sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DIÁLOGO DE PAZ NA COLÔMBIA – VITORIA DAS FARC, DERROTA DO GOVERNO



imagemCrédito:Diarioliberdade.org
Os Editores de odiario.info
A inesperada assinatura em Havana de um protocolo entre representantes das FARC e do governo colombiano para a abertura de um diálogo de paz suscitou uma onda de comentários contraditórios.
Influentes media europeus identificaram no acontecimento uma vitória do governo de Juan Manuel Santos. Tal conclusão revela desconhecimento da realidade colombiana. Na realidade as FARC alcançaram uma grande vitória política.
O início de conversações com o actual governo susceptíveis de conduzir ao fim do conflito colombiano foi formulado em Agosto de 2011 pelo comandante-chefe das FASRC, Alfonso Cano. Três meses depois caiu combatendo durante uma grande ofensiva do Exercito. O presidente Santos afirmou então que a alternativa para as FARC era escolher entre «el carcere  y la tumba».
O novo comandante-chefe, Timoleon Jimenez, Timochenko, reiterou porem o desejo de paz das FARC, sublinhando que não havia solução militar para um conflito que dura há meio século.
Nos últimos meses uma serie de ofensivas das FARC-EP infligiu grandes baixas ao Exercito abalado por escândalos relacionados com o envolvimento de generais no narcotráfico. O responsável pela Segurança foi inclusive extraditado para os EUA.
Uma sondagem recente revelou que 74% dos colombianos é favorável a um diálogo de paz com as FARC.
Nas Forças Armadas (mais de 400 000 homens) os generais ultra que acreditam ainda numa «solução militar» são hoje uma minoria. Nem as 7 novas bases norte-americanas, nem os heliportos na selva, nem os aviões e dispositivos electrónicos que identificam com precisão os acampamentos das FARC evitaram que estas adoptassem novas tácticas flexíveis que lhes garantiram em todas as Frentes a sobrevivência das suas colunas móveis.
A pressão das massas - o Movimento Colombianos para a Paz e o êxito da Marcha Patriótica - expressaram com clareza a condenação da guerra pelo povo e o seu desejo de paz.
Essa atitude foi decisiva para a súbita mudança de posição do Presidente Santos.
É significativo que o seu irmão, Enrique Santos, tenha sido um dos membros da delegação oficial, chefiada pelo ministro do Ambiente, que negociou em Havana o início do dialogo de paz, patrocinado pela Venezuela, pela Noruega e Cuba. Quatro destacados comandantes integraram a delegação das FARC-EP: Mauricio (el Medico), Rodrigo Granda, Marcos Calarcá e Andrés Paris.
Ontem em Bogotá, o Presidente Santos numa breve declaração afirmou que o seu objectivo é agora a conquista da paz e que o diálogo com as FARC prosseguirá em Oslo, em Outubro, regressando depois a Havana.
A notícia foi recebida com júbilo pelo povo colombiano e desagrado em Washington.
Os sectores ultra da oligarquia criticaram com dureza o presidente, sublinhando que a abertura de conversações de paz com as FARC significam que na pratica o governo de Bogotá reconhece o estatuto de beligerante a uma organização que dias antes era qualificada de «criminosa» e os seus chefes de «assassinos» que tinham a cabeça à prêmio por milhões de dólares.
O ex- presidente Alvaro Uribe atacou pessoalmente Santos, acusando-o de dialogar com um «bando de terroristas».
De Washington chegam também criticas. Tudo indica que o governo Obama tentará impedir o êxito do diálogo de paz.
É oportuno recordar que em 1998 foi criada no departamento do Caquetá uma zona desmilitarizada -equivalente a metade de Portugal - controlada pelas FARC-EP. O presidente André Pastrana encontrou- se aí com Manuel Marulanda e, após demoradas negociações, o governo tinha quase aprovado uma plataforma política que implicaria mudanças sociais e politicas revolucionárias. Mas cedeu a pressões dos EUA e em 2002 rompeu o diálogo, invadiu e ocupou a zona desmilitarizada.
O desenvolvimento da situação criada pela abertura do diálogo é imprevisível. Mas é transparente que as FARC-EP alcançaram uma grande vitória. Por si só, o início do diálogo com as FARC como força beligerante configura uma derrota inocultável do governo. Enterra o mito calunioso que as apresentava como organização terrorista e narcotraficante.
Os Editores de odiario.info

Mídia calunia Anita Prestes



Crédito: PCB
Revistamirante.wordpress.com
Só hoje Mirante assistiu, exposto no YouTube, ao vídeo que documenta a infâmia levantada contra a historiadora Anita Leocádia Prestes por órgãos da grande mídia corporativa. Quando se pensa que já atingiram o limite mais torpe da baixeza, eles conseguem ir mais baixo ainda. Tentaram envolver no escândalo do dito “mensalão”, do modo mais fraudulento e hipócrita que se possa imaginar, a filha de dois heróis da história brasileira, Olga Benário e Luís Carlos Prestes, e ela própria pessoa com história honrada de revolucionária, docente universitária e escritora.
É de espantar que não tenham ainda protestado em massa os jornalistas que, embora trabalhando em jornais e TVs prostituídos, mantêm ou deveriam manter sua própria dignidade e não podem ser cúmplices, ainda que por omissão, de procedimento tão sórdido. Editor de Mirante, sou jornalista sindicalizado há mais de 50 anos, com orgulho por minha profissão de origem; conheci e conheço muitos jornalistas honrados, que dignificam a categoria, e sei que há milhares de outros que, por sua formação de caráter, deveriam protestar. E a ABI, da qual sou associado igualmente há décadas, que é presidida por um dos mais brilhantes e dignos jornalistas que conheci, Maurício Azedo – de quem muito estimo ter sido companheiro de trabalho na imprensa comunista nos anos 1950 e amigo a vida inteira –, e tem na sua diretoria dezenas de outros altivos companheiros, tomou a atitude de protesto veemente que lhe cabe tomar?
Assista aqui à exibição da fraude editada pelo blog davidperez no YouTube, que finaliza com um espaço de adesão ao manifesto de solidariedade a Anita Prestes.
A solidariedade a Anita Leocádia Prestes é neste momento uma forma de expressão por excelência do movimento democrático no Brasil, por repudiar a manipulação grosseira dos bens públicos na área de telecomunicação por grupos monopolistas de direita, que facilmente se associam ao fascismo e ao belicismo imperialista estadunidense.
O mesmo blog davidperez divulga no YouTube, num vídeo elaborado pela Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados, uma entrevista com Anita Leocádia Prestes sobre sua vida e a de seus pais, que atravessa e ilustra 80 anos da história brasileira. Embora em dois momentos seja questionável (ao admitir verdade no argumento dos militares golpistas de que havia preparação de golpe no governo João Goulart, em 1964, e ao afirmar que a política do PCB contra a ditadura militar confiava apenas em alianças com a burguesia, quando na verdade essa política era centrada no movimento de massas da classe trabalhadoras), o depoimento de Anita Prestes é em conjunto documento de alto valor histórico, e também de qualidade técnica, que deveria ser visto por adultos e exibido nas escolas, uma vez que à maioria de nosso povo, especialmente aos jovens, é negado, senão pervertido, o conhecimento da história política de nosso país. Veja a entrevista a seguir.
http://revistamirante.wordpress.com/2012/08/29/midia-calunia-anita-prestes/

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Venezuela: acidente ou sabotagem?



imagemCrédito: Operamundi
Emanuel Cancella*
É preciso refletir sobre o acidente na maior refinaria do mundo, Amuay, situada na cidade de Ponto Fijo, na Venezuela, que deixou um saldo de 48 mortos e dezenas de feridos.
Em primeiro lugar, o acidente evidencia os riscos a que estão expostos os petroleiros. Quem trabalha no setor petróleo, através de seus sindicatos, está sempre a cobrar políticas de segurança que assegurem a saúde e a integridade física tanto dos trabalhadores como dos moradores que vivem no entorno das refinarias e fábricas.
Na Venezuela como no Brasil as nossas pautas de reivindicação vão além da questão remuneratória. No Brasil, os petroleiros da Petrobrás, que no momento estão em campanha salarial, entregaram suas reivindicações à empresa desde 16 de agosto e há capítulos inteiros sobre a falta de segurança no trabalho.
No entanto, mesmo com todas as precauções, o trabalho é de risco e os acidentes acontecem. No caso do incêndio na refinaria da Venezuela, alguns aspectos não podem ser ignorados.
O país está em ano eleitoral e o candidato Hugo Chávez se mantém com vinte pontos percentuais à frente de seu concorrente. De forma oportunista e desumana, parte da imprensa venezuelana tenta tirar proveito eleitoral desse drama, jogando a culpa do acidente nos petroleiros e no governo Chávez.
Vale lembrar um fato significativo da história recente da Venezuela: em 2002, alguns petroleiros da PDVSA “vendidos” ao capital estrangeiro queriam privatizar a companhia e apoiaram o “lockout” contra Chávez, chegando a paralisar as refinarias. Chávez precisou agir com firmeza, demitindo os conspiradores e passando o controle da empresa para as mãos daqueles que enfrentaram os sabotadores.
Desde sábado, quando começou o incêndio Amuay, os mesmos petroleiros que no passado enfrentaram os sabotadores estão tentando, de todas as formas, debelar o fogo, o que fazem com muito empenho e competência. Em pouco tempo será possível retomar as atividades da refinaria. Já os sabotadores preferem envenenar a opinião pública, correndo para abastecer a mídia de opiniões e informações infundadas, sequiosos de se aproveitar da tragédia para reverter índices eleitorais.
Também é necessário fazer-se um paralelo com o Paraguai. O presidente Lugo foi derrubado em decorrência de um golpe parlamentar, depois de um conflito agrário que resultou na morte de vários camponeses, a pretexto de ter sido incapaz de conter o conflito.
No caso do Paraguai,  desde 2009 o WikiLeaks já denunciava que, dos Estados Unidos, o golpe contra Lugo estava em gestação. No caso da Venezuela, o jornal espanhol “El País”, publicou, em 2006, matéria sobre um videojogo fabricado nos Estados Unidosque tinha como objetivo derrubar o governo venezuelano. Os vilões da história eram os “rojos” – vermelhos – e parte do jogo propunha um ataque à refinaria de Amuay:
Para nós, fica difícil deixar de considerar algumas hipóteses: diante desses antecedentes, faltando 40 dias para as eleições presidenciais, um acidente de tal proporção terá sido, de fato, mera coincidência? Fica no ar a pergunta: acidente ou sabotagem?
Toda a solidariedade dos petroleiros do Brasil aos mortos, feridos e a seus familiares!
Emanuel Cancella é Secretario Geral do Sindipetro-RJ e diretor da Federação Nacional dos Petroleiros

Colômbia: PCB presente em ato da Marcha Patriótica



imagemCrédito: PCB
Ocorreu nessa última sexta-feira, 24 de agosto, nova manifestação do maior movimento social da atualidade na Colômbia, a Marcha Patriótica. A atividade, que reuniu diversas organizações sociais que lutam contra o estado beligerante e oligárquico presente na Colômbia e pela efetiva construção de um caminho que ponha fim a mais de 5 décadas de guerra civil no pais, contou com a participação do PCB.
Integrante da Comissão Política Nacional do PCB, Fabio Bezerra envia de Cartagena de Las Índias, na Colômbia, as seguintes informações sobre o evento:
"Cerca de 10.000 pessoas vindas de todas as partes da nação, inundaram a Praça da Paz, no centro histórico de Cartagena de Las Índias, com seus cantos regionais, palavras de ordem, bandeiras e estandartes diversos com muita alegria e disposição em construir um novo capítulo na História da luta politica e social desse país que traz em sua História a tradição da resistência e da rebeldia contra as forças opressoras e escravocratas desde os tempos do império espanhol.
Cartagena, não foi escolhida ao acaso para ser a sede desse importante e significativo evento. Foi nessa cidade que no final do século XVIII a população local se levantou contra a dominação colonial espanhola derrotando pela primeira vez as garras do imperialismo ibérico no continente, servindo de exemplo para múltiplas outras rebeliões populares em toda a província de Nova Granada e região.
Assim como há mais de dois séculos, milhares de jovens, indígenas, mulheres, campesinos, operários e artistas astearam novamente a bandeira da liberdade e da rebeldia, dessa vez contra o poder insolente das elites locais associadas ao imperialismo norte-americano e contra todas as contradições sociais causadas por esse poder constituído em Colômbia que gera o conflito armado , a miséria e o atraso social de um dos países mais ricos em recursos minerais da América Latina.
O evento contou com a presença de delegações estrangeiras de mais de 15 países da América Latina além de entidades de classe de diversas categorias, movimentos em defesa dos direitos humanos e partidos progressistas de vários países.
Em meio a atos culturais e musicais celebridades locais como a senadora Piedad Córdoba e o cantor cubano Pablo Milanes se pronunciavam frente aos manifestantes, firmando sua militante solidariedade.
A Marcha Patriótica luta pela segunda e definitiva independência da Colômbia; uma independência politica e econômica frente ao poder do imperialismo e a subserviência das elites colombianas à dominação dos cartéis de drogas e das trasnacionais capitalistas sobre o seu território.
A Marcha é formada por dezenas de organizações sociais que representam as diversas lutas e resistências populares contra a ordem vigente. Em uma demonstração de força e unidade que há muito não se via, o ato inaugural do "encontro" da Marcha em Cartagena, mobilizou a atenção de todos os povos caribenhos e deixou claro a todo o mundo que em Colômbia um novo polo de luta combativo e de massas se constrói junto a classe trabalhadora e em especial sob os ombros de uma juventude aguerrida e ciente de suas tarefas históricas.
Nem os helicópteros e a grande quantidade de agentes da polícia nas ruas foi capaz de intimidar o ímpeto daqueles que saíram dos quatro cantos do país, atravessaram as cordilheiras, a floresta amazônica em viagens que duraram cerca de 4 a 5 dias, para soltarem em bom e alto som gritos como: " alerta, alerta, alerta que camiña... La espada de Bolíva, por América Latina... E tembla e tembla e tembla imperialista, que a América Latina, se vuelve socialista"!!!
No sábado e no domingo, os cerca de 8000 participantes do evento, se dividiram entre nove mesas temáticas que ao término dos debates, aprovavam documentos base de ações táticas e objetivos para cada um dos desafios e metas trilhados pela organização da Marcha para por em curso a disputa política contra o poder da burguesia e seu representante, o presidente Santos.
Temas como : Saúde, Acesso à educação de qualidade, Juventude e Mundo do Trabalho, Mulheres, Ações no campo, Alternativa frente a Guerra Civil, Desenvolvimento Sustentável, Retirada das Bases Militares Norte-americanas e Autonomia Nacional, foram algumas das temáticas que envolveram os participantes.
Ao término, um documento de princípios de unidade tática e estratégica foi assinado pelas organizações populares e um documento de solidariedade internacional assinado pelas organizações parceiras da Marcha na AL e Europa, que terão como uma das suas tarefas, construir agendas de solidariedade e divulgação da Marcha Patriótica em seus respectivos países.
"De La Praça da Paz , que nesses dias também é a praça da esperança por uma América Latina unida e socialista, seguimos lutando e construindo o futuro".
Fábio Bezerra (membro da Comissão Política Nacional do PCB)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

FARC-EP: Sobre o nosso caráter político



imagemCrédito: 4.bp.blogspot
Somos um movimento de esquerda que luta pela superação do modelo econômico e político existente e por uma nação plena de dignidade e soberania.
As FARC-EP são acusadas de duas coisas. A primeira, de ser o pau que trava a roda para um verdadeiro desenvolvimento e consolidação da esquerda na Colômbia, e a segunda, de ser os artífices do paulatino giro da vida política para formas abertas de fascismo durante a última década. 
As FARC-EP somos uma tranqueira que impede o avanço das tendências de esquerda na Colômbia?
A pergunta surge, ao nosso ver, de duas situações: o desconhecimento sobre a nossa história e atividade como organização revolucionária, de um lado, e pelo outro, uma obvia intenção de desligar-nos do campo das esquerdas na história do nosso país. É como se nosso surgimento e desenvolvimento obedecessem a uma sorte de geração espontânea militar única na história universal.
A realidade contrasta com o anterior. Nossa história é produto da convergência das mais diversas expressões das lutas sociais do povo colombiano. Se analisamos o caso dos nossos dois maiores timoneiros, Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas, veremos que se juntaram às lutas dos colonos camponeses liberais e comunistas da cordilheira central e o turbilhão proletário do povo santanderiano. Dois homens, duas cordilheiras, duas lutas transformadas em uma nas trincheiras de Marquetália.
No processo de surgimento das frentes e companhias das FARC obtêm-se muitas das tradições político-culturais do campo popular colombiano. Assim é como contamos com camaradas oriundos do movimento indígena, dos campesinato rebelde, da luta estudantil, dos afrodescendentes, mulheres rebeldes, do proletariado, dos intelectuais, artistas e do movimento cooperativo.
Vale a pena rever um pouco de historia
O assassinato de Rafael Uribe Uribe, a perseguição a tiros e a conversão em assunto de guerra do socialismo revolucionário de Maria Cano, o massacre das bananeiras, a cruzada santa decretada contra o jovem Partido Comunista por Laureano Gómez, o assassinato de Jorge Eliécer Gaitán e subsequente período denominado de “A Violência”, assim como a perseguição internacional dos partidos políticos colombianos empreendida pro Rojas Pinilla, junto das suas selvagens guerras contra Villarrica e Sumapaz, constituem acontecimentos de profunda repercussão na Colômbia, todos ocorridos antes da existência das FARC.
A repressão contra a esquerda, o assassinato seletivo dos seus líderes e a busca do desmembramento de suas organizações tem sido uma constante de longa data na história colombiana, cuja responsabilidade recai diretamente no regime reacionário e antidemocrático. E, o mais importante, esta constante não foi interrompida com o surgimento das guerrilhas revolucionárias, incluindo obviamente as FARC-EP.
A perseguição sistemática contra a União Patriótica, Luchar e o Frente Popular, assim como a desatada contra inúmeras organizações civis, sindicais, camponesas, étnicas ou comunitárias, não pode ser examinada como processos isolados ou casualidades políticas, mas como exercício continuo da repressão antipopular e retrograda que sempre imperou na Colômbia.
Quando o povo ainda chorava, a plêiade de grandes dirigentes assassinados pelo militarismo, nos anos 80, uma Assembléia Nacional Constituinte, convocada com o estilo bombástico de quem pretende chamar a atenção pelo fato de gritar e não pelo que grita, proclamava a Carta Magna de 1991. Esta era a premissa para a imposição imperialista das políticas neoliberais, que significavam o saque aberto do patrimônio e recursos da Colômbia.
Esta Constituição não foi o momento nem o cenário para uma verdadeira construção da paz, pelo contrário, foi o carimbo perfeito para a cooptação de um importante setor do campo popular que se convertia agora em defensor da suposta legitimidade do Estado. A dispersão da esquerda não foi imposta pela insurgência, mas patrocinada pelo regime.
Eis ai outro sinal que os nossos críticos pretendem ignorar. Por que não falam da cooptação de dezenas de intelectuais e analistas, antes ultra revolucionários e incendiários, pelas instituições, a academia e os meios de comunicação? Por que iludem a atuação corrupta e reacionária de uma grande parte dos integrantes de grupos revolucionários que renunciaram à luta e se acolheram à desmobilização? O governo de Álvaro Uribe não esteve repleto de ex-revolucionários? Hoje, Santos não consulta sua política de segurança com aqueles que, há vinte anos, o consideravam um oligarca?
Este tipo de acontecimento não pode ser visto como uma simples sucessão de coincidências, vocações tardias ou refluxos ideológicos. Trata-se de outra estratégia chave do funcionamento do Estado contra a unidade das esquerdas colombianas. A infiltração, a delação, a perfídia e o engano têm sido tretas permanentes que fizeram florescer ciclicamente o oportunismo e a divisão da esquerda. O atual debate permite elucidar novos elementos nesta longa história de traição.
É necessário ressaltar que as FARC-EP têm participado ativamente dentro do campo das esquerdas colombianas desde a sua fundação.
Com as comunidades camponesas de Marquetália, El Davis e Riochiquito, de maioria liberal, somente a esquerda colombiana e mundial se manifestaram solidárias. Os partidos tradicionais do Frente Nacional incitaram a desocupação, o despojo e a sevicia contra alguns lavradores e indígenas que se negavam a entregar anos de árdua colonização. Esse mérito marcou nosso rumo na luta pela paz, a democracia e o socialismo. O camarada Jacobo enfatizava em Riochiquito, há mais de quarenta anos, que a solução dos problemas das massas camponesas somente podia ocorrer a partir do triunfo de um frente político, que incluísse todas as esquerdas e os verdadeiros democratas e patriotas do nosso país.
Na União Patriótica, na Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolivar e muitos outros espaços de convergência e unidade temos manifestado nosso caráter definido de combatentes pela liberdade e pela construção de uma Nova Colômbia.
Somos um movimento de esquerda que luta pela superação do modelo econômico e político existente e por uma nação plena de dignidade e soberania. Sabemos que estes objetivos não derivam de uma ação solitária da nossa parte. Por isso estamos abertos ao dialogo com todas as esquerdas.
Durante todos estes anos temos dialogado com diversos representantes da nossa esquerda. Maoistas, marxistas-leninistas, socialistas, trotskistas, socialdemocratas, indigenistas e muitas outras vertentes, em espírito de solidariedade, respeito e franca critica. Esta tradição, que sem duvida, tem tido pausas lamentáveis dentro do contexto político pátrio, não pode ser abandonada e seremos reiterativos nela.
Não se pode achacar, de boa fé, a responsabilidade plena sobre o desenvolvimento atual da esquerda colombiana. Certamente teremos uma carga determinada, mas a magnitude desta teria de ser elucidada em um debate franco e coletivo de todas as organizações que constituem o campo popular e das esquerdas do nosso país.
Ao nosso ver, os que mantêm a existência de uma estendida e generalizada crise da esquerda colombiana, são os mesmos que a concebem simplesmente como uma representação parlamentar, assumindo que o êxito ou fracasso está no número de cadeiras e na popularidade das pesquisas. A esquerda real não se circunscreve unicamente ao cenário eleitoral, mas tem um componente vivo, móbil e mutável no agitado universo dos movimentos sociais.
É ai onde qualquer observador acostumado encontrará que na Colômbia se vivencia um florescimento de ricas e novas experiências organizativas dentro do campo popular, que se manifestam em heterogêneas manifestações de movimentos, convergências, expressões e plataformas que saudamos com a alegria de quem encontra novos amigos e companheiros para sua luta diária. As FARC-EP não vêm neste crescente e novo turbilhão popular um inimigo ou um contrário.
As FARC-EP são coadjuvantes da extrema direita na Colômbia?
Quiséramos partir de uma afirmação categórica. Quem sustenta esta teoria são, fundamentalmente, os porta-vozes da socialdemocracia e o liberalismo.
Assim, cada vez que atuamos militarmente, em ações legitimas próprias da guerra de guerrilhas, pululam críticos e analistas para nos apontar como sustentadores da pretendida validade de governos de mão de ferro e, como tranqueiras no caminho de uma suposta esquerda, descafeínada e a vácuo, que resulta não ser sequer oposição.
Trata-se de todas as luzes do roteiro das teorias da conspiração tão em voga nestes dias. Um grupo de revolucionários que combate contra o Estabelecimento, sua força militar e sue paramilitarismo, com o secreto fim de favorecer politicamente aos seus misteriosos e clandestinos amigos fascistas. Um livreto repleto de absurdos e contradições que somente pode caber na cabeça daqueles que pretendem que se continue com a falácia de nós rotularem como delinquentes sem princípios, que no passado tivemos origem revolucionária, mas que agora não somos mais do que vulgares narcotraficantes.
Tal hipótese se contradiz completamente com a realidade. Milhares de combatentes farianos lutam por toda a geografia nacional contra o fascismo e imperialismo, expondo suas vidas e entregando tudo pela revolução. A pergunta é: serão eles coadjuvantes, agentes conscientes ou colaboradores telepáticos do projeto da extrema direita?
Façamos um exercício de memória político-militar. Em 1999, surgiu o Bloco Calima realizando massacres, execuções, torturas e violações na região centro-oriental do Valle del Cauca. Suas ações criminosas, abertas e escandalosas, não foram em momento algum repelidos pelo Exército ou Polícia, nem muito menos rechaçados publicamente pelos poderes locais e regionais. Foram os homens e mulheres do Bloco Móvel Arturo Ruiz, o Comando Conjunto do Ocidente e integrantes do então existente Movimento Jaime Bateman Cayón, que enfrentaram eficazmente as tropas fascistas, levando-as à sua completa derrota e ao fracasso do seu projeto nessa parte do país. 
Terá sentido afirmar que isto permitiu o fortalecimento de tendências de direita na região? Que levou à consolidação de grupos fascistas em Valle del Cauca?
Está claro que, no andaime discursivo montado pelos grandes meios contra as FAR-EP, existem duas práticas de uso intenso:
A primeira, de uso corrente e orientada ao público popular, é o discurso do narcoterrorismo que não é mais do que a readaptação do clássico terror vermelho da Guerra Fria, que bebe nos mais retrógrados mitos do anticomunismo.
A segunda, segundo a qual a guerrilha teria, nesta versão, origens medianamente justos, ofuscados infelizmente pelo desenvolvimento ulterior, a adoção do narcotráfico como suposta forma de vida e a conversão numa difusa máquina de guerra, ao mesmo tempo petrificada e míope politicamente, assim como macabra no plano militar. Dentro desta trama os guerrilheiros seriamos simples fichas dos truculentos comandantes que, além disso, buscam contribuir com suas ações ao fortalecimento do seu inimigo.
Que projetos passam pela mente daqueles que defendem semelhante hipótese?
Montanhas da Colômbia, agosto de 2012 https://blogger.googleusercontent.com/tracker/2891208492651262968-2349150470738846148?l=farccom.blogspot.com
(*) Pablo Catatumbo é integrante do Secretariado das FARC-EP

domingo, 26 de agosto de 2012

PCB cria a sua Comissão da Verdade



imagemCrédito: lh6
(Nota Política do PCB)
O Comitê Central do PCB decidiu compor uma Comissão da Verdade própria para pesquisar, organizar e produzir um relatório sobre os crimes cometidos pelo Estado e seus agentes durante a ditadura militar-empresarial que tomou de assalto de forma golpista o poder no país no período entre 1964 e 1985.
O órgão terá seu funcionamento e trabalhos organizados de forma coletiva pelo próprio Comitê Central. De acordo com o secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, a medida visa garantir que todos os atos cometidos contra o Partido e seus militantes durante aqueles anos dramáticos sejam levados ao conhecimento público.
"Temos razões para suspeitar que a Comissão da Verdade criada pelo Governo Federal possa não trazer resultados que contemplem os anseios por informação dos familiares de mortos, desaparecidos e torturados por aquele regime ditatorial. O Partido toma como sua a luta dessas pessoas; o arbítrio cometido a todo e qualquer militante de nossas fileiras é o arbítrio contra o PCB, seu ideário e sua prática cotidiana de organização do povo em prol de sua libertação. Nosso Comitê Central assume como das maiores responsabilidades e principais tarefas do presente esclarecer o que precisa ser trazido ao conhecimento da população", ressaltou Ivan.
A iniciativa prevê a pesquisa e coleta de informações e documentos, além de entrevistas e a produção de um relatório que deverá ser encaminhado à Comissão da Verdadecriada pelo governo.
"Fomos a organização que mais teve militantes sofrendo as agruras da Ditadura. Mais de uma dezena de nossos camaradas continuam desaparecidos, outras dezenas foram assassinados, centenas, quiçá milhares, sofreram torturas, outros milhares foram prejudicados em seus empregos, em sua vida familiar", comentou o secretário-geral.
Dessa forma, o PCB conclama os militantes daquele período que ainda se encontram em nossas fileiras, aos familiares, amigos e colegas de nossos militantes que foram prejudicados pela ditadura, a entrarem em contato com o Partido para que possamos organizar um relatório o mais completo possível.
Solicitamos a qualquer cidadão que tiver informações a respeito do tema, e desde já lhe agradecemos por isso, que entre em contato com o PCB.
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Secretariado Nacional
"O recebimento de informações e materiais será centralizado pelo Secretariado Nacional do PCB, que é contactado através do e-mail pcb@pcb.org.br e/ou do telefone (21) 2262-0855."

Cuba: Uma escola de solidariedade!



Crédito: PCB
Documentário sobre os brasileiros estudantes de medicina em Cuba e o Projeto da Escola Latino-americana de Medicina. Essa é uma produção coletiva de diversos estudantes brasileiros em Cuba e do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva-NESC, que contou com o apoio do cineasta cubano Ruben J. Perez, que contribuiu com seu conhecimento e experiência sem cobrar um centavo, por pura convicção do caminho escolhido pelo povo Cubano há mais de 50 anos.
Viva ao Povo Cubano!
Viva à Revolução!
Viva a solidariedade entre os povos!

sábado, 18 de agosto de 2012

CUT apoia pacote de privatizações de Dilma




As medidas de estímulo à economia anunciadas nesta quarta-feira (15) pelo governo federal são positivas. Esta foi a avaliação dos dirigentes da CUT, Vagner Freitas, Presidente; Carmen Foro, Vice-Presidente; e Sérgio Nobre, Secretário Geral, que participaram de reunião com os ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria geral da Presidência da República, e Leonel Brizola Neto, do Trabalho e Emprego, e o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, antes da Presidenta Dilma Rousseff anunciar oficialmente o Programa de Concessões do Governo Federal.
A reportagem é de Marize Muniz e publicado pelo portal da CUT, 15-08-2012.

Para eles, no entanto, não basta garantir que o programa gere mais emprego, como enfatizaram Carvalho e Augustin. “É preciso garantir a criação de emprego de qualidade, trabalho e renda decente e organização no local de trabalho. E essas exigências têm de estar no bojo do programa”, cobrou Vagner.
O ministro Gilberto Carvalho, que convidou representantes da CUT e das demais centrais sindicais para conhecer as medidas, afirmou que ainda é possível aperfeiçoar a proposta e se comprometeu a levar as reivindicações dos dirigentes para a presidenta. “As críticas e sugestões que vocês fizerem podem contribuir para esse aperfeiçoamento”, garantiu o ministro.
O secretário do Tesouro Nacional, que detalhou o programa para os dirigentes sindicais, explicou que a crise vai continuar e por isso é necessário alavancar rapidamente a economia com medidas na área de logística, infraestrutura, ferrovia e rodovia e a maneira encontrada para reduzir os custos e acelerar os investimentos foi o Programa de Concessões. Segundo ele, o objetivo é enfrentar a crise e manter o emprego e a capacidade de crescimento do país.
O governo anunciou a duplicação de 5.700 quilômetros de rodovias e a construção de 10 mil quilômetros de ferrovias, através de PPP - Parceria Público Privada. As concessões ao setor privado estão estimadas em R$ 133 bilhões ao longo dos próximos 30 anos. Desse total, serão R$ 42 bilhões serão investimentos em rodovias e R$ 91 bilhões em ferrovias.
Vagner reafirmou que as medidas eram boas, mas incompletas. Para serem completas, disse ele, o programa tinha de ter um item relacionado aos direitos dos trabalhadores. Gilberto Carvalho, então, sugeriu a adesão das empresas ao Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da Construção, assinado este ano pela presidenta.
“Podemos discutir com a presidenta maneiras de evitar distorções”, disse o ministro se referendo as condições de trabalho e renda nas empresas que conseguirem concessão.  Os sindicalistas aprovaram a sugestão feita pelo ministro e disseram que é preciso construir essa proposta.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

PCV Alerta sobre o plano da direita para não reconhecer o triunfo revolucionário e gerar violência



imagemCrédito: PCV
Tribuna Popular
A resposta que o povo deve dar a estes planos desestabilizadores «em todos os níveis e em todos os âmbitos» é conquistar uma vitória contundente no dia 7 de outubro
Biró Político do Partido Comunista da Venezuela em roda de imprensa
Caracas, 13 ago. 2012, Tribuna Popular TP.- O Biró Político do Partido Comunista da Venezuela (PCV), lançou esta manhã um alerta nacional e internacional sobre planos da direita pró-imperialista para desconhecer o triunfo das forças revolucionárias no dia 7 de outubro e gerar um cenário de violência que permita a intervenção estrangeira em nosso país.
Assim deu a conhecer, Carlos Aquino, dirigente nacional do PCV, que assinalou que a tática da direita pró-imperialista está impulsionando da maneira sigilosa um plano para não reconhecer os resultados que emita o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e criar um clima de violência e desestabilização da legalidade vigente.
Aquino colocou como exemplo a campanha midiática que vem sustentando o candidato da burguesia e os que o apoiam «estão tentando criar uma imagem, que lhes custa sustentar, de que supostamente vem avançando e cruzado as linhas de aceitação da vontade popular e paralelamente uma campanha de desprestígio do árbitro eleitoral».
Para o PCV, esta crescente campanha tem o objetivo de que na noite de 7 de outubro, acusem o CNE de não dar a conhecer os verdadeiros resultados expressados nas urnas.
A resposta popular deve ser em todos os níveis
O Partido Comunista sustentou que a resposta que o povo deve dar a estes planos desestabilizadores «em todos os níveis e em todos os âmbitos» é alcançar uma vitória contundente em 7 de outubro «para buscar paralisar e deter as pretensões de desestabilização e de desconhecimento da institucionalidade legal e vigente por parte dos setores da direita.

“O novo país que queremos”



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Entrevista com Carlos A Lozano Guillén, diretor do VOZ e um dos principais dirigentes do Partido Comunista Colombiano
*Freddy Vallejo
Carlos Lozano é um dirigente polêmico do Partido Comunista Colombiano. Querido em seu partido, a ponto de ganhar a primeira votação na eleição do Comitê Central. Odiado por seus inimigos que diariamente o insultam e ameaçam de morte. Apreciado nos círculos políticos e sociais de todos os partidos e classes, onde se reconhecem seus dotes intelectuais e de insistente militante da paz. É bom de conversa e sabe escutar.
Queríamos entrevistá-lo a respeito do Congresso do Partido Comunista Colombiano, que ocorreu entre 17 e 22 de julho deste ano, mas foi uma longa conversa e a ela atravessaram outros temas da atualidade. Nós não pudemos evitá-lo.
P. Diz-se que os debates internos no Partido Comunista Colombiano são intensos, há rumores de divisões internas e facções que ameaçam a unidade. Como o XXI Congresso Nacional terminou? Quais são as decisões principais?
R. Claro que no Partido Comunista Colombiano, com a mais ampla participação de dirigentes e militantes, há debates internos, profundamente democráticos. Nada pior do que o reino da unanimidade. A unanimidade é antidemocrática, impede a liberdade de expressão e a liberdade de opinião. A política dos comunistas é construída coletivamente e sua formulação é a síntese do debate interno. Embora o partido não seja um clube de discussões. Adotam-se as decisões da maioria e estas valem para todo o partido. O Partido Comunista Colombiano tem apenas um programa, um só estatuto, uma única linha política e uma única direção nacional. Todos os dirigentes e militantes são obrigados a acatá-los, depois do processo democrático de discussão e aprovação dos documentos.
P. É o que vocês chamam de "centralismo democrático"?
R. Sim. É um princípio leninista de organização. O fundamento ideológico do Partido Comunista Colombiano é o marxismo-leninismo, entendido como uma teoria científica de aplicação concreta a realidades concretas. Sem critérios dogmáticos de qualquer tipo. Na hora da verdade, entendemos o marxismo-leninismo como uma teoria inesgotável, em permanente construção. A ideologia revolucionária é inesgotável, precisamente porque é dialética.
P. Bem, mas diga-me, quais foram as principais conclusões do Congresso?
R. Foi adotado o novo programa do Partido Comunista Colombiano, que é a linha estratégica, vigente para a realidade colombiana de acordo com nossa análise. O programa faz a radiografia política, econômica e social colombiana; da composição social e das características do bloco de poder dominante; do caráter do regime, dependente do imperialismo estadunidense e em função dos interesses do grande capital, especialmente do capital financeiro, da burguesia industrial e do poder terratenente no campo. Sobre esta base se formulam as mudanças e reformas que propomos, que têm o objetivo fundamental de atingir o socialismo, democrático e humanista por excelência. É a antessala do comunismo, que derrubará para sempre a exploração capitalista.
Foram aprovadas as reformas estatutárias para adequar a organização às mudanças reais institucionais, administrativas, políticas, sociais e econômicas do país, mas também para fortalecer a militância política e a ligação do partido com as massas. A ideia é de um partido inserido na luta popular e com absoluta vocação de poder.
Foi também aprovada a linha política. Esta contém as orientações para a ação imediata, a tática, que se sustenta nas seguintes bases: o enfrentamento ao modelo neoliberal de acumulação de capital, baseado na chamada economia de livre mercado capitalista; resistência popular à postura dominante de transferir o peso da crise nacional para colocá-lo sobre os trabalhadores e o povo; ação de massas e de mobilização popular com um programa mínimo, que não exclui a preparação e realização de uma greve cívica nacional em curto prazo; a luta pela paz, pela solução política e democrática do conflito colombiano, isto é, mobilização pela paz com democracia e justiça social; e da unidade da esquerda, a mais ampla unidade, com o entendimento de que apenas uma frente ampla, popular, social, democrática e de esquerda é a única maneira possível para forjar uma alternativa ao poder dominante burguês e oligárquico. Esta é a proposta de um novo país, sobre as bases no pluralismo, da participação democrática e de maior equidade social. Um novo "contrato social" baseado em uma melhor e mais justa ordem política, social e econômica.
Também foi eleito o Comitê Central, a Comissão de Quadros e Garantias e a Comissão de Fiscalização de Contas. Nós fizemos tudo sem dor, sem conflitos internos, sem debates amargos e sem grupos ou frações. Foram debates intensos, democráticos, sem restrições, mas criativos e construtivos, de modo que todos nós concordamos que foi um grande Congresso - alguns o qualificam como histórico. Foi um Congresso no calor da luta popular.
P. Pólo Democrático Alternativo ou Marcha Patriótica. Onde finalmente vai ficar o Partido Comunista Colombiano? (1)
R. Esse é o nosso dilema. A unidade que propomos é muito mais ampla, além do Pólo e da Marcha, porque não temos inimigos à esquerda. A chave para avançar até o poder democrático e popular está na unidade. Estamos no Pólo porque acreditamos que é um espaço válido de convergência de forças políticas avançadas, estamos cientes da sua crise, mas também da possibilidade de resolvê-la se forem feitos acordos com base na auto-crítica, segundo pede o professor Gaviria. O Pólo Democrático Alternativo tem um propósito, mas vai depender da sua capacidade de traçar uma política clara e definitiva de esquerda, de mudanças democráticas e de estreita relação com as massas populares. É ali que está a chave das alianças necessárias. Um Pólo descolado da realidade acredita que as alianças e acordos são negociados pelo topo, até mesmo com "empresários democráticos", e assim acabamos na "Unidade Nacional" ou numa outra história. O Pólo deve abandonar a idéia de que é uma máquina de eleições e um instrumento de endossos eleitorais. As eleições são importantes, ainda que problemáticas. Estão longe de serem expressão da democracia. Mas são importantes e permitem estar no espaço da representação parlamentar e dos cargos eletivos. E são insuficientes se não houver nenhuma relação com a luta e as aspirações do povo colombiano. Não basta ir a uma passeata ou um protesto, devemos ficar ao lado das massas, acompanhando e sofrendo com elas pelas razões que sofrem.
A Marcha Patriótica é um projeto social e político que não deve tirar o sono de certos dirigentes do Pólo. A base social são as organizações populares, ainda que tenha a presença de partidos como a Esquerda Liberal, de Piedad Córdoba, e do Partido Comunista Colombiano. O mais importante é a presença de cerca de 2.000 organizações de base, nacionais e regionais, de todos os tamanhos. É o que garante a sua estreita relação com as lutas diárias do campo e da cidade. Seu chamado é pela mais ampla unidade da esquerda e de setores democráticos e progressistas. Então, como pode ver, não há pontos contraditórios, são complementares. Deste modo não vemos nenhum problema em ficar no Pólo e em ajudar no projeto social e político da Marcha, defendendo a ampliação para outros setores, como o Congresso dos Povos e a Minga. O Pólo deve olhar para estes lados também, porque se se impõe a idéia de se aproximar do centro, acabaria descaracterizando-se, renunciando à sua condição de força de esquerda. Era esta a diferença com Lucho Garzón e com Gustavo Petro e veja onde acabaram se estabelecendo. Um está na "Unidade Nacional" e o outro muito próximo a ela.
P. O Moir acaba de enviar ao Partido Comunista uma carta convidando-o a retirar-se do Pólo; o mesmo enquadramento, eles dizem, fez o ex-candidato presidencial Carlos Gaviria Diaz na Conferência Ideológica do PDA. Como responde o PC?
R. Bem, até onde eu sei nunca recebemos a carta. Ela foi publicizada e comentada numa notícia. É uma falta de cortesia que na política também existe. Mas, contudo, devemos dizer, o que deu ao Moir o direito de decidir quem pode ou não pertencer ao Pólo Democrático Alternativo? A velha militância maoísta deixou-lhes o hábito de agir como guardas vermelhos das organizações de unidade e convergência. É uma falta de respeito. Quem não se sente confortável com um partido ou aliado do PDA deve deixá-lo, pois quem a ele se juntou voluntariamente, da mesma forma decide sobre sua permanência. Até onde sei, o professor Carlos Gaviria Diaz não fez tal manifestação na Conferência Ideológica, mas deu suas opiniões, às quais tem direito, claro, e com as quais nós não compartilhamos, para o que também temos direito. Esta situação não muda em nada o nosso respeito, apreço e simpatia para com o professor Gaviria.
P. Quais são as diferenças?
R. O professor sugere que a Marcha não explicou bem a sua relação ou não com as FARC; e recorreu ao velho e anacrônico argumento da combinação das formas de luta, sempre referindo-se à extrema-direita e aos militares para justificar a eliminação da esquerda e da União Patriótica. Mais de mil vezes os porta-vozes da Marcha Patriótica declararam que não existe nenhuma ligação com as FARC, sua causa é a paz, a solução política e democrática para o conflito. A Marcha não defende a guerra, é um movimento social e político civil de atuação pública e legal. O que mais querem? O que mais deve ser dito para satisfazer as suspeitas? O resto é repetição das acusações falsas e perigosas dos militares e da ultra-direita criminosa.
Mas o que discutir sobre a combinação das formas de luta? Há de se abrir o debate sobre o novo Estado a ser construído com base na eliminação da violência na relação entre governantes e governados. Aqui a violência foi inventada pelo Estado burguês-terratenente, porque a classe dominante é acostumada a governar por meios repressivos, autoritários e violentos. Na Colômbia não existe um Estado democrático, mas totalitário, que se baseia em meios violentos para aniquilar o opositor. O Pólo tem sido sua vítima. Perseguição e linchamento político com enorme respaldo midiático para liquidá-lo. Precisamente, por isso o tema em debate não é a combinação das formas de luta, mas a necessidade da paz, através do diálogo, da construção da democracia e da justiça social.
P. A esquerda tem futuro?
R. É claro. Mas uma esquerda ávida por mudanças; uma esquerda comprometida com a transformação revolucionária da sociedade. Não uma esquerda light, adocicada, compromissada com o poder dominante e com ilusões de alianças com "burguesias nacionais" que não existem. Um esquerda com seu próprio projeto democrático e social. Haverá sempre espaço para a esquerda. Enganam-se os ideólogos de direita e da pseudo-esquerda que após a queda do Muro de Berlim declararam a morte do socialismo e mesmo da história. Norberto Bobbio os desmascarou e mostrou que o par esquerda-direita está vigente e que as ideologias não desaparecem no calor da luta ideológica, dos retrocessos e avanços.
P. Uribe e Santos estão enfrentando um confronto agudo. Algumas personalidades, inclusive da esquerda, dizem que vão mediar para que resolvam suas diferenças. O que você acha disso?
R. Mediar para quê? São contradições na classe dominante, em duas frações do bloco hegemônico, uma que representa a burguesia tradicional, de tintas aristocráticas, e outra decomposta, mafiosa, que recorre a tudo que pode para destruir o adversário. Santos a teme e por isso não a enfrenta com decisão. São, na verdade, diferenças de forma, que podem agravar-se ainda mais, tornando-se perigosas. A esquerda nada tem que fazer ali, não é seu tema, deve concentrar-se no projeto alternativo e unitário. Preparar-se para ser opção de poder. Veja você a abordagem enganosa do vice-presidente, que consiste em sentar Santos e Uribe numa mesa, para que entrem em acordo sobre a Constituinte uribista que não busca outra coisa além de uma nova reeleição de Uribe Vélez. Quem disse que as divergências de Santos e Uribe significam o principal problema do país? Por favor: devemos ser sérios e responsáveis sobre as funções do Estado.
P. Vamos falar sobre a paz. Você vê possibilidades de um futuro diálogo entre o Governo de Santos e as FARC?
R. Não há uma outra saída para o conflito atual que não seja através da via política, do diálogo, pacífico e democrático. A paz está estreitamente ligada ao fortalecimento da democracia e da justiça social. O conflito colombiano tem suas causas e enquanto elas não forem resolvidas, a paz vai ser difícil. A relutância do establishment em modificar as causas do conflito é a razão para que ele permaneça: a paz não virá de graça, não creio, porque seria uma espécie de Pax Romana. Se o Governo acredita que o diálogo é negociar a rendição dos rebeldes, perderá tempo. Por aí não está a porta para a paz. A chave é abrir a discussão ao país, com a participação de toda a sociedade.
P. Alguns dizem que já há um diálogo secreto. O que você sabe a respeito?
R. É provável que sim, para construir uma agenda. Mas não o sei com exatidão. De toda maneira há, sim, essas aproximações, que me parecem boas porque as FARC e o ELN têm feito manifestações expressas de disposição ao diálogo e à busca da solução política e se conhecem sinais evidentes, que para o Governo não são suficientes, mas são importantes e até históricas. Quem está em dívida, a propósito das sinalizações, é o Governo, que insiste na guerra, no neoliberalismo e em entregar o país às transnacionais.
P. E cabe no processo o ELN? Porque os rumores são de aproximação com as FARC.
R. Bem, o diálogo deve ser com as FARC e o ELN. Não teria sentido falar com um e excluir o outro.
P. Humm... Dizem que você sabe bastante mais sobre isso...
R. Não acredite tanto nisso. O importante é que a paz está no centro do debate e será inevitável que em curto tempo abra-se o cenário de diálogo para a democracia e a justiça social. Da paz com democracia e justiça social depende o bem-estar do país. Com paz, a Colômbia se converterá em um país viável.
P. Afinal, a saída será possível com o presidente?
R. Por fim vai se impor o realismo político e humanista. A paz é uma necessidade para o país. Apenas os torpes, os míopes políticos, os belicistas veementes, não entendem que o tema da paz ou da guerra é o principal dilema da Colômbia. Disto depende o futuro luminoso de nosso país.
P. O que pensa das FARC-EP?
R. É uma organização política e militar que surgiu em consequência da violência do Estado dominante e da exclusão social. Tem sido protagonista de primeira linha na história deste país durante mais de meio século, é uma realidade que não se pode ignorar. À sua existência há de se buscar soluções e estas estão na via política e não numa guerra absurda.
P. Você compartilha de seus métodos?
R. Não compartilho de seus métodos, mas entendo sua existência do ponto de vista histórico e sociológico. É uma posição de uma visão intelectual e acadêmica. Se a oligarquia colombiana não tivesse recorrido à violência para manter-se no poder e preservar o regime plutocrático de privilégios, não existiriam as FARC. Não faço apologia da guerra, mas sou obrigado a fazer uma leitura séria do conflito colombiano, mesmo que isso me traga problemas, ameaças e até processos judiciais. As ideias não se vendem, não se mudam por pressões e intimidações.
P. Como está o panorama do país em dois anos do Governo Santos? Coincide com as histórias felizes de Santos ou com as críticas de Uribe?
R. Não coincide nem com Santos, nem com Uribe. Uribe critica Santos apesar de terem a mesma política, porque quer submetê-lo, dominá-lo, tal como se acostumou. Acredita-se um messias, “predestinado pela providência”. Mas o país não o vê com bons olhos. Está muito longe de ser o país das maravilhas que nos querem mostrar no balanço da metade do período presidencial. A realidade é outra muito diferente, o crescimento econômico somente beneficiou os poderosos, porque a pobreza se mantem igual e cada vez é menor a renda real dos colombianos. Acreditar, como o DANE [Departamento Administrativo Nacional de Estatística], que uma família com renda de $ 170 mil pesos mensais não é pobre é uma estupidez. O presidente Santos tem uma ideia da democracia como valor unânime, ao estilo da Unidade Nacional que controla 93% do Congresso, sendo a maioria de corruptos. Patética a fracassada reforma da Justiça. Quis dar conta de todos os poderes do Estado e a coisa se saiu mal, resolvendo então rasgar as roupas. O país vai mal, a economia vai mal e as condições sociais vão piores. Os únicos felizes são os beneficiários das vantagens do modelo de acumulação, dos TLC [Tratados de Livre Comércio] e dos negócios que derivam das transnacionais que levam a riqueza nacional e deterioram o meio ambiente.
P. A América Latina não é mais o quintal dos Estados Unidos. Mas também não se vêem grandes revoluções ou insurreições populares. Como você analisa a situação do continente?
R. Na América Latina está hoje o elo mais fraco do imperialismo dos EUA. Como você disse, a América Latina já não é o quintal ianque, porque a maioria dos povos perdeu a paciência com tantos anos de infâmias e de governantes submissos ao jugo de Washington. Os Estados Unidos nunca fizeram nada de positivo para o continente e o vêm perdendo gradualmente. Hoje predomina uma tendência mais emancipatória, de defesa da soberania nacional, da auto-estima, e convencida de que pode-se caminhar apenas com a ajuda mútua a nível regional. Somente governos fantoches como o da Colômbia acreditam que o destino está intimamente ligado à Casa Branca.
Não se trata de romper com os Estados Unidos, mas de tratá-lo de igual pra igual, sem apequenar-se e sem pusilanimidade. As potencialidades da América Latina e do Caribe unidos, como o sonhou o Libertador Simón Bolívar, estão demonstrados e é o desejo da maioria, como podemos notar através da UNASUR, da CELAC, ALBA e outras formas de integração regional sem a tutela gringa. Aqui há demasiados recursos, que se podem colocar numa bolsa comum latinoamericana e caribenha para negociar de igual para igual com o Norte, incluindo a Europa. Os TLC são instrumentos coloniais e formas desiguais de mercado. Dá vantagens às economias poderosas que pretendem nos trazer à força suas transnacionais cheias de voracidade. A Colômbia tem que colocar-se neste caminho dos processos democráticos e emancipadores. É o desafio que tem a esquerda.
P. Que opinião merecem os indignados? A Europa está em crise?
R. O capitalismo está em crise. É uma crise sistêmica e histórica, o que não quer dizer que esteja à beira do abismo. Pode superar a crise, mas está demonstrado que o capitalismo fracassou historicamente. Nas condições da unipolaridade não foi capaz de resolver os conflitos sociais porque, é óbvio, sempre se inclina a favorecer os sujos, os capitalistas. Na Europa pretendem resolver a crise às expensas do povo e dos trabalhadores. É indignante. Apareceram os Indignados como expressão da inconformidade. Rechaçam o capitalismo, extravasam sua raiva contra o setor financeiro, o pior de todos no capitalismo, parasitas e exploradores como cafetões, exercendo a resistência civil através da ação de massas, mas não têm alternativa. Os resultados eleitorais na Espanha e Grécia, favoráveis à direita, responsáveis pela crise, são decepcionantes. De alguma maneira os Indignados com seu discurso antipolítico fazem o jogo do capital que tanto depreciam. Mas é um movimento importante, que reflete a ira e o desespero popular ante os abusos do capital.
Bogotá D.C. 06 de agosto de 2012
(1) – Esta entrevista é anterior à decisão do Pólo Democrático Alternativo de expulsar os membros do PCColombiano de suas fileiras, alegando “dupla militância”, em função de o Congresso do Partido ter decidido pela participação na Marcha Patriótica.