasileiras, que foram viciadas historicamente na impunidade e na violência contra o proletariado e atualmente vêm realizando uma verdadeira guerra aberta conta o povo. Isso pode ser sintetizado em recente entrevista do governador de São Paulo, após o massacre de jovens pela polícia. Arrogante, ele disse:“quem não reagiu está vivo”,  numa autorização à barbárie. Nessa guerra, a polícia utiliza armas letais, carros blindados, balas de borracha, gás lacrimogêneo e de pimenta, bombas de efeito moral e todo um aparato bélico para enfrentar a população e os manifestantes, além do fato de que ainda infiltra agentes provocadores nas manifestações para justificar a repressão. Todos são testemunhas das prisões em massas nos recentes protestos, dos assassinatos e da violência, sobretudo contra jovens pobres e negros,vítimas principais da polícia, sem direito de defesa e mais ainda a “embargos infringentes”.
Alguns exemplos concretos podem ilustrar a barbárie contra a população e a juventude. Recentemente, o ajudante de pedreiro Amarildo foi torturado até a morte numa Unidade de Polícia “pacificadora” do Rio de Janeiro. Em São Paulo, um policial matou com um tiro no peito jovem Douglas Rodrigues numa batida policial, sem nenhum motivo. “Por que o senhor atirou em mim?” foram as últimas palavras do jovem antes de morrer. Durante as manifestações de junho a polícia atirou com balas de borracha e cegou dois manifestantes, um estudante e um fotógrafo.
Portanto, essa é a verdadeira violência, a violência institucionalizada, a violência do Estado e do capital. O que é mais desumano? Quebrar algumas agências de banco, lojas comerciais e bater num policial que estava provocando os manifestantes ou a tortura até a morte do ajudante de pedreiro Amarildo, o assassinato do jovem Douglas Rodrigues ou furar os olhos de dois jovens?  Portanto, a violência da população não é nada mais nada menos que a resposta às atrocidades de que cotidianamente são vítimas o proletariado  e a juventude nos bairros populares.
Essa conjuntura é que provocou o surgimento de diversos grupos e táticas que identificamos como anticapitalistas, incluindo os chamados Black Blocs, que vêm dando resposta violenta à violência da polícia, expressando a indignação da juventude contra a repressão permanente ao povo, contra as humilhações cotidianas das batidas policiais nos bairros e as precárias condições de vida da população. Os jovens e os proletários não querem mais ver seus irmãos, amigos e conhecidos serem assassinados nesta escalada da criminalização da pobreza. Esses grupos combativos de jovens são um fenômeno social e não podem ser tratados como marginais, nem criminosos. São jovens indignados com a violência do capital, que imaginam estar contribuindo para o enfraquecimento do capitalismo com ações espetaculares, de pequenos grupos ousados. Os jovens comunistas, nas manifestações populares, perfilam lado a lado com esses grupos na autodefesa contra a violência policial.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) tem longa experiência de luta contra o capital. Sabemos que só as lutas que envolvam grandes massas, com protagonismo da classe operária e dos trabalhadores em geral, são capazes de derrubar o capitalismo. Por isso, procuramos organizar os trabalhadores, a juventude e o povo pobres dos bairros para derrotar o sistema capitalista. Entendemos que os Black Blocs, anarquistas e outros grupos que se formam em função da resistência à violência policial não são nossos inimigos, como alguns setores da esquerda institucionalizada procuram fazer crer. São companheiros que utilizam uma tática diferente da nossa, mas merecem respeito e solidariedade e temos a obrigação de dialogar com esses segmentos e procurar trazê-los para a luta organizada de massas.
Entendemos que a luta de classes mudou de patamar no País e tende a se acirrar à medida em que a crise econômica mundial avança e que a crise social se intensifica no Brasil. É bom que a esquerda institucionalizada vá se acostumando com a resposta das massas à violência do Estado. As jornadas de junho foram apenas o começo de um processo que será longo, violento e tenso, como toda a luta de classes. Como organização revolucionária, nós estaremos sem vacilações na linha de frente das lutas sociais e políticas no Brasil, procurando contribuir para a organização e autodefesa do povo e construção do poder popular, no rumo da sociedade socialista.
Contra a criminalização dos movimentos sociais!
Toda solidariedade aos que estão na luta anticapitalista!
Pela libertação dos presos políticos e o fim dos processos judiciais!
Pelo Poder Popular!
PCB (Partido Comunista Brasileiro)
Comissão Política Nacional
(novembro de 2013)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

PCB LANÇA MAURO IASI PRÉ CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


A Comissão Política Nacional do PCB, reunida nesta data, conforme decisão do Comitê Central, submete à apreciação da militância do Partido, de seus amigos e aliados, a proposta de lançamento da pré-candidatura do camarada Mauro Iasi à Presidência da República, levando em conta as seguintes razões principais:
  • A necessidade de fazermos um contraponto à escancarada antecipação da campanha eleitoral de 2014, um teatro de mau gosto em que predominam falsas divergências entre políticos e partidos burgueses, negociatas, barganhas e toda sorte de cenas da mesma novela bianual da disputa por espaços na máquina estatal;
  • O desinteresse dos partidos com os quais compartilhamos a oposição de esquerda em construir uma frente permanente programática, para a unidade na luta para além das eleições e dos partidos com registro. Desde 2006, o PCB insiste nesta proposta, recusando-se a formar coligações efêmeras, engendradas às vésperas das eleições e apenas em função delas;
  • A necessidade de apresentarmos um programa político que denuncie a opressão e a violência do capitalismo e contribua com a construção do Poder Popular, dialogando com todos e todas cujas vozes se levantam nas ruas, respeitando suas formas de luta e sua recusa em participar do jogo institucional burguês;
  • O fato de a pré-candidatura de Mauro Iasi vir brotando da militância e de simpatizantes do PCB, inclusive angariando a simpatia de outros setores progressistas e de esquerda, desencantados com a postura eleitoreira de partidos e movimentos, parlamentares e candidatos de plantão.
Assim sendo, a CPN, ouvido o Comitê Central, resolve iniciar um processo de discussão no interior do Partido a respeito desta proposta, recomendando que os Congressos Regionais do PCB, que se realizarão no próximo mês de novembro em todo o país, nos marcos do XV Congresso Nacional do PCB, repercutam esta proposta, sem perder a centralidade dos debates no temário principal do Congresso.
O lançamento da pré-candidatura própria do PCB não é um expediente para barganhar com os partidos da oposição de esquerda, com os quais queremos construir uma frente de unidade na luta cotidiana, a partir das bases. Nos Estados em que essa unidade já se desenvolve, devemos estimular a possibilidade de alianças nas eleições regionais.
Nos dias 7 e 8 de dezembro próximo, mais uma vez o Comitê Central estará reunido e dedicará um espaço em sua agenda, voltada para o XV Congresso e outros temas, para conhecer a repercussão da proposta nas bases e, se for o caso, dar outros passos no sentido da pré-candidatura do camarada Mauro Iasi.
Comissão Política Nacional do PCB
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2013